Três dias depois do sequestro, a casa já parecia respirar outro ar. Ainda havia tensão nos olhares, um resquício silencioso do medo recente, mas também havia algo mais — um tipo de calma cuidadosa, quase frágil, que se espalhava pelos cômodos como se pedisse para ser preservada.
Aurora dormia melhor. Cecília já conseguia caminhar pela casa sem tremer tanto. E Enrico… bem, ele mal saía de perto delas.
Naquela manhã, porém, o silêncio foi quebrado pelo som da campainha. Enrico, que estava na sala com Aurora aninhada em seus braços, levantou os olhos e suspirou fundo.
— São meus pais — murmurou, passando a bebê para Cecília com cuidado. — Eu falei com eles ontem. Eles queriam muito vir.
Cecília assentiu, mas o gesto tinha uma hesitação sutil.
— Está tudo bem. Eles são a família dela também.
Ela sentiu aquele frio conhecido no estômago — não de medo, mas de receio.
O jeito seguro e natural com que ela disse aquilo arrancou de Enrico um sorriso inesperado. Ele caminhou até a porta e a abri