Desesperada por dinheiro, Mary aceita um contrato de casamento de fachada com o bilionário Ethan Carter. O que começa como um negócio frio logo se complica pela inesperada atração que surge entre eles. Em um mundo de luxo e segredos, Mary descobre a vulnerabilidade por trás da fachada de Ethan, enquanto ele se encanta com sua autenticidade. Mas será que um amor verdadeiro pode florescer de um contrato com prazo determinado?
Ler maisO envelope cor de marfim parecia pesado demais para o seu tamanho, repousando sobre a mesa gasta da cozinha de Mary como um prenúncio. Seus dedos hesitavam em tocar o selo de cera com as iniciais entrelaçadas, um "EC" elegante que parecia zombar da sua atual situação financeira, tão precária que mal conseguia pagar o aluguel do minúsculo apartamento que dividia com a saudosa lembrança de sua avó.
Suspirou, a visão embaçada pelas lágrimas que teimavam em cair. A pequena floricultura que herdara da avó, seu refúgio e fonte de alegria, estava afundando em dívidas. A pandemia havia dizimado os eventos, as encomendas diminuíram drasticamente e os credores não paravam de ligar. A cada toque do telefone, seu estômago se contorcia em um nó de ansiedade.
Com um tremor nas mãos, finalmente rompeu o selo. Dentro, o papel de alta gramatura exalava um perfume sutil e caro. As palavras impressas em uma fonte clássica pareciam frias e formais, contrastando com o desespero que lhe apertava o peito. Era o contrato. O famigerado contrato.
Ela releu a primeira cláusula, os olhos percorrendo as linhas nítidas: "Contrato de Matrimônio por Prazo Determinado entre Ethan Carter, doravante denominado 'o Contratante', e Mary Oliveira, doravante denominada 'a Contratada'..."
Ethan Carter. O nome ecoava nos noticiários, sinônimo de riqueza estratosférica, impérios empresariais e um charme frio e inacessível. Um bilionário recluso, cuja vida pessoal era tão blindada quanto seus arranha-céus de aço e vidro. E agora, ele estava propondo a ela, Mary Oliveira, uma florista falida do subúrbio, um casamento de fachada.
A proposta havia chegado uma semana antes, através de um advogado impecavelmente vestido que parecia deslocado demais em seu apartamento acanhado. A princípio, Mary pensou que fosse um engano, uma piada de mau gosto. Mas a seriedade do advogado e a quantia astronômica oferecida em troca de um ano de casamento a fizeram engolir a descrença.
Um milhão de dólares. A cifra dançava diante de seus olhos, um oásis miragem em seu deserto financeiro. Com aquele dinheiro, ela poderia saldar as dívidas da floricultura, talvez até mesmo expandir o negócio que sua avó tanto amava. Poderia respirar aliviada pela primeira vez em meses.
Mas o preço... o preço era alto. Abrir mão de sua liberdade, viver sob o mesmo teto que um estranho, fingir um amor que não existia. A ideia a repugnava, mas o desespero era um motivador poderoso.
As cláusulas seguintes detalhavam os termos do acordo com uma precisão cirúrgica. Deveres da Contratada: comparecer a eventos sociais ao lado do Contratante, manter uma imagem pública condizente com o status de esposa de um bilionário, residir na propriedade do Contratante. Deveres do Contratante: prover suporte financeiro à Contratada conforme estipulado, garantir sua segurança e bem-estar durante a vigência do contrato. Cláusula de confidencialidade absoluta sobre os termos do acordo e a vida pessoal do Contratante. Penalidades severas em caso de quebra de contrato por qualquer uma das partes.
Mary sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Era tudo tão frio, tão transacional. O amor, o companheirismo, os laços afetivos que ela sempre imaginou em um casamento eram completamente ausentes. Era puramente um negócio, uma troca de favores. Ela ofereceria a fachada de uma esposa, e ele lhe daria a salvação financeira.
