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Capítulo 2: Máscaras e Segredos

O silêncio no escritório era denso, carregado de uma formalidade fria que Mary nunca havia experimentado. Ethan Carter a observava com uma intensidade que a fazia se sentir dissecada sob um microscópio. Ela tentou manter a compostura, endireitando a postura na cadeira de couro que parecia engoli-la.

"Espero que sua acomodação esteja a seu contento, Srta. Oliveira," ele disse, a voz plana e desprovida de qualquer calor.

"Sim, Sr. Carter. É... muito confortável," Mary respondeu, evitando o contato visual direto. A verdade era que o quarto era opulento além de seus sonhos mais selvagens, mas também terrivelmente impessoal, como um quarto de hotel de luxo onde ninguém realmente vive.

"Ótimo." Ele juntou as mãos sobre a mesa, os dedos longos e elegantes entrelaçados. "Como sabe, este é um acordo estritamente profissional. Esperamos discrição e profissionalismo de ambas as partes."

"Entendo perfeitamente, Sr. Carter," Mary afirmou, tentando transmitir a seriedade que sentia. Ela sabia que este casamento era uma farsa, uma encenação para o mundo exterior. Seu papel era ser a esposa troféu, a figura elegante ao lado do bilionário recluso.

"Haverá eventos sociais, jantares de negócios... ocasiões em que sua presença ao meu lado será necessária. A Sra. Davies a informará sobre sua agenda e providenciará o que for preciso em termos de vestuário e acompanhamento."

Mary assentiu, absorvendo as informações. Ela imaginava os flashes dos paparazzi, os olhares curiosos, as perguntas indiscretas. A ideia a deixava desconfortável, mas ela sabia que fazia parte do acordo.

"Sua discrição é fundamental, Srta. Oliveira. Minha vida pessoal é... privada. Não tolerarei qualquer indiscrição ou especulação." O tom de Ethan era firme, quase um aviso.

"Pode ter certeza, Sr. Carter. Sou discreta," Mary garantiu, sentindo um leve ressentimento pela implicação de que ela poderia ser de outra forma.

"Excelente." Ele pegou uma pasta sobre a mesa e abriu-a. "Aqui estão alguns detalhes sobre sua história... seu passado. Para evitar inconsistências, é importante que estejamos alinhados."

Mary franziu a testa, confusa. "Minha história?"

"Sim. Onde se conheceram, como se apaixonaram... os detalhes triviais que a imprensa e a sociedade esperam. Preparei um esboço. Leia com atenção e familiarize-se com ele."

Ele lhe entregou algumas folhas datilografadas. Mary pegou-as, o papel frio em suas mãos. Seus olhos percorreram o texto, uma narrativa fabricada de um encontro casual em uma galeria de arte, um romance florescendo em meio a jantares românticos e viagens exóticas. Era uma fantasia elaborada, tão distante da sua realidade quanto a mansão em que agora se encontrava.

"Isso..." Mary começou, sentindo um nó na garganta. "Isso não é verdade."

"Eu sei," Ethan respondeu, sem qualquer emoção. "Mas é a narrativa que apresentaremos ao mundo. Quanto mais convincente formos, mais fácil será para ambos."

Mary engoliu em seco. Ela teria que fingir, mentir sobre sua própria vida, sobre como "conheceu" e "se apaixonou" por este homem frio e distante. A ideia a repugnava, mas ela sabia que não tinha escolha.

"Entendo," ela murmurou, a voz baixa.

"Haverá também um acordo pré-nupcial," Ethan continuou, pegando outro documento. "Já foi elaborado por meus advogados. Recomendo que o revise com seu próprio advogado, embora os termos sejam bastante claros."

Mary pegou o documento, o coração afundando. Um acordo pré-nupcial. Era mais uma prova de que este casamento não era sobre amor, mas sobre proteção de bens. Ela não o culpava, dada a sua fortuna, mas a formalidade fria de tudo aquilo a fazia se sentir ainda mais como uma mercadoria.

"Eu irei," ela respondeu, embora não tivesse ideia de como contrataria um advogado.

"Ótimo." Ethan se levantou. "Acredito que isso seja tudo por enquanto, Srta. Oliveira. Sra. Davies a informará sobre seus compromissos futuros."

