O bar ainda não estava cheio, mas o burburinho começava a crescer, misturado ao som abafado da playlist que tocava no fundo. Cecília secava copos atrás do balcão com mais força do que o necessário. Não pelo trabalho — aquilo ela fazia no automático —, mas porque a cabeça não parava.
A mensagem da mãe ainda vibrava na tela do celular sobre o balcão.
“Você acha mesmo que pode viver ignorando sua família para sempre?”
Ela achava. Ou queria achar, mas não era tão simples.
— Você vai quebrar esse copo, Cecília — comentou Júlia, de longe, enquanto preenchia pedidos em uma comanda.
Ela piscou, como se acordasse de um transe.
— Já tive dias melhores, tá? Não me enche.
— Eu só falei do copo, não da tua alma — respondeu Júlia, erguendo as mãos. — Mas tudo bem. Fica aí, rosnando pra vidro.
Cecília não respondeu. Guardou o copo e pegou outro. A verdade é que ela estava mesmo mais ácida do que o normal. O mundo parecia mais barulhento e o corpo, mais pesado, como se tudo estivesse fora de lugar —