Nos dias que se seguiram à proposta, Mary havia se debatido com a decisão. Conversou com a memória da avó, imaginando o que ela diria. Sua avó, uma mulher de coração caloroso e princípios firmes, provavelmente a repreenderia por considerar tal artifício. Mas Mary também se lembrava da preocupação nos olhos da avó quando a floricultura começou a declinar, da tristeza silenciosa ao ver o sonho de sua vida murchar.
Se aceitasse o contrato, estaria traindo seus próprios valores? Estaria se vendendo? A reposta era dolorosamente sim. Mas a alternativa – ver o trabalho árduo de sua avó se esvair, afundar em dívidas e perder tudo – era igualmente insuportável.
Na noite anterior à sua decisão final, Mary teve um sonho vívido com a avó. No sonho, elas estavam juntas no jardim da floricultura, as mãos cobertas de terra, o ar perfumado pelas rosas. A avó sorriu, seus olhos azuis brilhando com uma sabedoria gentil. Ela não disse nada, apenas apertou a mão de Mary, transmitindo um calor reconfortante. Mary acordou com uma estranha sensação de paz, como se tivesse recebido uma bênção silenciosa.
Agora, com o contrato em suas mãos, a decisão parecia inevitável. Era a sua última esperança, um bote salva-vidas em meio a um mar de dificuldades. Ela pegou a caneta sobre a mesa, a ponta pairando sobre a linha de assinatura. Sua mão tremia levemente. Respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções que a invadia.
Assinou.
A assinatura, um rabisco hesitante em contraste com a caligrafia elegante do contrato, selou seu destino. Mary Oliveira, a florista falida, estava agora contratualmente ligada a Ethan Carter, o bilionário enigmático.
Dois dias depois, um carro preto e luxuoso parou em frente ao seu prédio modesto. Um motorista uniformizado a esperava, a porta traseira aberta como um portal para um mundo desconhecido. Mary olhou para trás, para a fachada desbotada do prédio que fora seu lar por tantos anos. Uma pontada de nostalgia a atingiu, mas ela a reprimiu. Não havia volta.
A viagem até a mansão de Ethan Carter pareceu durar uma eternidade. As ruas familiares deram lugar a avenidas largas e arborizadas, ladeadas por casas imponentes com portões de ferro forjado. Finalmente, o carro parou diante de um portão eletrônico que se abriu silenciosamente, revelando uma propriedade vasta e isolada, cercada por muros altos e árvores centenárias.
A mansão que surgiu à frente era ainda mais impressionante do que Mary imaginava. Uma estrutura imponente de pedra clara, com janelas amplas que refletiam o céu azul. Jardins impecáveis se estendiam por toda parte, com fontes elegantes e esculturas discretas. Era um mundo de opulência silenciosa, distante anos-luz da sua realidade.
Uma governanta de aparência severa, chamada Sra. Davies, a recebeu na entrada com uma formalidade fria. Ela a conduziu por corredores espaçosos, decorados com obras de arte abstratas e móveis de design minimalista. O silêncio era quase palpável, quebrado apenas pelo eco de seus próprios passos nos pisos de mármore polido.
O quarto que lhe foi designado era maior que seu apartamento inteiro. Uma cama king-size com lençóis de seda dominava o centro, e uma parede inteira era composta por janelas com vista para os jardins. Havia um closet espaçoso, já com algumas peças de roupas elegantes que ela nunca poderia ter sonhado em comprar. Um banheiro luxuoso com uma banheira de hidromassagem completava o ambiente. Era tudo tão... impessoal.
Naquela noite, Mary jantou sozinha em uma sala de jantar formal, a mesa posta para duas pessoas. A ausência de Ethan Carter era quase física, um vazio que pairava no ar. A comida era requintada, mas ela mal conseguiu engolir. A solidão naquele ambiente luxuoso era opressora.
No dia seguinte, Sra. Davies informou que o Sr. Carter a receberia em seu escritório às dez da manhã. Mary passou a manhã explorando a mansão, sentindo-se como uma intrusa em um museu particular. Cada objeto parecia ter uma história, uma aura de riqueza e poder que a intimidava.