O encontro foi breve, direto e incrivelmente impessoal. Mary se levantou, sentindo-se tonta e desorientada. Ela seguiu Sra. Davies para fora do escritório, o contrato e o acordo pré-nupcial apertados em suas mãos.

Nos dias que se seguiram, Mary tentou se adaptar à sua nova vida. A mansão era um labirinto de corredores silenciosos e salas opulentas. Ela passava a maior parte do tempo sozinha, explorando os jardins vastos e bem cuidados, sentindo-se uma prisioneira em uma gaiola dourada.

Sra. Davies era eficiente e impecável em suas funções, mas mantinha uma distância profissional intransponível. As outras empregadas eram igualmente reservadas, seus olhares carregados de uma curiosidade silenciosa. Mary sentia falta da atmosfera acolhedora e familiar de sua floricultura, das conversas com os clientes, do cheiro doce das flores.

Ethan Carter era uma figura fantasmagórica. Ela o via ocasionalmente durante o jantar, refeições silenciosas e formais onde mal trocavam palavras. Ele parecia absorto em seus próprios pensamentos, o rosto muitas vezes sombreado por uma melancolia distante. Mary percebia a vulnerabilidade por trás de sua fachada fria, mas não se atrevia a quebrá-la.

Um dia, Sra. Davies a informou que haveria um jantar de gala beneficente naquela noite, e que sua presença era esperada. O pânico tomou conta de Mary. Ela nunca havia participado de um evento tão sofisticado. A ideia de se misturar com a elite da cidade, fingindo ser a esposa apaixonada de Ethan Carter, era aterrorizante.

Sra. Davies providenciou um vestido elegante, um modelo longo de seda azul que realçava seus olhos. Maquiadores e cabeleireiros vieram à mansão para prepará-la. Mary se olhou no espelho, mal se reconhecendo na mulher sofisticada que via refletida. Era como se estivesse vestindo uma fantasia, interpretando um papel que não lhe pertencia.

Quando Ethan a encontrou na sala de estar antes de partirem, ele a observou com uma expressão indecifrável. Pela primeira vez, seus olhos pareceram deter-se nela por mais tempo, analisando-a de cima a baixo.

"Está... elegante, Srta. Oliveira," ele disse, a voz ligeiramente diferente do habitual.

"Obrigada, Sr. Carter," Mary respondeu, sentindo as bochechas corarem.

No carro, o silêncio era ainda mais opressor do que na mansão. Mary sentia o olhar de Ethan ocasionalmente sobre ela, mas ele não dizia nada. Ela se perguntava o que se passava em sua mente, que segredos se escondiam por trás de sua máscara de frieza.

O evento era um turbilhão de luzes, música suave e conversas animadas. Mary se sentiu deslocada e intimidada no meio da multidão de rostos conhecidos e vestidos deslumbrantes. Ela se agarrou ao braço de Ethan enquanto ele a conduzia pela sala, sorrindo e acenando para os convidados.

Ethan era um anfitrião impecável, charmoso e envolvente quando necessário. Ele a apresentava como sua esposa, e Mary forçava sorrisos e trocava cumprimentos educados, seguindo o roteiro da narrativa fabricada. Era exaustivo manter a fachada, fingir uma intimidade que não existia.

Em um momento da noite, enquanto Ethan conversava com um grupo de empresários, Mary se afastou para um canto mais tranquilo. Ela observava as pessoas ao seu redor, as risadas fáceis, os abraços calorosos. Sentia-se uma estranha naquele mundo, uma intrusa que não pertencia àquele brilho superficial.

De repente, uma voz familiar a chamou.

"Mary? Mary Oliveira, é você?"

Mary se virou e viu uma mulher elegante se aproximando, um sorriso caloroso no rosto. Era Sofia, uma antiga colega da faculdade de artes, alguém que ela não via há anos.

O coração de Mary disparou. Como ela explicaria sua presença ali, ao lado de Ethan Carter? A narrativa fabricada desmoronaria em segundos. Ela engoliu em seco, o pânico a paralisando. A máscara que ela tanto se esforçara para manter ameaçava se quebrar, expondo a farsa por trás do contrato e revelando os segredos que ela estava desesperadamente tentando esconder.

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