Lívia Meyer tem apenas 21 anos, sonhos simples e uma vida marcada por dificuldades. Quando aceita o emprego de babá na casa do viúvo Gael Mendes, de 37 anos, ela não imagina o quanto sua presença mudaria tudo. Gael é um homem fechado, marcado pela dor da perda de sua esposa durante o parto da filha mais nova. Pai de duas meninas, ele só quer paz. Ela só quer um lugar onde possa recomeçar. Apesar da diferença de idade e do abismo social entre eles, os dias vão desenhando uma proximidade inesperada. Enquanto Lívia lida com os sentimentos novos que começam a surgir, Gael tenta resistir, enxergando nela alguém que deveria proteger — não amar. Mas quando o ciúme desperta e o convívio se intensifica, será possível ignorar o que o coração começa a gritar? Uma história sensível, lenta e carregada de conflitos internos, onde amor, culpa e desejo caminham lado a lado.
Ler maisPOV Gael Mendes Eu ainda podia sentir o gosto dela na minha boca. O toque macio de seus lábios, a pele quente, o cheiro doce que impregnava o ar ao redor dela... Tudo ainda estava vívido na minha mente, latejando feito uma maldição que eu mesmo invoquei. Maldita hora que deixei meus impulsos falarem mais alto. Eu, Gael Mendes, homem controlado, racional, mergulhado em compromissos e obrigações, perdi completamente a linha por causa daquela garota. Não era só errada a diferença de idade, era imoral o modo como ela mexia com meu corpo, me deixando vulnerável como um adolescente. Bianca estava na minha casa, sentada no sofá da sala, rindo de algo que as crianças disseram enquanto eu estava ali... em silêncio... com a cabeça a mil Era a terceira vez na semana que ela passava a noite aqui. Não era nada sério, eu precisava que fosse casual. Precisa me agarrar a alguma normalidade, a qualquer coisa que me fizesse esquecer os olhos castanhos da babá. Mas esquecer era impossível.
POV Lívia Eu estava enlouquecendo. O beijo, aquele maldito beijo na cozinha, ainda queimava em minha pele como uma tatuagem invisível. Eu conseguia sentir os lábios dele, a força das mãos firmes me pressionando contra a bancada fria, a proximidade do seu corpo — duro, quente, másculo. E, pior, a evidência do desejo dele roçando contra mim de um jeito que eu jamais havia sentido antes. Era impossível fingir que não aconteceu. E era ainda mais impossível ignorar como me sentia. Confusa. Perdida. E... excitada. Sim, aquela parte era a pior de todas. Eu, que sempre fui certinha, agora estava sonhando com o pai das crianças para quem eu cuidava. E ele, o todo poderoso, senhor Gael Mendes, estava tentando agir como se aquilo tivesse sido apenas um lapso. — Esqueça o que aconteceu, Lívia. — Ele disse logo pela manhã, com uma expressão séria, fria, quase indiferente. — Foi um erro. Erro? Quase ri na cara dele. Mas, claro, quem era eu para contestar? Apenas uma babá. O problem
Acordei com o som da chuva fina batendo contra a janela. A casa estava mergulhada num silêncio estranho, como se até as paredes tivessem medo de falar alto. Desci as escadas devagar, ouvindo apenas o som dos meus próprios passos. Gael estava na sala, com Helena nos braços. Ele me olhou por um segundo e depois desviou o olhar, como se minha presença o incomodasse. — Bom dia — murmurei. — Bom dia — respondeu seco. Ele parecia distante. Não era o mesmo homem que, dias atrás, quase me beijou com o mundo pegando fogo ao redor. Tudo estava diferente. Ele estava diferente. Na cozinha, preparei o café sem trocar uma palavra com ele. Quando voltei à sala para perguntar se queria café, ele já havia subido. Era como se uma muralha invisível tivesse sido construída entre nós durante a noite. ** Ao longo do dia, nos cruzamos algumas vezes. Tudo mecânico. Ele falava apenas o necessário. Eu, com o orgulho ferido, fazia o mesmo. Na hora do almoço, Bianca apareceu com um pote de sopa caseir
O sol da manhã entrou preguiçoso pela janela do meu quarto. A noite havia sido inquieta. Cada vez que fechava os olhos, era como se o quase-beijo com Gael se repetisse, em câmera lenta, alimentando pensamentos que eu tentava sufocar. Mas eu tinha decidido. Distância. Controle. Lúcida — era assim que eu queria me manter. Quando desci as escadas, encontrei Ana Clara tomando cereal e Helena no colo de uma mulher loira, elegante, com cabelo preso em um coque suave e roupas de academia que pareciam saídas de um catálogo. — Olha quem veio nos visitar! — disse Gael, sorrindo de um jeito diferente. Daquele tipo de sorriso que não se vê todo dia. — Lívia, essa é Bianca — ele disse, virando-se para mim. — Amiga da família. As crianças a adoram. Bianca se levantou, ainda com Helena nos braços. — Oi, querida! Ouvi muito falar de você — disse, estendendo a mão com um olhar amistoso, mas analítico. — Prazer — respondi, tentando soar natural. Ana Clara correu e se enroscou nas pernas de
