“O primeiro amor nos ensina a cair. O segundo... a voar.” Isadora Mancini jurou nunca mais amar. Depois de ser traída e abandonada no altar pelo noivo que prometeu eternidade, ela transformou seu luto em muralhas. Agora, quatro anos depois, uma proposta indecente ameaça derrubar tudo o que ela reconstruiu. Lorenzo Salvatori é o tipo de homem que não aceita não como resposta. Magnata frio, envolvente, marcado por seu próprio fracasso amoroso, ele propõe a Isadora um contrato: fingirem um relacionamento por três meses em troca da salvação financeira da empresa falida da família dela. Mas o que começa como um acordo sem sentimentos logo vira um campo minado de lembranças, provocações e confissões não ditas. Isadora quer odiá-lo. Ele quer se proteger. Mas nenhum dos dois contava que o segundo amor fosse reescrever suas histórias de forma tão arrebatadora. Porque o segundo amor... pode ser o que o primeiro nunca teve coragem de ser.
Leer másO som da reunião explodiu como estilhaços invisíveis na mente de Isadora Mancini.
— É oficial. Se não houver aporte em até trinta dias, a empresa da sua família entra em recuperação judicial. — O tom frio do advogado soou como sentença de morte. Ela não respondeu. Apenas continuou encarando o espelho fosco da sala de reuniões. Cabelos presos em um coque impecável. Lábios fechados num vermelho sóbrio. Olhos… vazios. Por dentro, ela estava em ruínas. Por fora, era puro gelo. A Mancini Design, construída ao longo de três gerações, estava desmoronando. E tudo começou no dia em que ela foi deixada no altar. O ex-noivo, Marcelo Ventura, havia prometido amor eterno e parceria nos negócios. Mas o que entregou foi traição, humilhação pública e a quebra de contratos milionários que culminaram na derrocada. Desde então, Isadora aprendeu a sobreviver com a alma fechada em punhos de aço. Ela agradeceu com um aceno seco, recolheu os papéis e saiu da sala sem dizer mais uma palavra. *** Na rua, a chuva fina escorria pelas janelas escuras do carro. A cidade parecia zombar da sua queda. Buzinas, pressa, e ninguém realmente se importando com o fato de que uma mulher estava perdendo tudo o que tinha. Inclusive a si mesma. O celular vibrou. Número oculto. Ela quase ignorou, mas atendeu com irritação. — “Alô?” Silêncio. E então, uma voz. — “Isadora Mancini. Ainda soa com orgulho, mesmo à beira do colapso.” Ela congelou. A voz era grave, elegante… e perigosamente familiar. — “Quem está falando?” — “Não reconhece mais quem já teve o mundo aos seus pés?” Ela não respondeu. O coração acelerou. As palavras vieram secas: — “O que você quer, Lorenzo?” Lorenzo Salvatori. Magnata. Ceo de uma das maiores holdings da Europa. E homem que, cinco anos atrás, tentou comprar parte da Mancini Design, e foi recusado com elegância e frieza por ela. Na época, ele sorriu e disse: — “Orgulho é bom. Até ser tudo o que resta.” Agora, ele estava de volta. — “Estou em São Paulo.” — disse ele — “E quero conversar. Hoje. A sós.” Ela apertou o celular com força. — “Se você acha que vou me ajoelhar e pedir ajuda…” — “Você não vai pedir. Eu vou oferecer. E depois, você vai aceitar. Porque, dessa vez, o orgulho não vai pagar as contas.” O sangue dela ferveu. — “Vá para o inferno, Salvatori.” — “Estarei esperando às 20h, no Mirador Hotel. Suíte presidencial. E não se atrase. A queda de uma rainha sempre atrai abutres… e eu prefiro vê-la de perto.” A ligação caiu. Isadora jogou o celular no banco ao lado. Tinha vontade de gritar. De chorar. De desaparecer. Mas ao invés disso, ajeitou o batom. Ela iria. Mas não para aceitar. Para dizer a Lorenzo Salvatori que nem falida ela se vendia. *** Às 19h59, ela atravessou o lobby do hotel de cabeça erguida. Vestia preto. Alfaiataria impecável. Salto firme. Postura de quem já perdeu, mas ainda luta de salto alto. A suíte era