A hesitação de Ethan no corredor ecoou na mente de Mary durante toda a noite. Ela se revirou na cama king-size, sentindo o toque imaginário de seus lábios e a intensidade de seu olhar. Aquele breve momento havia rompido a bolha de formalidade que os envolvia, deixando no ar uma eletricidade sutil e perturbadora.
Na manhã seguinte, a atmosfera na mansão parecia ter mudado imperceptivelmente. Os olhares trocados entre Mary e Ethan carregavam uma nova nuance, uma curiosidade cautelosa. Eles ainda mantinham a formalidade diante de Sra. Davies e dos outros empregados, mas nos momentos a sós, havia um reconhecimento silencioso do que acontecera na noite anterior.
Um dia depois do jantar, Ethan convidou Mary para acompanhá-lo em um passeio pelos jardins após o almoço. Era a primeira vez que ele a convidava para algo que não fosse uma obrigação social. Mary aceitou, sentindo uma mistura de apreensão e expectativa.
O sol da tarde banhava os jardins em tons dourados, realçando a beleza das flores e a serenidade dos gramados bem cuidados. Ethan caminhava ao lado de Mary em um silêncio confortável, seus passos ritmados na gravilha dos caminhos.
"Este lugar... é muito bonito," Mary comentou, admirando um roseiral exuberante com flores em tons vibrantes.
"Foi minha mãe quem o projetou," Ethan respondeu, parando diante de uma fonte de mármore. Havia uma suavidade em sua voz quando falava sobre a mãe, a mesma que Mary notara na biblioteca. "Ela tinha um talento especial para criar beleza."
"Ela devia ser uma mulher notável," Mary disse, sentindo uma conexão com ele através dessa memória compartilhada.
Ethan assentiu, um leve sorriso nos lábios. "Era. Forte, independente... e incrivelmente gentil."
Eles continuaram a caminhar, explorando recantos escondidos do vasto jardim. Ethan mostrava a Mary suas flores favoritas, contava histórias sobre as árvores centenárias e descrevia a paixão de sua mãe pela botânica. Mary ouvia atentamente, fascinada pela faceta de Ethan que ele raramente mostrava.
Em um ponto, eles chegaram a um muro coberto de hera, com um portão de madeira quase escondido pela vegetação. Ethan pegou uma chave antiga do bolso e abriu o portão, revelando um jardim murado, completamente isolado do resto da propriedade.
Era um lugar mágico, um refúgio secreto com um ar de abandono encantador. Flores silvestres cresciam desordenadamente entre arbustos podados de forma irregular, e uma pequena fonte de pedra murmurava suavemente no centro. Havia um banco de madeira desgastado pelo tempo sob a sombra de uma glicínia florida.
"Este era o jardim secreto da minha mãe," Ethan explicou, um brilho nostálgico nos olhos. "Ela vinha aqui quando precisava de paz e tranquilidade."
Ele convidou Mary a se sentar no banco, e eles permaneceram em silêncio por um momento, absorvendo a atmosfera serena do lugar.
"Nunca trouxe ninguém aqui antes," Ethan disse finalmente, quebrando o silêncio.
Mary o olhou, surpresa. "Por quê?"
Ele hesitou por um instante, como se estivesse ponderando suas palavras. "Porque este era o lugar dela. Era... íntimo."
A revelação tocou Mary profundamente. O fato de Ethan compartilhar aquele espaço tão pessoal com ela parecia significativo, um sinal de que a barreira entre eles estava realmente começando a ruir.
"Obrigada por me mostrar," Mary disse sinceramente. "É um lugar lindo."
Eles ficaram ali por um longo tempo, conversando em tons baixos sobre suas vidas, seus sonhos e suas decepções. Ethan falou sobre a pressão de administrar seus negócios, sobre o peso da expectativa e a solidão que muitas vezes o acompanhava. Mary, por sua vez, compartilhou suas lembranças da avó, a paixão pelas flores e o medo de perder o legado familiar.
Pela primeira vez, eles se viam não como o bilionário frio e a florista desesperada do contrato, mas como duas pessoas compartilhando suas vulnerabilidades, encontrando um terreno comum em suas experiências de vida.
Naquela tarde, no jardim secreto da mãe de Ethan, uma conexão genuína começou a florescer entre eles, tão inesperada quanto as flores silvestres que cresciam desordenadamente ao seu redor.
Nos dias que se seguiram, essa conexão se aprofundou. Eles passaram mais tempo juntos, encontrando-se na biblioteca para conversas silenciosas, compartilhando refeições com um pouco mais de leveza e até mesmo assistindo a filmes juntos na sala de estar espaçosa.
Mary descobriu que por trás da fachada austera de Ethan havia um homem inteligente, com um senso de humor seco e um lado surpreendentemente atencioso. Ele se interessava genuinamente por seus pensamentos e opiniões, e Mary se sentia cada vez mais à vontade em sua presença.