Ele se chamava Daniel. Alto, sorriso fácil, jeito leve de conversar. Era primo da vizinha da frente e, desde o primeiro bom dia trocado na calçada, parecia fazer questão de estar sempre por perto. Nada insistente — só presente. E, talvez por isso, eu tenha permitido que ele se aproximasse. Naquela sexta-feira, Ana Clara foi brincar na casa da amiguinha, e Gael estava fora o dia inteiro, em reuniões. Daniel apareceu no portão com um sorvete e uma conversa mole. — Vai recusar um convite para fugir da rotina? Eu sorri, hesitante. Mas aceitei. ** Fomos até uma pracinha simples, com bancos sob árvores e uma barraca de milho assado. Conversamos por mais de uma hora. Daniel falava de música, filmes antigos e da infância em cidade pequena. Eu me sentia leve. Ria com facilidade. E por um momento, esqueci do mundo que deixei naquela casa. — Gosto do seu jeito — ele disse, quando o sol já começava a cair. — Você tem uma calma... que dá vontade de ficar perto. Senti minhas bochechas cora
A semana passou mais lenta do que o normal. Desde aquele dia, Gael parecia mais calado do que o habitual. Não frio. Apenas... contido. Como se medisse cada palavra, cada olhar. E isso me afetava mais do que eu gostaria de admitir. Ana Clara notou também. Em uma manhã de quarta, enquanto desenhávamos juntas no tapete da sala, ela soltou sem pensar: — O papai está estranho, né? Sorri, tentando disfarçar o incômodo que aquela frase trouxe. — Às vezes os adultos ficam assim... cheios de coisas na cabeça. — Ele te olhou diferente ontem — ela disse, rabiscando um coração com lápis vermelho. — Eu vi. Engoli em seco. O que uma criança de dez anos via que nem eu tinha certeza? ** À noite, Helena estava irritadiça. Choro preso, manha, sono quebrado. Fiquei com ela no colo por horas, balançando suavemente, enquanto a casa ia se acalmando aos poucos. Foi quando Gael apareceu na porta do quarto. — Está tudo bem? — Está sim. Ela só está um pouco agitada. Ele entrou devagar, aproximou-s
Quando cheguei à cozinha naquela manhã, Gael já estava lá. Ele raramente falava muito cedo, e dessa vez não foi diferente. Estava de pé, encostado no balcão, camisa social semiaberta, cabelo ainda molhado do banho. O cheiro do café recém-passado misturava-se ao do perfume dele, amadeirado, sutil, mas marcante. — Bom dia — murmurei, tentando não parecer afetada pela presença dele. Ele respondeu com um aceno e um leve “bom dia”, sem tirar os olhos do jornal. Coloquei a mamadeira da pequena Helena para esquentar, enquanto Ana Clara terminava o café da manhã com expressão sonolenta. O silêncio parecia comum na casa, mas aquele dia ele pesava diferente. Havia algo no ar. Não era raiva, mas talvez desconforto. — Onde vai hoje? — ele perguntou, ainda sem me encarar. Demorei um pouco para entender que a pergunta era pra mim. — Eu... depois do almoço, vou sair um pouco. Marcos me convidou pra... tomar sorvete. O nome escapou fácil demais. Eu não sabia por que tinha dito com tan
O dia seguinte foi um pouco mais calmo. A casa estava mais aconchegante, agora que eu já sabia onde estavam as coisas e conseguia me mover de forma mais natural. Ana Clara me ajudava de vez em quando, mas continuava com aquele olhar distante, como se ainda estivesse testando minha paciência. Gael ainda era aquele homem quieto, sempre tão focado no trabalho e nas meninas, mas havia momentos em que seus olhos se demoravam sobre mim, como se ele estivesse se perguntando o que fazer comigo, como me encaixar naquele quebra-cabeça que ele tinha chamado de vida. A rotina se repetia, mas eu não me incomodava. Os dias estavam fluindo, e a ideia de estabilidade começava a me agradar. A ideia de uma vida sem sobressaltos. Mas havia algo dentro de mim que estava começando a se agitar, algo que eu sentia ser um reflexo do que estava acontecendo dentro de Gael. Eu sabia que ele não estava completamente à vontade comigo, mas também sabia que ele não queria demonstrar isso. Ele era do tipo que
O sol se levantou pela janela do meu quarto, entrando tímido, como se também estivesse me observando, perguntando se eu estava pronta para o que estava por vir. A casa estava em silêncio. Ao contrário dos lugares onde vivi, aqui não havia gritos ou pressa. Era um lugar que se acostumara à calma, mas eu não sabia se estava preparada para ela. Levantei da cama devagar, sentindo o corpo ainda um pouco tenso. O primeiro dia nunca é fácil, e eu sabia que, embora tivesse passado a noite ali, o verdadeiro teste começaria agora. Desci para a cozinha, e logo vi Gael. Ele estava sentado à mesa, uma xícara de café nas mãos, os olhos ainda pesados de quem não dorme bem. O jeito dele sempre parecia ser de quem estava carregando algo muito grande dentro de si, algo que ele se recusava a mostrar. Não sabia por que, mas havia algo em sua postura que me fazia querer protegê-lo. Talvez fosse o modo como ele cuidava das meninas, ou talvez, algo que eu ainda não conseguia entender. — Bom dia. — f