ampla, silenciosa, iluminada por luzes quentes. E lá estava ele. De pé diante da lareira, terno escuro impecável, mãos nos bolsos, olhar de lobo domesticado. Lorenzo Salvatori parecia mais perigoso do que na última vez que ela o viu. — Pontual. Isso sempre me excitou. — Ele sorriu com um canto dos lábios. — Me diga logo o que quer. Não tenho tempo a perder. — Você tem todo o tempo do mundo. Afinal, não tem mais uma empresa para gerenciar. Ela avançou um passo, olhos faiscando. — Me respeita, Salvatori. Ele se aproximou. Sem pressa. Sem ameaça. Mas com uma presença que invadia o ar. — Respeito? Eu te ofereci sociedade há cinco anos. Você recusou com sarcasmo e nojo. Agora, é você quem precisa... de mim. Ela o encarou. — E vai usar isso para me humilhar? — Não! Para te oferecer um contrato. — Que tipo de contrato? Ele sorriu. — Um que resolverá seus problemas financeiros... e os meus institucionais. Você será minha noiva de fachada por três meses. Salvamos sua empresa. Preservo minha reputação. Ganhamos. Mas ninguém precisa saber... que estamos em lados opostos da cama. Isadora sentiu o sangue sumir do rosto. — Você está louco se acha que eu... — Ainda tem tempo. E escolha. — Ele se inclinou — Mas quando não tiver mais nenhuma opção... vai voltar. Ela deu um passo atrás. Ele observou, sem disfarçar. — Lembre-se, Mancini. Não é orgulho o que te mantém de pé. É teimosia. E ela cobra caro. Ela girou nos calcanhares e saiu, sem responder. Mas por dentro… ela já sentia as grades se fechando. O elevador mal havia se fechado, e Isadora já sentia o corpo ceder. As pernas queriam vacilar. As mãos tremiam, embora ela mantivesse os dedos firmes, cravados na bolsa como se segurar alguma coisa fosse impedir o resto de desmoronar. A proposta de Lorenzo ecoava em sua mente como um insulto calculado. Noiva de fachada. Ela, que foi abandonada no altar diante de duzentos convidados, e do mundo inteiro que acompanhava o escândalo pelas redes sociais. Marcelo Ventura. O nome ainda era um sussurro ácido que queimava por dentro. O que mais doía não era o abandono. Era o fato de que ela o amava. Com toda a força da mulher que acreditava no amor, no casamento, no “para sempre”. Eles se conheceram na faculdade de administração, em uma palestra sobre sucessão empresarial. Marcelo era carismático, ousado, e fazia com que ela se sentisse segura. Bonito, inteligente, filho de uma família tradicional. Parecia o tipo certo de homem para dividir uma vida. Ele não apenas conquistou Isadora, conquistou também a confiança do pai dela, entrou como sócio da empresa, levou ideias modernas para dentro da Mancini Design, e aos poucos… tomou espaço. Ela, cega pela paixão, permitiu. — “O que é meu, é seu.” — ela costumava dizer, com os olhos brilhando, quando ele pedia acesso a alguma nova pasta, uma nova conta, uma nova negociação. Ela dividia tudo. Inclusive o coração. O casamento seria no campo. Um evento discreto, elegante, mas com convidados influentes e cobertura de revistas de negócios. Era a união de duas linhagens empresariais. A celebração do amor e do poder. Mas na manhã do grande dia, Marcelo simplesmente... desapareceu. Sem carta. Sem mensagem. Sem desculpa. Ela entrou na igreja sozinha, apenas para descobrir que ele havia viajado naquela madrugada. Horas depois, a bomba: fotos dele em um iate na Grécia ao lado de uma influenciadora com quem, segundo a legenda, “estava redescobrindo o verdadeiro amor”. Isadora não chorou no altar. Não gritou. Apenas saiu. Em silêncio. Mas por dentro, ela morreu naquele dia. Os meses seguintes foram um massacre. A imprensa devorava cada detalhe. As ações da empresa despencaram. Clientes romperam contratos por “falta de confiança”. Marcelo, além de sócio, havia deixado rastros, vazou documentos internos, expôs finanças em podcasts e entrevistas, e destruiu o que restava