Lívia Meyer tem apenas 21 anos, sonhos simples e uma vida marcada por dificuldades. Quando aceita o emprego de babá na casa do viúvo Gael Mendes, de 37 anos, ela não imagina o quanto sua presença mudaria tudo. Gael é um homem fechado, marcado pela dor da perda de sua esposa durante o parto da filha mais nova. Pai de duas meninas, ele só quer paz. Ela só quer um lugar onde possa recomeçar. Apesar da diferença de idade e do abismo social entre eles, os dias vão desenhando uma proximidade inesperada. Enquanto Lívia lida com os sentimentos novos que começam a surgir, Gael tenta resistir, enxergando nela alguém que deveria proteger — não amar. Mas quando o ciúme desperta e o convívio se intensifica, será possível ignorar o que o coração começa a gritar? Uma história sensível, lenta e carregada de conflitos internos, onde amor, culpa e desejo caminham lado a lado.
Ler maisPOV Lívia Os dias passaram com um ritmo estranho. Tranquilos por fora, caóticos por dentro. Gael não me procurava, mas também não sumia. Era como se pairasse à distância, orbitando minha vida silenciosamente, esperando... algo. E mesmo que eu não quisesse, meu corpo reagia. Talvez fossem os hormônios, talvez fossem memórias que eu não conseguia apagar. Às vezes, bastava ouvir sua voz de longe ou sentir o cheiro do perfume que ele sempre usava pra minha pele se arrepiar, minhas pernas ficarem trêmulas e um calor inquietante se espalhar entre minhas coxas. Mas não. Eu não ia ceder. Ele me perdeu. E não era só uma questão de orgulho — era de amor-próprio. Daniel estava presente. Em cada gesto, em cada conversa leve e atenciosa. Ele respeitava meus silêncios. E me fazia rir. Me fazia sentir que eu era mais que um corpo desejado. Eu era uma mulher. Uma futura mãe. Na noite de sexta-feira, fomos ao cinema. Quando voltamos, ele encostou o carro em frente à minha casa e me encarou. —
— É seu, Gael. — minha voz saiu firme, mas com um peso que apertava o peito.Ele não respondeu de imediato. Apenas me olhou — olhos arregalados, boca entreaberta, os ombros tensos. Por um segundo, imaginei que ele não tivesse ouvido direito. Mas ouviu. Ouviu cada sílaba. E engoliu seco.— Meu? — a pergunta saiu arranhada, como se ele mesmo duvidasse da própria voz.— Sim. Fiz o exame. Deu positivo. Você é o pai.O silêncio entre nós foi como um vácuo. Nenhum carro passava na rua, nenhum som de criança no quintal. Era como se o mundo tivesse parado para ouvir nossa conversa.Ele se afastou um passo. Depois outro. Passou a mão pelos cabelos, nervoso. Não era esse o momento que imaginei. Não queria lágrimas, nem súplicas, nem promessas. Só queria que ele soubesse.— E por que só agora?— Porque eu precisava de tempo. Porque você me afastou. Porque, por mais que doesse, eu precisei aprender a ficar de pé sozinha. E... porque eu não quero que ache que estou tentando te prender.Ele franziu
POV Lívia O ar entre nós parecia pesar uma tonelada Subi o último degrau devagar, sentindo o coração bater como nunca. Gael continuava ali, parado, como uma sombra do passado que insistia em voltar. — O que você está fazendo aqui? — minha voz saiu cansada. Ele me olhou, firme. O rosto indecifrável. — Eu fui ao hospital... assenti, apertando mais a alça da mochila no ombro. Claro. Ele tinha me visto. Tudo começou ali. — Eu falei com a médica — ele continuou, com aquele tom grave, sóbrio. — Ela me disse… disse que você está grávida. Fechei os olhos. Tinha esperança de que ele esperasse eu contar. Que me deixasse respirar. Mas era Gael.— Sim. Estou. — É meu? — ele perguntou, num sussurro. Levantei o olhar. — Você realmente precisa perguntar? Ele passou a mão pelo rosto, respirando fundo. — Eu precisava ter certeza. — Pois tenha. É seu. Mas... não se preocupe. Eu não estou aqui para pedir nada. Vi os olhos dele escurecerem. Uma ruga de tensão surgiu e
POV Lívia Os dias se arrastavam em um ritmo cruel. Entre o calor sufocante do meu apartamento minúsculo e o ambiente hostil do restaurante, eu sentia meu corpo gritar. O enjoo não me dava trégua, minha pele estava pálida, meus seios sensíveis. Eu sabia... no fundo, sabia. Mas me recusava a confirmar. Se eu ignorasse... talvez tudo passasse. Talvez fosse só estresse, fome, noites mal dormidas. Mas não era. A cada novo atraso menstrual, a cada sintoma que surgia, eu sentia o desespero apertando meu peito. Eu estava grávida. E não havia volta. Eu estou sozinha, completamente só.sem futuro.Eu carregando uma parte do homem que destruiu meu coração. No trabalho, eu mal conseguia disfarçar. Vomitava entre um atendimento e outro, sentia tontura, dores de cabeça. Mas ninguém ali se importava. Eu era apenas mais uma funcionária barata e descartável. E Gael? Ele vivia sua vida de comercial de margarina ao lado da nova namorada perfeita. POV Gael Eu me esforçava, muit
"Eu… eu preciso ir…" Foram as últimas palavras sussurradas por Gael naquela noite em que nossos corpos finalmente quebraram a barreira do proibido. Mas eu sabia, no fundo, que não bastava apenas ter o corpo dele. Eu queria mais. Eu queria o homem, o coração, o amor. E era exatamente isso que ele parecia incapaz de me dar. Na manhã seguinte, o peso da noite anterior pairava sobre meus ombros feito um manto de culpa e dor. Não dormi. Meu corpo ainda pulsava pelo toque dele, mas minha alma… essa sangrava em silêncio. Desci as escadas devagar, como quem carregava o próprio velório no olhar. As crianças já estavam acordadas, e, como sempre, me receberam com sorrisos sinceros. E ali, naquele instante, me dei conta… eu não pertencia mais àquela casa. Nunca pertenci. Meu coração estava em pedaços. Tudo doía. Gael estava no escritório, eu sabia. Estava evitando me olhar, evitando tocar no que vivemos, como se pudesse apagar aquilo com o silêncio. Como se eu fosse a única a sentir.
POV Lívia O silêncio entre nós pairava como uma nuvem pesada desde aquela noite. Cada passo que eu dava dentro daquela casa me lembrava do erro que cometi ao me deixar levar. Mas como resistir? Como ignorar as mãos firmes do senhor Gael, o calor de seu corpo pressionando o meu naquela cozinha? Eu não conseguia. E, ao mesmo tempo, me sentia uma louca por desejar algo tão errado. Ele mal me olhava desde então. Tudo havia voltado à rigidez profissional, fria e sem vida. E eu, covarde, também me escondia atrás da babá eficiente, como se nada tivesse acontecido. Quando Gael anunciou que iríamos ao evento de um amigo próximo da família, eu soube que seria difícil manter minha distância. Seria um jantar elegante, cheio de famílias, casais... E lá estaria eu, uma intrusa. Mesmo assim, aceitei ir. As crianças estavam animadas, e Gael parecia alheio à minha presença, o que de certo modo aliviava meu coração — ou eu achava que aliviava. Mas tudo começou a ruir quando percebi os olhare
Último capítulo