Ethan, por sua vez, parecia relaxar na companhia de Mary. Ele sorria com mais frequência, e a sombra em seus olhos parecia menos intensa. A autenticidade e o calor de Mary pareciam dissipar um pouco da frieza que o envolvia.
Um dia, enquanto tomavam chá juntos no terraço, Ethan perguntou a Mary sobre a floricultura.
"Como está o negócio?" ele perguntou, o tom genuinamente interessado.
Mary suspirou. "Ainda estamos lutando. As dívidas continuam aumentando."
Ethan a observou por um momento, com uma expressão pensativa. "Você realmente ama o que faz, não é?"
"Mais do que tudo," Mary respondeu com convicção. "Era o sonho da minha avó, e se tornou meu também."
"E se... e se houvesse uma maneira de ajudá-la?" Ethan perguntou hesitantemente.
Mary o olhou, surpresa. "Ajudar? Como?"
"Eu poderia... fazer um investimento. Apenas como um parceiro silencioso. Você continuaria administrando tudo, mas teria o capital necessário para se reerguer."
A proposta de Ethan a deixou sem palavras. Era algo completamente inesperado, um gesto que ia muito além dos termos frios do contrato.
"Eu... eu não sei o que dizer," Mary gaguejou, sentindo os olhos marejarem.
"Não precisa dizer nada agora. Pense nisso," Ethan respondeu, um leve sorriso nos lábios. "Eu não quero que você se sinta obrigada. Mas eu vejo o quanto isso é importante para você."
Naquele momento, Mary percebeu que seus sentimentos por Ethan estavam se tornando muito mais complexos do que jamais imaginara. O que começou como um contrato de fachada estava se transformando em algo inesperado e genuíno. A atração que surgira entre eles, inicialmente uma faísca sutil, agora ardia com uma intensidade crescente.
Mas em meio a essa crescente intimidade, uma sombra de dúvida pairava sobre Mary. Quanto do interesse de Ethan era real e quanto era apenas parte da representação? Ele estava realmente se apaixonando por ela, ou estava apenas cumprindo seu papel de marido atencioso? E o que aconteceria quando o prazo do contrato se aproximasse do fim?
Enquanto contemplava essas perguntas inquietantes, Mary sabia de uma coisa: seu coração, que inicialmente se fechara para proteger-se, estava agora irremediavelmente envolvido com o bilionário enigmático que entrara em sua vida através de um contrato inesperado. E as consequências desse envolvimento eram tão incertas quanto o futuro.
A proposta de Ethan pairou no ar entre eles, carregada de um significado que ia além do financeiro. Para Mary, era uma demonstração inesperada de confiança e cuidado, um gesto que aquecia seu coração e confundia ainda mais seus sentimentos."Eu... eu preciso pensar," Mary respondeu, a voz embargada pela emoção. A ideia de aceitar a ajuda de Ethan era tentadora, mas também a deixava desconfortável. Ela sempre prezara sua independência, e a ideia de se tornar ainda mais dependente dele a perturbava."Claro," Ethan disse gentilmente, sem insistir. "Não há pressa."Nos dias que se seguiram, Mary debateu-se internamente. Por um lado, o investimento de Ethan poderia salvar a floricultura, permitir que ela honrasse a memória de sua avó e reconstruísse seu futuro. Por outro lado, aceitar sua ajuda criaria um laço ainda mais forte entre eles, complicando ainda mais a natureza já complexa de seu relacionamento.Ela se pegava pensando em Ethan constantemente, em seus sorrisos raros, em seus mome
A quietude da biblioteca tornara-se um refúgio para ambos. Longe dos olhares curiosos da equipe da casa e da formalidade opressora dos eventos sociais, era ali que Mary e Ethan encontravam um espaço para uma comunicação mais genuína, ainda que cautelosa. Na noite seguinte à tempestade, após um jantar surpreendentemente tranquilo, eles se encontraram ali novamente, como se um acordo tácito os guiasse para aquele santuário de palavras e silêncios compartilhados.Ethan estava sentado em sua poltrona de couro habitual, um livro de capa escura repousando em seu colo, mas seus olhos estavam fixos na lareira crepitante. Mary se aproximou lentamente, sentando-se no sofá a uma distância respeitosa. A tensão da noite anterior ainda pairava sutilmente no ar, uma eletricidade silenciosa que nenhum dos dois ousava dissipar completamente."Não está conseguindo dormir?" Mary perguntou em um sussurro, quebrando o silêncio morno da sala.Ethan desviou o olhar do fogo, seus olhos encontrando os dela.