da imagem pública dos Mancini. Ela passou a ser chamada de “a noiva abandonada”, “a mulher fria”, “a herdeira em queda”. E tudo que construiu com esforço… virou poeira. De volta ao carro, naquela noite chuvosa, Isadora soltou um riso rouco e sem humor. Lorenzo. Justo ele. O homem que ela recusou com veemência quando tudo ainda era estável. O predador elegante que agora se apresentava como solução. Ela apertou os olhos, encostou a cabeça no banco e lembrou da última coisa que disse a si mesma naquela noite em que saiu da igreja com o vestido manchado de vergonha: — “Nunca mais.” Nunca mais entregaria seu coração. Nunca mais acreditaria em promessas. Nunca mais baixaria a guarda para homem algum. — Amor é uma moeda perigosa. — murmurou para si mesma — E eu estou falida. Na tela do celular, ainda com gotas de chuva, a notificação de uma nova matéria: — “Ex-noiva de Marcelo Ventura será despejada da sede da Mancini Design. Fontes indicam que Lorenzo Salvatori pode estar envolvido.” Ela encarou a manchete por um longo tempo. Na tela, sua foto. Séria. Fria. A mulher que ela foi forçada a se tornar. Lorenzo era um mestre em manipular narrativas. E agora ele estava controlando o enredo. Pressionando aos poucos. Expondo sua vulnerabilidade. Dando a ela tempo suficiente… para escolher ceder. Mas ela não cederia. Ainda não. Ela olhou seu reflexo no vidro da janela. A maquiagem intacta, o olhar impenetrável. — Você me quebrou, Marcelo… mas eu me reconstruí com aço. E quanto a Lorenzo? Ela ainda não sabia se ele seria a lâmina ou a cura. Mas sabia de uma coisa com absoluta certeza: Se algum dia ela aceitasse aquele contrato, não seria por amor. Seria por guerra.O burburinho nos corredores não era mais sobre os números da fusão. Era sobre Isadora.— Dizem que ela conseguiu o projeto porque… você sabe. — cochichavam — Dorme com o chefe, claro. — sussurravam outros.Isadora ouvia de longe, de perto, de todos os cantos. Sabia quem espalhava os boatos, a assistente de Baroni, que a via como uma ameaça direta. Mas o que doía mais era o silêncio de Lorenzo. Nada. Nenhuma palavra para contornar, proteger ou desmentir.Na sala da diretoria, ele apenas lançou um olhar em sua direção e disse:— Vai ao evento de hoje à noite? Será um ótimo momento para celebrar seu destaque.Ela respondeu com frieza:— Eu prefiro trabalhar do que alimentar especulações.Lorenzo sorriu, como quem escuta um desafio velado.— Justamente por isso você deveria ir. A líder aparece mesmo quando querem derrubá-la.O evento da noite era um coquetel de gala da empresa com investidores e grandes nomes do mercado. Isadora pensou em recusar até o último minuto. Mas então, vestiu um
O relógio marcava 8h03 quando Isadora entrou na sala de reuniões principal, onde uma equipe de executivos seniores já a esperava. O ambiente era frio, moderno, cheio de vidros e egos inflados. Ainda assim, ela caminhou com a cabeça erguida, como se pertencesse ali, mesmo sabendo que muitos achavam o contrário.Lorenzo não estava. Ainda.Na cabeceira da mesa, repousava uma pasta preta com seu nome em letras prateadas. Ela a abriu, o coração acelerando ao ver a primeira página do projeto: Fusão Multinacional – Estratégia Global 2026. Um dos maiores desafios já assumidos pela empresa.E então, como se cronometrado, Lorenzo entrou.Camisa branca ajustada, terno cinza-grafite impecável, expressão serena e olhos que pareciam varrer cada centímetro dela. Isadora não desviou o olhar. Não daria a ele essa vitória.— Bom dia a todos. — A voz de Lorenzo preencheu o espaço — Hoje iniciaremos a construção da estratégia de fusão internacional. E a responsável pelo planejamento e apresentação da pri