Às dez em ponto, respirou fundo e se dirigiu ao escritório, seguindo as instruções da governanta. A porta maciça de madeira escura parecia um portal para o desconhecido. Hesitou por um momento antes de bater.
Um "Entre" seco ecoou do outro lado. Mary girou a maçaneta e entrou.
O escritório era um espaço amplo e elegante, com uma parede de vidro oferecendo uma vista panorâmica da cidade. Uma mesa de mogno imponente dominava o centro, coberta por papéis e um laptop sofisticado. Atrás da mesa, sentado em uma cadeira de couro, estava Ethan Carter.
Era ainda mais imponente pessoalmente do que nas fotos que Mary vira na internet. Alto, com ombros largos e uma postura que exalava autoridade. Seus cabelos escuros eram penteados para trás, revelando uma testa alta e um olhar penetrante. Seus olhos, de um azul acinzentado intenso, a analisaram com uma frieza calculada.
Ele vestia um terno impecável, a camisa branca contrastando com a gravata escura. Havia algo nele que emanava poder, uma aura de controle absoluto. Mas Mary também percebeu uma sombra em seus olhos, uma tristeza fugaz que desapareceu tão rápido quanto surgiu.
"Srta. Oliveira," sua voz era grave e formal, sem qualquer traço de emoção. "Obrigado por vir."
"Sr. Carter," Mary respondeu, sua voz um pouco trêmula.
Ele gesticulou para a cadeira à frente da mesa. "Por favor, sente-se."
Mary obedeceu, sentindo-se pequena e insignificante sob o olhar inquisitivo de Ethan Carter. O contrato havia sido assinado, mas a parte mais difícil, a convivência, estava apenas começando. E ela tinha a terrível sensação de que havia entrado em um jogo muito mais complexo do que jamais poderia ter imaginado. O brilho falso do ouro do contrato já começava a lançar sombras inquietantes sobre seu futuro.
O silêncio que se seguiu à confissão de Ethan na biblioteca não era um vazio, mas um espaço preenchido pela intensidade avassaladora de suas palavras. O tempo parecia ter se estendido, as horas e os minutos dissolvidos em um instante eterno, enquanto Mary processava a magnitude do que acabara de ouvir. As camadas de segredos, a frieza inicial do contrato, a dor de seu passado, tudo se desdobrava diante dela, revelando um Ethan que era infinitamente mais complexo e vulnerável do que ela jamais imaginara. A mão dele, ainda sobre a sua, irradiava um calor que a ancorava naquele momento, impedindo-a de se perder no turbilhão de emoções.O olhar de Ethan, fixo no dela, era um misto de esperança e resignação, de um homem que havia arriscado tudo ao baixar sua guarda e agora aguardava o veredicto. Mary podia sentir a vulnerabilidade dele, a exposição que ele havia permitido, e isso a tocou de uma forma profunda. Não era mais o bilionário distante e calculista, mas um ser humano ferido, busca
A urgência sussurrada de Ethan – "Precisamos conversar" – vibrava no ar da noite, ressoando na mente de Mary enquanto o carro deslizava em silêncio quase reverente pela alameda arborizada, afastando-se do brilho ofuscante e da agitação artificial do baile de gala. O interior luxuoso do veículo parecia um casulo, denso com uma antecipação tensa que abafava qualquer som da cidade distante, transformando a jornada de retorno em um prelúdio carregado de significado. Mary sentia o coração acelerar, um ritmo descompassado de apreensão e uma estranha, quase assustadora, esperança se agitando dentro dela. Ela sabia, com uma certeza instintiva, que a conversa que se avizinhava seria um divisor de águas, e a gravidade silenciosa no semblante de Ethan, mesmo na penumbra discreta do carro, confirmava sua intuição mais profunda.Ao chegarem à imponente mansão, a quietude parecia ainda mais profunda, quase opressora, em contraste com a cacofonia festiva que haviam acabado de deixar. Ethan, com um s