A atmosfera na imponente mansão Carter havia se transformado em algo mais sutil do que a mera formalidade inicial. Uma corrente de entendimento tácito, quase imperceptível aos olhos externos, agora ligava Mary e Ethan. O livro de poemas, um presente silencioso, repousava na mesa de cabeceira de Mary como um símbolo tangível de uma conexão que ousava florescer para além das frias letras do contrato. No entanto, uma cautela mútua pairava, como um véu fino, lembrando a ambos da fragilidade de seu arranjo e da incerteza do futuro.Uma tarde, buscando um respiro da opulência sufocante da casa, Mary encontrou consolo no calor úmido e no perfume exótico da estufa. Entre as folhas verdejantes e as cores vibrantes das flores tropicais, ela dedicava-se aos cuidados delicados das orquídeas. Foi ali que Ethan a encontrou, parado na entrada, observando seus movimentos suaves com um olhar contemplativo, distante."Minha mãe nutria uma paixão especial por orquídeas," ele comentou, a voz carregada de
A perturbação semeada pela presença de Vivian Holloway floresceu nos dias subsequentes na mente de Mary, como uma erva daninha teimosa em um jardim bem cuidado. Ela se flagrava revisitando mentalmente cada interação, cada sorriso trocado entre Ethan e a elegante visitante, tentando decifrar a profundidade dos laços que os uniam. A imagem de um passado compartilhado, do qual ela era irremediavelmente excluída, lançava uma sombra de insegurança sobre a tênue intimidade que começava a florescer entre ela e Ethan.Buscando dissipar a crescente tensão e, talvez, obter alguma clareza sobre a misteriosa Vivian, Mary propôs a Ethan um passeio noturno pelos jardins da mansão. A escuridão suave era pontilhada pela luz tênue de luminárias estrategicamente posicionadas, criando um cenário de beleza melancólica. A brisa noturna carregava consigo o perfume adocicado das flores, e o murmúrio distante de uma fonte proporcionava uma trilha sonora suave para seus passos hesitantes.Eles caminharam lado
O envelope cor de marfim parecia pesado demais para o seu tamanho, repousando sobre a mesa gasta da cozinha de Mary como um prenúncio. Seus dedos hesitavam em tocar o selo de cera com as iniciais entrelaçadas, um "EC" elegante que parecia zombar da sua atual situação financeira, tão precária que mal conseguia pagar o aluguel do minúsculo apartamento que dividia com a saudosa lembrança de sua avó.Suspirou, a visão embaçada pelas lágrimas que teimavam em cair. A pequena floricultura que herdara da avó, seu refúgio e fonte de alegria, estava afundando em dívidas. A pandemia havia dizimado os eventos, as encomendas diminuíram drasticamente e os credores não paravam de ligar. A cada toque do telefone, seu estômago se contorcia em um nó de ansiedade.Com um tremor nas mãos, finalmente rompeu o selo. Dentro, o papel de alta gramatura exalava um perfume sutil e caro. As palavras impressas em uma fonte clássica pareciam frias e formais, contrastando com o desespero que lhe apertava o peito. E
O silêncio no escritório era denso, carregado de uma formalidade fria que Mary nunca havia experimentado. Ethan Carter a observava com uma intensidade que a fazia se sentir dissecada sob um microscópio. Ela tentou manter a compostura, endireitando a postura na cadeira de couro que parecia engoli-la."Espero que sua acomodação esteja a seu contento, Srta. Oliveira," ele disse, a voz plana e desprovida de qualquer calor."Sim, Sr. Carter. É... muito confortável," Mary respondeu, evitando o contato visual direto. A verdade era que o quarto era opulento além de seus sonhos mais selvagens, mas também terrivelmente impessoal, como um quarto de hotel de luxo onde ninguém realmente vive."Ótimo." Ele juntou as mãos sobre a mesa, os dedos longos e elegantes entrelaçados. "Como sabe, este é um acordo estritamente profissional. Esperamos discrição e profissionalismo de ambas as partes.""Entendo perfeitamente, Sr. Carter," Mary afirmou, tentando transmitir a seriedade que sentia. Ela sabia que e
O reconhecimento de Sofia atingiu Mary como um raio em meio à falsa serenidade da festa. Seu sorriso congelou, e o pânico começou a borbulhar em suas veias. Como ela explicaria sua presença ali, tão diferente da vida modesta que Sofia conhecia?"Sofia... Nossa! Quanto tempo!" Mary conseguiu articular, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos."Mary! Que surpresa te ver aqui," Sofia exclamou, aproximando-se e lhe dando um abraço apertado. "Ainda está trabalhando na floricultura da sua avó? Adorava passar por lá e ver aquelas rosas lindas."O coração de Mary acelerou. Ela precisava pensar rápido. "Ah, sim... A floricultura vai bem. Mas hoje... hoje estou acompanhando um amigo." Ela gesticulou vagamente em direção à multidão, esperando que Sofia não insistisse em detalhes.Mas Sofia era perspicaz. Seus olhos seguiram o gesto de Mary e pousaram em Ethan, que se aproximava delas com uma expressão ligeiramente tensa no rosto."E este deve ser o seu amigo?" Sofia perguntou, um sorris