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Capítulo 4: Confidências e um Jardim Secreto

A hesitação de Ethan no corredor ecoou na mente de Mary durante toda a noite. Ela se revirou na cama king-size, sentindo o toque imaginário de seus lábios e a intensidade de seu olhar. Aquele breve momento havia rompido a bolha de formalidade que os envolvia, deixando no ar uma eletricidade sutil e perturbadora.

Na manhã seguinte, a atmosfera na mansão parecia ter mudado imperceptivelmente. Os olhares trocados entre Mary e Ethan carregavam uma nova nuance, uma curiosidade cautelosa. Eles ainda mantinham a formalidade diante de Sra. Davies e dos outros empregados, mas nos momentos a sós, havia um reconhecimento silencioso do que acontecera na noite anterior.

Um dia depois do jantar, Ethan convidou Mary para acompanhá-lo em um passeio pelos jardins após o almoço. Era a primeira vez que ele a convidava para algo que não fosse uma obrigação social. Mary aceitou, sentindo uma mistura de apreensão e expectativa.

O sol da tarde banhava os jardins em tons dourados, realçando a beleza das flores e a serenidade dos gramados bem cuidados. Ethan caminhava ao lado de Mary em um silêncio confortável, seus passos ritmados na gravilha dos caminhos.

"Este lugar... é muito bonito," Mary comentou, admirando um roseiral exuberante com flores em tons vibrantes.

"Foi minha mãe quem o projetou," Ethan respondeu, parando diante de uma fonte de mármore. Havia uma suavidade em sua voz quando falava sobre a mãe, a mesma que Mary notara na biblioteca. "Ela tinha um talento especial para criar beleza."

"Ela devia ser uma mulher notável," Mary disse, sentindo uma conexão com ele através dessa memória compartilhada.

Ethan assentiu, um leve sorriso nos lábios. "Era. Forte, independente... e incrivelmente gentil."

Eles continuaram a caminhar, explorando recantos escondidos do vasto jardim. Ethan mostrava a Mary suas flores favoritas, contava histórias sobre as árvores centenárias e descrevia a paixão de sua mãe pela botânica. Mary ouvia atentamente, fascinada pela faceta de Ethan que ele raramente mostrava.

Em um ponto, eles chegaram a um muro coberto de hera, com um portão de madeira quase escondido pela vegetação. Ethan pegou uma chave antiga do bolso e abriu o portão, revelando um jardim murado, completamente isolado do resto da propriedade.

Era um lugar mágico, um refúgio secreto com um ar de abandono encantador. Flores silvestres cresciam desordenadamente entre arbustos podados de forma irregular, e uma pequena fonte de pedra murmurava suavemente no centro. Havia um banco de madeira desgastado pelo tempo sob a sombra de uma glicínia florida.

"Este era o jardim secreto da minha mãe," Ethan explicou, um brilho nostálgico nos olhos. "Ela vinha aqui quando precisava de paz e tranquilidade."

Ele convidou Mary a se sentar no banco, e eles permaneceram em silêncio por um momento, absorvendo a atmosfera serena do lugar.

"Nunca trouxe ninguém aqui antes," Ethan disse finalmente, quebrando o silêncio.

Mary o olhou, surpresa. "Por quê?"

Ele hesitou por um instante, como se estivesse ponderando suas palavras. "Porque este era o lugar dela. Era... íntimo."

A revelação tocou Mary profundamente. O fato de Ethan compartilhar aquele espaço tão pessoal com ela parecia significativo, um sinal de que a barreira entre eles estava realmente começando a ruir.

"Obrigada por me mostrar," Mary disse sinceramente. "É um lugar lindo."

Eles ficaram ali por um longo tempo, conversando em tons baixos sobre suas vidas, seus sonhos e suas decepções. Ethan falou sobre a pressão de administrar seus negócios, sobre o peso da expectativa e a solidão que muitas vezes o acompanhava. Mary, por sua vez, compartilhou suas lembranças da avó, a paixão pelas flores e o medo de perder o legado familiar.

Pela primeira vez, eles se viam não como o bilionário frio e a florista desesperada do contrato, mas como duas pessoas compartilhando suas vulnerabilidades, encontrando um terreno comum em suas experiências de vida.

Naquela tarde, no jardim secreto da mãe de Ethan, uma conexão genuína começou a florescer entre eles, tão inesperada quanto as flores silvestres que cresciam desordenadamente ao seu redor.

Nos dias que se seguiram, essa conexão se aprofundou. Eles passaram mais tempo juntos, encontrando-se na biblioteca para conversas silenciosas, compartilhando refeições com um pouco mais de leveza e até mesmo assistindo a filmes juntos na sala de estar espaçosa.

Mary descobriu que por trás da fachada austera de Ethan havia um homem inteligente, com um senso de humor seco e um lado surpreendentemente atencioso. Ele se interessava genuinamente por seus pensamentos e opiniões, e Mary se sentia cada vez mais à vontade em sua presença.

Ethan, por sua vez, parecia relaxar na companhia de Mary. Ele sorria com mais frequência, e a sombra em seus olhos parecia menos intensa. A autenticidade e o calor de Mary pareciam dissipar um pouco da frieza que o envolvia.

Um dia, enquanto tomavam chá juntos no terraço, Ethan perguntou a Mary sobre a floricultura.

"Como está o negócio?" ele perguntou, o tom genuinamente interessado.

Mary suspirou. "Ainda estamos lutando. As dívidas continuam aumentando."

Ethan a observou por um momento, com uma expressão pensativa. "Você realmente ama o que faz, não é?"

"Mais do que tudo," Mary respondeu com convicção. "Era o sonho da minha avó, e se tornou meu também."

"E se... e se houvesse uma maneira de ajudá-la?" Ethan perguntou hesitantemente.

Mary o olhou, surpresa. "Ajudar? Como?"

"Eu poderia... fazer um investimento. Apenas como um parceiro silencioso. Você continuaria administrando tudo, mas teria o capital necessário para se reerguer."

A proposta de Ethan a deixou sem palavras. Era algo completamente inesperado, um gesto que ia muito além dos termos frios do contrato.

"Eu... eu não sei o que dizer," Mary gaguejou, sentindo os olhos marejarem.

"Não precisa dizer nada agora. Pense nisso," Ethan respondeu, um leve sorriso nos lábios. "Eu não quero que você se sinta obrigada. Mas eu vejo o quanto isso é importante para você."

Naquele momento, Mary percebeu que seus sentimentos por Ethan estavam se tornando muito mais complexos do que jamais imaginara. O que começou como um contrato de fachada estava se transformando em algo inesperado e genuíno. A atração que surgira entre eles, inicialmente uma faísca sutil, agora ardia com uma intensidade crescente.

Mas em meio a essa crescente intimidade, uma sombra de dúvida pairava sobre Mary. Quanto do interesse de Ethan era real e quanto era apenas parte da representação? Ele estava realmente se apaixonando por ela, ou estava apenas cumprindo seu papel de marido atencioso? E o que aconteceria quando o prazo do contrato se aproximasse do fim?

Enquanto contemplava essas perguntas inquietantes, Mary sabia de uma coisa: seu coração, que inicialmente se fechara para proteger-se, estava agora irremediavelmente envolvido com o bilionário enigmático que entrara em sua vida através de um contrato inesperado. E as consequências desse envolvimento eram tão incertas quanto o futuro.

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