A garçonete e o executivo arrogante

A garçonete e o executivo arrogantePT

Romance
Última atualização: 2025-07-01
La Fernandes   Atualizado agora
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Índice

Cecília tem vinte e dois anos, um gênio difícil, e um coração blindado por decepções. Trabalha como garçonete até de madrugada, mora sozinha e evita qualquer laço que possa controlá-la — inclusive a própria mãe. Com a irmã mais velha, o silêncio virou costume, e o pai só aparece pra pedir dinheiro. Ela vive em modo de defesa, como quem aprendeu cedo que amar demais é dar munição ao outro. Enrico Moretti tem trinta e sete, é um executivo frio, dono de uma presença que impõe respeito — ou medo. Acostumado a conseguir tudo o que quer, ele não esperava se sentir desarmado ao cruzar o olhar com uma garçonete de respostas afiadas e olhar ferido. Mas ali, naquele breve encontro, algo muda. Ela o desafia e ele a desnorteia. Entre provocações, silêncios cheios de tensão e encontros cada vez mais intensos, Cecília vai descobrir que o amor pode ser tão perigoso quanto libertador. E Enrico, descobre que o controle que sempre teve sobre tudo talvez não funcione com alguém que não quer ser salva — apenas amada. Duas almas opostas, marcadas por histórias diferentes, mas com a mesma necessidade: serem vistos de verdade. E quando o passado ameaça vir à tona, só resta uma pergunta: é possível amar sem se perder?

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Capítulo 1

Caminhos que se cruzam

A madrugada sempre teve um cheiro peculiar. Cecília sabia disso porque vivia entre seus turnos noturnos, o suor, o cigarro alheio e o perfume doce — enjoativo — das clientes do bar. Naquela quinta-feira, o cansaço se empilhava em suas costas como os pratos que equilibrava nas bandejas. Já era quase quatro da manhã quando finalmente pendurou o avental e deixou o “Las Tardes” para trás.

O vento estava mais frio do que de costume, cortando pelas ruas quase desertas do centro. Cecília ajeitou a mochila no ombro e apertou o passo. Não por medo — medo não combinava com ela, mas por lucidez. Uma coisa era não levar desaforo pra casa, outra era ser estúpida. E Cecília, apesar da raiva fácil, não era burra. Estava irritada pois havia perdido o ônibus que passava na esquina do bar e agora teria que andar várias quadras até outro ponto para pegar o próximo.

Percebeu o som de passos atrás de si ao atravessar a terceira rua. Primeiro pensou ser paranoia, mas a sensação se repetiu: uma, duas, três vezes. Como um zumbido persistente. No reflexo de uma vitrine, viu a silhueta de um homem, alto, encapuzado. Talvez fosse só um bêbado perdido ou talvez não.

Mudou de rota, entrando na rua Sete, onde ninguém passava àquela hora. O som continuava, mais perto.

Droga.

Parou subitamente, fingindo procurar algo na mochila. Viu de relance a sombra hesitar. O frio percorreu sua espinha, mas ela manteve o rosto impassível, os dedos vibravam de adrenalina. Estava pronta. Se fosse preciso, atacaria com a chave entre os dedos — ou com um chute bem aplicado, não seria a primeira vez.

Dobrou à direita, rumo a um beco iluminado por uma danceteria. A música eletrônica fazia as paredes vibrarem, era ali ou nada.

Correu os últimos passos e, ao dobrar a esquina, deu de cara com um corpo. Forte, sólido, cheiroso demais para aquela hora. Trombou com ele com força, a ponto de se desequilibrar. Se não fossem os braços firmes que a seguraram, teria ido ao chão.

— Olha por onde anda, porra! — exclamou, instintivamente, se afastando.

— Você que esbarrou em mim — respondeu o homem, a voz grave e carregada de desdém. Ele usava um blazer escuro por cima de uma camisa parcialmente aberta no colarinho, o cabelo bem penteado estava um pouco desgrenhado, como quem tinha dançado ou se embriagado demais. Mas os olhos... os olhos estavam atentos.

Cecília o encarou com desconfiança, mas sentiu um arrepio subir pela nuca. Havia algo no olhar daquele homem que a desestabilizava — como se ele visse mais do que devia.

— Estava com pressa — disse Cecília, tentando disfarçar o coração acelerado.

— Fuga? Briga? Ex-namorado ciumento? — ironizou, com um sorriso debochado.

— Um idiota me seguindo, acha graça?

Ele virou o rosto para a rua, olhos semicerrados.

— Tem certeza?

— Tenho. E se não fosse pelo seu ego ocupando metade da calçada, talvez eu já estivesse longe dele.

— Você é sempre assim... simpática?

— Só com quem merece — rebateu, já tentando se afastar.

Mas então, o homem apareceu na esquina. O seguidor parou por um segundo, avaliando a situação. Os olhos escuros se fixaram nela, depois no homem ao lado.

— É ele? — o homem ao lado perguntou, a voz ainda tranquila, mas com os olhos sombrios.

— É.

— Fica perto de mim.

Cecília hesitou. O orgulho quase falou mais alto, mas havia algo naquele homem — no jeito calmo, no perfume caro, na postura firme — que a fez baixar a guarda. Só por um instante.

O homem do capuz ficou parado por alguns segundos, depois virou-se e seguiu pela rua de onde veio.

— Fugiu — comentou o estranho. — Mas não se engane, gente assim volta.

— Tô acostumada — disse Cecília, irritada. — E eu não pedi babá.

