Inicio / Fantasia / Emeraude: Herdeira do Grito / Capítulo 4 - A Primeira Ceifadora: A Morte na Escola
Capítulo 4 - A Primeira Ceifadora: A Morte na Escola

Desde a visita à Fenda dos Sussurros, Emeraude não era mais a mesma.

O mundo ganhara contornos novos — os sons pareciam mais profundos, como se houvesse algo sussurrando por trás de cada palavra dita em voz alta. No espelho, por vezes, via um reflexo ligeiramente atrasado, como se outra versão de si estivesse sempre um passo atrás... ou adiante.

Lirien intensificou os treinos. Voz, concentração, audição. Ensinar a Emeraude a separar os ecos do presente dos sussurros do além era um desafio que exigia mais do que disciplina — exigia coragem.

Mas nem Lirien estava preparada para o que viria.

Na noite do equinócio, enquanto Emeraude descansava no jardim, sob a figueira ancestral dos Lewis, uma presença atravessou o limiar do mundo silenciosamente.

A grama secou sob seus pés. O ar ficou rarefeito. E o luar pareceu fugir do céu.

Ela chegou.

Uma mulher de aparência espectral, alta, com pele pálida como marfim antigo, os olhos negros como túmulos abertos e cabelos prateados que se arrastavam no vento como véus de névoa.

Vestia um vestido cinzento, colado ao corpo, e trazia nas mãos uma foice de ossos retorcidos.

— Emeraude Lewis — disse ela, com uma voz que soava como vento passando entre lápides. — Estou aqui para ver se tua alma já aprendeu a gritar... ou se ainda é apenas um sussurro.

Emeraude ficou paralisada.

— Quem... quem é você?

— Sou Moira, a primeira das ceifadoras. Aquela que escuta antes da morte chegar. Aquela que vem buscar o que está em desequilíbrio. E tua existência, garota... é um erro na balança da Morte.

Lirien apareceu logo em seguida, emergindo das sombras como se tivesse pressentido o perigo.

— Moira! Você não tem permissão para interferir!

— Ela gritou, Lirien. E ao gritar, despertou antigos acordos. Há algo em sua linhagem que não deveria existir. A fenda reagiu. O Véu enfraqueceu.

Emeraude se sentiu vacilar. A presença da ceifadora era sufocante, como se a própria morte estivesse tocando sua espinha.

— Não escolhi nascer assim — disse ela, tentando manter a voz firme.

— Mas escolherá o que fará com o que é — respondeu Moira, girando lentamente a foice. — Em breve, serás levada a um limite. Verás alguém morrer. E tua decisão determinará se caminhas com os vivos... ou entre os mortos.

Ela estendeu um dedo longo e gelado, tocando a testa de Emeraude. No mesmo instante, a jovem viu flashes:

Uma escola em chamas. Um grito preso na garganta. Um corpo caindo. Olhos suplicantes.

E então... tudo sumiu.

Moira desapareceu como fumaça em tempestade.

Lirien correu até Emeraude, que agora sangrava pelos ouvidos.

— Ela te marcou... — murmurou a anciã, assustada. — O teste começa agora.

Emeraude respirou com dificuldade. No fundo de seus olhos de mel, algo novo ardia.

Não era medo. Era o pressentimento de que a Morte estava prestes a bater à sua porta... e dessa vez, queria mais do que sussurros.

A segunda-feira chegou com um silêncio estranho, quase ritualístico. O céu de Ravenshall estava limpo demais, o sol brilhava como se quisesse disfarçar o que se escondia nas sombras.

Emeraude caminhava pelos corredores do Colégio Saint Marlow com os sentidos em alerta. Tudo nela gritava que algo estava prestes a acontecer. Os alunos riam, cochichavam segredos, trocavam bilhetes — todos alheios à presença invisível que deslizava pelas paredes como uma serpente de névoa.

Durante a aula de Literatura, Emeraude ouviu.

Um sussurro.

Mas não qualquer um. Era nítido, abafado, como um soluço vindo de um outro plano. Ela virou o rosto. O som vinha de perto. Muito perto.

Da fileira ao lado.

Théo Warren.

Era um dos garotos mais discretos da escola. Inteligente. Gentil. Silencioso como um poema não lido.

Emeraude o olhou e viu — pela primeira vez — uma sombra pairando sobre seus ombros. Como um corvo de fumaça, o presságio se aninhava ali, invisível para todos, exceto para ela.

Seu coração acelerou. A premonição que Moira avisara estava se desenrolando. A morte viera assistir à aula.

Na saída, ela o seguiu.

Théo estava estranho. Andava rápido, tropeçando nos próprios pensamentos. Em um momento, parou ao lado da escadaria que levava ao antigo ginásio — uma área interditada há anos por causa de um desabamento parcial.

Emeraude se aproximou.

— Théo?

Ele virou o rosto, pálido.

— Você... você também ouviu, não é?

Ela congelou.

— O que ouviu?

— Uma voz. Me chamando... Ela disse que minha dor ia acabar ali. — Ele apontou para o ginásio.

A jovem sentiu os ecos ficarem mais fortes, como agulhas contra o crânio.

“Agora. Vai acontecer agora.”

Sem pensar, correu e segurou o braço de Théo antes que ele pulasse.

O garoto tremia.

— Eu... eu só queria que parasse — murmurou.

Emeraude, com lágrimas nos olhos, liberou o grito. Mas desta vez, não foi para anunciar a morte.

Foi para impedi-la.

O som foi puro e cortante, como um trovão invertido. Rompeu o véu entre os mundos e fez as janelas estremecerem. A sombra sobre Théo dissipou-se como poeira na luz.

Ele caiu de joelhos, chorando. Vivo.

Emeraude sentia o peito queimar. Usar o grito para mudar o destino era como atravessar fogo com os pulmões abertos. Mas funcionou.

De longe, uma figura observava: Moira, a ceifadora. Ela sorriu de lado.

— Ela escolheu. Pela vida. — E desapareceu nas brumas da manhã.

Emeraude sabia que aquela era apenas a primeira de muitas mortes que cruzariam seu caminho. Mas também sabia que, naquele dia, o mundo havia mudado.

Ela era mais que uma anunciadora da morte.

Ela era uma desafiadora do destino.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP