Capítulo 4 - A Mulher do Ceo

As manchetes surgiram como uma enxurrada antes mesmo do meio-dia.

— “Lorenzo Salvatori e Isadora Mancini: Casamento Surpresa Une Dois Impérios.”, “União ou Estratégia? Ceo enigmático se casa com ex-rainha do design.”, “A Fênix da Mancini: nova chance ou jogada de mestre?”

Isadora passou os olhos pelas notificações sem clicar em nenhuma. As palavras brilhavam como farpas digitais: casamento, surpresa, estratégia. Nada ali era sobre amor. E tudo ali era sobre controle.

Do outro lado do espelho, a mulher que a encarava parecia de ferro. O vestido preto de seda marcava a cintura, os ombros expostos exalavam elegância. O batom vermelho queimava com a mesma intensidade que ela mantinha presa no peito.

Marina, sua assistente, estava ao lado, tentando esconder o nervosismo.

— Tem certeza que quer ir?

— Tenho! Eu não me escondo, Marina. Nem do mundo… nem dele.

O evento da noite seria uma reunião luxuosa da Câmara de Comércio. Ceos, herdeiros, socialites, políticos. Um desfile de tubarões disfarçados de executivos. E naquela noite, ela não apenas estaria sob todos os olhares, ela seria o centro deles.

A limusine preta a esperava na frente do prédio. Lorenzo não mandava flores. Mandava carros, convites e notificações. E, às vezes, ordens disfarçadas de favores.

Assim que entrou no veículo, encontrou uma caixa de veludo sobre o assento. Dentro, um colar fino com esmeralda central, combinando com os brincos que ela usava meses atrás, antes da queda.

Havia um cartão.

Não assinado.

— “Você é uma obra-prima. Só precisava de uma nova moldura.”

Ela cerrou os dentes. Usaria o colar. Não por ele. Mas para mostrar que até o veneno pode servir de adorno quando a cobra aprende a usá-lo.

O Grand Aurélien era mais que um salão de eventos, era um templo da elite. Candelabros de cristal, escadarias douradas, seguranças que mais pareciam modelos de revista. Cada detalhe gritava poder.

Quando a limusine estacionou, uma chuva de flashes explodiu diante dos olhos de Isadora.

Ela desceu com a cabeça erguida.

O vestido deslizou como sombra sobre os degraus. O colar reluzia como um selo de realeza. E os olhos dela… frios, firmes, intocáveis.

Lorenzo apareceu ao lado dela. Não veio de carro. Estava ali, já esperando, como se soubesse o momento exato em que ela surgiria. O terno preto de alfaiataria e a gravata vinho o faziam parecer um rei moderno. Ou um vilão irresistível.

Ele estendeu a mão.

Ela aceitou com relutância calculada.

— Pronta para brilhar, Sra. Salvatori?

Ela se inclinou levemente, sem sorrir.

— Só se o palco for meu.

Ele riu baixo, conduzindo-a para dentro.

O salão estava cheio. O som abafado de taças tilintando, conversas educadas e música ambiente criava uma bolha de luxo e superficialidade. Todos notaram quando eles entraram. Alguns pararam de falar. Outros fizeram questão de não parar, mas mudaram de assunto.

Isadora sentia os olhares como facas invisíveis. Alguns eram de inveja. Outros, de julgamento. E os piores… eram os de pena disfarçada de admiração.

— Eles estão te devorando. — sussurrou Lorenzo ao seu lado.

— E você está adorando.

— Estou apenas observando. Como sempre faço antes de dominar o jogo.

Ela ergueu o queixo.

— Cuidado para não se distrair tanto com o jogo e perder a rainha.

Ele sorriu com a audácia que só os predadores têm.

— Eu nunca perco o que me pertence.

Ela engoliu seco.

Era só um papel. Só um contrato. Só um teatro. Mas cada palavra dele era uma trilha invisível que encurtava a distância entre o domínio e a entrega.

Durante o coquetel, ele manteve a postura de marido perfeito. Apresentava-a com orgulho, tocava-lhe a cintura com discrição, sorria com os olhos ao elogiá-la publicamente.

— Esta é Isadora, a mente por trás do renascimento da Mancini. Minha esposa. E a mulher mais brilhante que conheço.

As palavras soavam doces demais para um homem como ele.

Ela retribuía com a mesma medida: sorriam juntos, dançavam conforme a música social exigia, mas por dentro… duelavam a cada segundo.

O auge da noite chegou quando um repórter se aproximou com o microfone em punho.

— Sr. Salvatori, posso fazer uma pergunta? — Lorenzo assentiu com gentileza ensaiada — Foi uma surpresa ver esse casamento. Há amor nessa união?

Ele olhou para Isadora. O mundo inteiro esperava uma resposta. Ela estava pronta para negar, desviar, mudar de assunto.

Mas Lorenzo não deu tempo.

Aproximou-se de leve. Encostou os lábios perto do ouvido dela e sussurrou, com a voz rouca, mas audível o suficiente para os mais próximos ouvirem:

— Apenas comece a sorrir, Isadora. Porque depois do sorriso… vem a rendição.

Ela manteve o sorriso. Mas sentiu o chão girar sob os pés.

O sussurro de Lorenzo ainda ardia na nuca de Isadora quando a música mudou.

Uma valsa suave invadiu o salão, e o mestre de cerimônias convidou os casais à pista. Naturalmente, todos os olhares se voltaram para o casal da noite, os recém-casados que uniram impérios e quebraram a internet.

Lorenzo estendeu a mão com o mesmo charme calculado de sempre.

— Vamos dar à sociedade o que ela quer?

— Espetáculo e falsa felicidade? — ela arqueou uma sobrancelha.

— Exatamente. E dançamos melhor que muitos casais “verdadeiros”, não acha?

Ela segurou a mão dele, firme. Como quem aceita um duelo. Como quem entra numa arena. A pista de dança se abriu diante deles. Os holofotes se ajustaram. Os sorrisos se espalharam. Mas era só ela e ele ali.

E nada naquele toque era ensaio.

As mãos de Lorenzo se encaixaram com precisão. Uma repousava na cintura de Isadora, com os dedos ligeiramente mais baixos do que o protocolo social permitiria. A outra conduzia a dela com leveza, mas firmeza. Como se quisesse lembrá-la: você pode tentar liderar, mas eu nunca sigo.

Ela manteve o queixo erguido, os olhos fixos nos dele.

— Está se divertindo, Lorenzo?

— Mais do que esperava. Você dança com resistência. Quase como se estivesse fugindo de mim.

— Eu não danço com monstros. Apenas os enfrento.

Ele inclinou-se levemente, os lábios perigosamente próximos ao rosto dela.

— E eu adoro ser enfrentado… especialmente por você.

A música continuava, mas Isadora mal ouvia. A dança era coreografada. O toque, quase técnico. Mas o calor que subia por sua espinha não era.

E isso a irritava profundamente.

Ela precisava manter a cabeça no lugar.

Enquanto giravam sob os olhares da elite, flashes capturavam cada movimento. Eram o casal perfeito. A lenda reescrita. O casamento do século, ao menos, nas aparências.

— Está orgulhoso? — ela murmurou — Ganhou sua boneca.

— Você não é uma boneca. É uma lâmina. E por isso, quero você na minha vitrine.

— Lâminas cortam.

— Eu conto com isso.

Ela sentiu a mão dele apertar levemente a cintura. Quase imperceptível. Mas o suficiente para deixá-la alerta. Lorenzo não precisava de ordens. Bastava um toque. Um olhar. Um passo. E ela sentia o jogo mudar.

A música terminou com um giro elegante. Lorenzo a segurou no final, mais próximo do que devia. As câmeras explodiram em flashes.

E então ele se inclinou e beijou-lhe a mão. Cavalheiresco. Mas com os olhos cravados nos dela, como se dissesse: Eu avisei.

De volta ao salão, os cumprimentos começaram. Homens de negócios, socialites e até velhos rivais vinham parabenizá-los.

— Salvatori, você sempre foi uma raposa. Mas agora se superou. — comentou um executivo do setor bancário — Unir sua marca à da Mancini foi um golpe de mestre.

— Uma aliança. — corrigiu Lorenzo, sem tirar os olhos de Isadora — Cada um traz o que tem de melhor à mesa.

— E a senhora Salvatori? — a mulher do executivo perguntou com interesse velado — Está feliz em voltar aos holofotes?

Isadora sorriu com perfeição cirúrgica.

— Eu nunca saí deles. Só deixei que os olhos errados se distraíssem com o caos.

Os risos foram educados. Mas a tensão era palpável.

Ela sabia: todos ali estavam tentando descobrir se aquilo era real. Se havia amor. Se havia submissão. Se havia rendição.

Mas o que havia mesmo era guerra. Silenciosa. Travada em cada frase e cada gesto.

Horas depois, já no fim do evento, Isadora se recolheu para o banheiro. Precisava de ar. De silêncio. De um minuto sem aquele teatro brilhante.

Quando abriu a porta, encontrou o reflexo no espelho. Seus próprios olhos. Fortes. Mas cansados. Ela apoiou as mãos na pia de mármore. Respirou fundo. Lembrou-se do contrato. Das cláusulas. Dos limites.

E da maneira como Lorenzo havia sussurrado no ouvido dela, diante de todos, sem sequer tocá-la de verdade… e ainda assim a desestabilizado por completo.

— “Isso não é parte do acordo.” — ela pensou — “Isso é manipulação. Domínio.”

E o mais perigoso: Isso está funcionando.

Ao sair do banheiro, Lorenzo a esperava no corredor. Casual. Com as mãos nos bolsos e o olhar sem pressa.

— Está me seguindo? — ela perguntou, cruzando os braços.

— Estou cuidando da minha esposa.

— Estamos em território público. Lembre-se do contrato.

— Lembro de cada linha. Mas você esqueceu de uma coisa, Isadora.

Ela ergueu o queixo.

— E o que seria?

Ele se aproximou até que ficassem a meio passo um do outro.

— O contrato pode dizer o que quiser… mas os olhos dizem outra coisa.

— Meus olhos dizem que você é perigoso.

— E os meus dizem que você está começando a gostar disso.

Ela não respondeu.

Deu meia-volta, caminhou em direção à saída.

Mas mesmo com os saltos firmes, sentiu o mundo tremer embaixo de si.

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