O relógio no painel marcava 21h12 quando o telefone de Enrico vibrou.
Ele estava estacionado na sombra, como sempre fazia quando buscava Cecília ao final dos turnos — chegava cedo, ficava esperando, observando a porta do instituto como se estivesse guardando o mundo dela.
Na tela, o nome do advogado apareceu.
Enrico atendeu imediatamente.
— Doutor?
— Enrico, boa noite. Precisamos conversar. É sobre o processo.
O corpo de Enrico se enrijeceu, mesmo antes de ouvir o resto.
— Fala.
— O pai da Cecília e o Gustavo entraram novamente com pedido para responder em liberdade. Foi protocolado ontem à tarde.
Enrico fechou os olhos, respirando pelo nariz.
Ele não ficou surpreso. Nem revoltado. Aprendeu a esperar esse tipo de movimento.
— E aí? — Enrico perguntou, o maxilar travado.
— Conseguimos barrar — o advogado respondeu. — Apresentamos o histórico, reforçamos risco, reforçamos motivação, reforçamos tudo. O juiz negou imediatamente. — Houve uma breve pausa antes do complemento — Mas… você sab