Capítulo 10: Máscaras e Revelações no Salão de BaileO sorriso de Vivian Holloway, embora desenhado com uma perfeição social quase impecável, não alcançava a profundidade de seus olhos, que cintilavam com uma intensidade que Mary achou perturbadora. Um arrepio sutil percorreu a espinha de Mary enquanto ela percebia a maneira como Vivian sutilmente enfatizou a palavra "bem" ao se referir ao seu relacionamento com Ethan. Não era um elogio; era um desafio velado, uma nota dissonante na sinfonia perfeitamente orquestrada daquela noite."Vivian," Ethan cumprimentou, sua voz mantendo um tom cordial e formal, mas com uma rigidez quase imperceptível que Mary, agora atenta a cada nuance dele, notou de imediato. Ele deslizou a mão para a cintura de Mary, um gesto que, embora familiar nos eventos públicos, parecia naquele instante mais direcionado a Vivian do que a ela, uma marca de possessividade silenciosa. "Que bom vê-la.""Ethan, querido," Vivian respondeu, seu olhar de ônix demorando-se sob
A confissão hesitante de Ethan na quietude da biblioteca pairou entre eles nos dias que se seguiram, não como uma declaração completa e definitiva, mas como uma semente plantada em um terreno emocional fértil. Mary se viu constantemente revivendo suas palavras, a maneira como seus olhos escuros e profundos encontraram os dela, carregados de uma intensidade que transcendia em muito a frieza inicial de seu acordo contratual. No entanto, a menção explícita da proximidade do fim daquele arranjo lançava uma sombra densa e persistente de incerteza sobre qualquer tênue esperança que ousasse brotar no íntimo de seu coração.A rotina diária na opulenta mansão Carter prosseguia com uma cadência habitual, mas agora permeada por uma alteração sutil, quase imperceptível. Os olhares trocados entre Mary e Ethan carregavam um peso adicional, uma consciência silenciosa do terreno emocional instável em que se encontravam, equilibrando-se precariamente entre a fachada pública e a crescente intimidade pr
A perturbação semeada pela presença de Vivian Holloway floresceu nos dias subsequentes na mente de Mary, como uma erva daninha teimosa em um jardim bem cuidado. Ela se flagrava revisitando mentalmente cada interação, cada sorriso trocado entre Ethan e a elegante visitante, tentando decifrar a profundidade dos laços que os uniam. A imagem de um passado compartilhado, do qual ela era irremediavelmente excluída, lançava uma sombra de insegurança sobre a tênue intimidade que começava a florescer entre ela e Ethan.Buscando dissipar a crescente tensão e, talvez, obter alguma clareza sobre a misteriosa Vivian, Mary propôs a Ethan um passeio noturno pelos jardins da mansão. A escuridão suave era pontilhada pela luz tênue de luminárias estrategicamente posicionadas, criando um cenário de beleza melancólica. A brisa noturna carregava consigo o perfume adocicado das flores, e o murmúrio distante de uma fonte proporcionava uma trilha sonora suave para seus passos hesitantes.Eles caminharam lado
A atmosfera na imponente mansão Carter havia se transformado em algo mais sutil do que a mera formalidade inicial. Uma corrente de entendimento tácito, quase imperceptível aos olhos externos, agora ligava Mary e Ethan. O livro de poemas, um presente silencioso, repousava na mesa de cabeceira de Mary como um símbolo tangível de uma conexão que ousava florescer para além das frias letras do contrato. No entanto, uma cautela mútua pairava, como um véu fino, lembrando a ambos da fragilidade de seu arranjo e da incerteza do futuro.Uma tarde, buscando um respiro da opulência sufocante da casa, Mary encontrou consolo no calor úmido e no perfume exótico da estufa. Entre as folhas verdejantes e as cores vibrantes das flores tropicais, ela dedicava-se aos cuidados delicados das orquídeas. Foi ali que Ethan a encontrou, parado na entrada, observando seus movimentos suaves com um olhar contemplativo, distante."Minha mãe nutria uma paixão especial por orquídeas," ele comentou, a voz carregada de
Último capítulo