Isadora passou a noite no escritório da casa. O sofá era duro, a iluminação incômoda, mas era melhor do que dormir no quarto sabendo que Lorenzo planejava reformá-lo como parte do contrato. Orgulho? Talvez. Mas era também proteção. Dormir em um espaço prestes a ser transformado por outro homem era simbólico demais.Quando finalmente voltou ao quarto pela manhã, encontrou tudo diferente. O cheiro no ar denunciava o novo: cedro e âmbar. Masculino, elegante… invasivo. Cortinas de linho cinza-chumbo, tapete macio sob os pés, uma cadeira estofada em bege claro, uma orquídea branca em um vaso de cristal. O ambiente era uma extensão da presença dele. Quase como se Lorenzo tivesse deixado um traço invisível em cada canto.Ela franziu o cenho e vestiu um robe. No corredor, encontrou Lorenzo encostado na parede, mexendo no celular com o semblante relaxado. Ele a olhou como se estivesse esperando exatamente por aquele momento.— Dormiu bem? — perguntou, a voz rouca do recém-acordado.— Você refo
De volta a mansão, as coisas estavam estranhas para Isadora.O dia amanheceu com uma névoa leve cobrindo a cidade, como se até o clima hesitasse em revelar o que viria a seguir. Isadora acordou com uma sensação estranha no peito. Não era ansiedade. Era vigilância interna. O tipo de sensação que alguém desenvolve quando sabe que está sendo observado mesmo com as luzes apagadas.Ela se levantou e seguiu sua rotina. Café preto, nada de açúcar. Cabelo preso em um coque elegante. Maquiagem leve, mas estratégica. Precisava manter a imagem. A blindagem. Se permitisse uma rachadura, Lorenzo atravessaria.A porta do quarto dele estava entreaberta. Ela pensou em ignorar, seguir para o café, mas algo a impediu. Havia um som. Baixo. Uma melodia clássica fluindo suavemente do interior.Ela bateu.— Está vivo? Ou me deixou sozinha na mansão de um Ceo egocêntrico?A voz dele veio arrastada:— Entre.Ela empurrou a porta. Encontrou-o no sofá, camisa aberta nos punhos, gravata solta no pescoço, olhos
A noite caiu devagar, tingindo o céu com tons dourados e púrpura. Isadora vestiu-se com simplicidade, uma blusa leve, calça de alfaiataria e cabelos soltos. Se Lorenzo esperava que ela aparecesse deslumbrante para o “jantar na varanda”, teria que se contentar com o seu humor pouco receptivo. Ainda assim, quando se olhou no espelho antes de sair do quarto, reconheceu o brilho em seus olhos: era raiva. Mas também era curiosidade.Ao atravessar a sala da suíte, encontrou a varanda decorada com delicadeza. Velas em candelabros de cristal lançavam sombras suaves sobre a mesa para dois. Um garçom colocava os últimos pratos sobre a toalha branca impecável. Lorenzo estava de pé, perto da borda, observando a cidade como se tudo aquilo pertencesse a ele.— Achei que tivesse esquecido do jantar. — ele comentou, sem se virar.— Eu não quebro contratos, lembra? — ela retrucou, parando ao lado da mesa.Ele olhou por cima do ombro, os olhos verdes analisando cada traço dela com calma.— Não está com
O sol da manhã filtrava-se pelas cortinas de linho, lançando feixes de luz sobre a cama perfeitamente desfeita. Isadora despertou antes do despertador, como sempre. A rotina era sua fortaleza. Levantou-se, ignorando o espelho, o corpo ainda sensível pela presença constante e invisível de Lorenzo durante a noite.Ele havia dormido do outro lado da divisória. Não a tocou. Não falou mais nada. Mas sua existência parecia ocupar o quarto todo, como se ele fosse uma presença esculpida no ar.Na mesa do café da manhã, havia um novo bilhete. Sem assinatura, como de costume.— "Encontro no saguão em trinta minutos. Reunião com os investidores. Leve o casaco bege. Não esqueça de sorrir."Ela amassou o papel entre os dedos, mas obedeceu. Parte da estratégia era manter a imagem de casal unido, funcional, admirável. Mesmo que o que os unisse fosse apenas um contrato.Vestiu-se com elegância calculada. Rosto limpo, olhos marcados, cabelo preso com firmeza. Nenhuma brecha. Nenhuma concessão.Quando
Último capítulo