— Você também não pediu problema, mas veio. E não devia andar sozinha a essa hora.

— Acha que eu escolhi isso?

— Ninguém escolhe o perigo, mas pode evitá-lo.

— Que profundo, agora você é a voz da consciência?

— Não. Só alguém que estava no caminho. Coincidência ou talvez destino.

— Não acredito em destino.

— E você sempre com essa pose de durona? Vai me bater se eu te oferecer uma carona?

— Vai me sequestrar?

Ele riu. Mas não aquele riso aberto, foi curto, sutil. Quase perigoso.

— Se fosse o caso, você já estaria no carro. E com um capuz também.

— Tem mesmo essa cara de vilão de documentário — ela rebateu, mas sentiu o arrepio involuntário.

— E você tem a resposta na ponta da língua. O que é admirável... e irritante.

— Ótimo, então estamos empatados.

Ele riu mais uma vez. E, pela primeira vez, Cecília reparou que ele tinha covinhas, irritantemente encantadoras.

— Enrico — ele disse, estendendo a mão.

Ela olhou por um segundo e não apertou, apenas ergueu a sobrancelha.

— Eu não dou nome pra estranho que eu quase dei uma joelhada.

— Justo. Então vamos ficar no quase. Mas, por segurança, posso te acompanhar até um táxi ou até a delegacia mais próxima, se preferir.

Cecília hesitou, seus instintos gritavam para não confiar em homem nenhum. Mas o outro já tinha ido, e a rua ainda estava deserta e Enrico não parecia ter pressa nem más intenções. Só aquele olhar de quem nunca ouviu um “não”.

— Eu escolho ônibus e que você vá cuidar da sua vida.

— Aparentemente, nesse momento ela inclui você.

— Você adora se meter onde não é chamado, né? — ela rebateu, colocando as mãos na cintura. — Eu não ando de táxi.

— Eu pago.

— Que parte de “não ando com estranho” você não entendeu?

— E que parte de “sozinha a essa hora é perigoso” você finge não ouvir?

— Se você fosse mulher, saberia que perigo existe até com homem que finge ajudar.

Eles se encararam. Um silêncio estranho se instalou. Como se nenhum dos dois estivesse pronto pra admitir o que sentiam ali: incômodo... ou atração. Ou os dois.

— Você quem manda — ele disse enfim, jogando as mãos nos bolsos.

Ela assentiu e começou a caminhar. Ele a acompanhou em silêncio.

— Eu posso me defender, sabia?

— Imagino que sim. Mas hoje... ainda bem que eu estava aqui, não?

Ela não respondeu. Seguiram lado a lado até a avenida principal, Enrico andava com as mãos no bolso em silêncio, talvez estivesse sóbrio agora ou talvez só estivesse... observando.

Enrico a olhava de relance tentando entender o magnetismo daquela mulher de gênio afiado e cabelo cor de chama. Era como uma faísca prestes a incendiar. Tinha visto centenas de rostos em sua vida, mas aquele... aquele ficaria. Ela tinha uma beleza bruta, real, que não implorava atenção — apenas a tomava. E ele não conseguia desviar o olhar.

Cecília, por sua vez, sentia o peso daquele silêncio entre elea, da presença dele. Havia algo em Enrico que incomodava, mas não de forma negativa — era como um alerta constante, uma sensação de que estava diante de algo perigoso... e atraente. Queria manter distância. E ao mesmo tempo, queria provocá-lo só para ver até onde ele aguentava.

— Então... “Las Tardes”, hein? — ele comentou.

— Tá me seguindo há quanto tempo?

— Você pendurou o crachá na mochila. Só precisei de dois olhos, não de bola de cristal.

Ela riu de si mesma. E ele notou — aquele som era ainda mais interessante do que as respostas afiadas.

— Garçonete.

— E encara essa cidade sozinha?

— Porque preciso, e porque posso me defender.

— Não duvido disso, mas ainda me pergunto se vale o risco.

Ela parou quando viu o ônibus se aproximar e fez sinal com a mão. Enrico a acompanhou até a porta.

— Obrigada. Pela ajuda ou pela... coincidência.

— Coincidência ou destino?

— Está mais pro acaso, o destino costuma ser mais gentil.

Ele sorriu, encostando a mão na lateral do ônibus.

— Ainda assim... se precisar.

Tirou do bolso um cartão preto e entregou a ela.

Ela leu em voz baixa:

— “Enrico Moretti. Executivo-chefe. Grupo Orion.”

— Eu disse que não era sequestrador.

— Só capitalista safado.

— E você  revolucionária encrenqueira.

— Só quando mexem comigo.

Ela não devolveu o cartão, mas guardou-o com ceticismo.

— Boa noite, Enrico.

— Boa madrugada, Cecília.

Ela entrou no ônibus, e ele ficou olhando até o veículo sumir na próxima esquina. Só então se virou e voltou para a calçada iluminada, com um sorriso discreto nos lábios. Mas por dentro, sentia o impacto dela ainda pulsando. A imagem do cabelo ruivo ao vento, da firmeza no olhar... ecoava em sua mente como algo que voltaria.

Cecília, sentada no banco do ônibus vazio, tirou o cartão do bolso e o encarou um tempo.Enrico mexeu com ela, mais do que deveria. Era irritante, arrogante, e ainda assim... havia algo nele que ela não conseguia ignorar. Intrigante demais para simplesmente esquecer.

Dobrou o cartão e o guardou na carteira.

Só por precaução.

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