Nascida sob o luar prateado, Helena sempre foi diferente — uma loba completa desde o nascimento, dona de um poder raro e uma alma livre. Cresceu cercada por amor, força e união em sua alcateia, acreditando que o destino seria generoso. Mas tudo muda na noite em que, em uma festa da faculdade, um cheiro inebriante desperta algo profundo e selvagem dentro dela. O destino a marca, e ela descobre o que toda loba sonha encontrar: seu companheiro. Só que ele a rejeita. A dor da rejeição é dilacerante, e Helena tenta se reconstruir entre cicatrizes e raiva. O que ela não esperava era que Augusto, o irmão mais velho do homem que a desprezou — o mesmo lobo rebelde que todos temem e que viveu exilado por desafiar as regras — voltaria à cidade. Augusto é perigoso, irresistível e carrega um segredo capaz de mudar tudo: ele é o Alfa Supremo, o mais forte de todos os continentes. Entre eles nasce uma conexão proibida — feita de fogo, feridas e redenção. E quando o passado e o destino colidem, a loba rejeitada descobrirá que às vezes… a marca verdadeira não vem da lua, mas do coração.
Leer másA lua sempre teve um poder estranho sobre mim. Desde pequena, senti o chamado da noite, como se o brilho prateado no céu fosse uma extensão do que eu era.
Nasci loba. Não precisei ser mordida, nem esperar a primeira transformação. Era como se a lua me tivesse escolhido antes mesmo de eu nascer. Cresci em meio ao meu bando, cercada por risadas, treinos e caçadas sob o luar. Meus pais eram respeitados, e todos na alcateia me tratavam com carinho — talvez porque sabiam que eu era diferente. Enquanto os outros aprendiam a controlar o instinto, eu já havia nascido com ele sob domínio. Transformava-me quando queria, sem dor, sem medo. Era livre. Ou pelo menos achava que era. Durante o dia, minha vida era como a de qualquer outra jovem. Estudava Biologia na faculdade, tinha amigas humanas que nem desconfiavam da minha natureza e, nas horas vagas, adorava correr pela floresta atrás da casa dos meus pais, sentindo o vento bater no rosto. A vida era simples. Equilibrada. Até aquela noite. A festa da faculdade acontecia num sítio afastado, cheio de luzes coloridas, música alta e cheiro de bebida misturado com perfume. Cheguei com minhas amigas, rindo, tentando relaxar depois de uma semana cheia de provas. Mas bastou eu dar alguns passos para dentro do salão para sentir algo diferente. Um cheiro. Forte. Quente. Intenso. Meu corpo congelou no mesmo instante. Era doce, amadeirado, impossível de ignorar. Meu coração começou a acelerar, e minha loba interior se agitou de forma descontrolada, como se tentasse escapar. A respiração ficou curta. As mãos tremeram. Aquele cheiro… era inconfundível. Meu companheiro. Olhei ao redor, buscando a origem. No meio da multidão, meus olhos o encontraram. Enzo Valli. Todo mundo na faculdade o conhecia. Filho do Alfa do bando Valli, herdeiro natural da liderança, popular, bonito, confiante. Sempre cercado por gente, sempre no centro de tudo. Mas eu nunca havia sentido nada por ele — até aquele momento. Quando nossos olhares se cruzaram, senti um arrepio percorrer meu corpo. Era como se o mundo inteiro tivesse parado. A marca do destino havia se revelado. Caminhei até ele. Cada passo parecia pesar uma tonelada, mas não havia como fugir. Era como se uma força invisível me puxasse, unindo dois caminhos que a lua já havia traçado há muito tempo. Ele me olhou com surpresa, depois com algo que não consegui identificar. Talvez choque. Talvez medo. Fiquei parada diante dele, o coração disparado, os olhos marejados pela certeza de que finalmente havia encontrado a outra metade da minha alma. Mas o que veio depois… partiu algo dentro de mim. Enzo respirou fundo, ergueu o queixo e, diante de todos — lobos, humanos, curiosos — pronunciou as palavras que ecoariam na minha mente por muito tempo. — Eu, Enzo Valli, recuso você, Hellena Moretti, como minha companheira. Por um instante, o som ao redor desapareceu. Nada além do barulho do meu coração partindo. A marca queimou. Uma dor aguda se espalhou pelo peito, como se algo dentro de mim tivesse sido rasgado. Senti o ar escapar dos meus pulmões. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu não deixei que caíssem. Não diante dele. Eu sabia o que precisava fazer. O que a tradição exigia. Mesmo que cada célula do meu corpo gritasse por ele. Engoli o choro, respirei fundo e respondi, com a voz falhando: — Eu, Hellena Moretti, aceito a sua rejeição. As palavras saíram como lâminas. A dor foi imediata — uma ruptura invisível que cortou o vínculo antes mesmo de se formar. Meu corpo vacilou. A loba dentro de mim uivou em desespero, rasgando-me por dentro, implorando para lutar, para não aceitar. Mas eu sabia que não havia escolha. O destino havia sido negado. Virei as costas e saí. O som da música voltou aos meus ouvidos, abafado, distante. As pessoas olhavam, cochichavam, algumas em choque. Mas eu só queria fugir. Fugir de todos, fugir dele. Fugir de mim mesma. Do lado de fora, o ar estava frio, e a lua cheia brilhava alta no céu. Me apoiei em uma árvore e deixei as lágrimas finalmente caírem. O peito doía como se alguém tivesse arrancado parte de mim. Porque ele havia arrancado. A lua me observava em silêncio, como se lamentasse junto. E pela primeira vez desde que me entendo por gente, senti raiva dela. Raiva do destino. Raiva do amor marcado pela natureza, que agora se tornava uma maldição. A loba dentro de mim chorava. E eu, sozinha sob o luar, descobria o verdadeiro peso da rejeição. Naquela noite, algo em mim morreu. Mas, no mesmo silêncio em que chorei, algo também começou a nascer. Uma fúria adormecida. Um instinto que jamais seria domado novamente.O amanhecer veio pesado.O ar estava frio, úmido, carregado de algo que eu não sabia nomear — uma mistura de saudade, raiva e... necessidade.Passei a noite sem dormir, cada pensamento girando em torno de um único nome: Augusto.Ele tinha ido embora de novo.Sem explicações, sem olhar pra trás, como se fugir de mim fosse o único modo de se manter vivo.Mas o que ele não entendia era que, quanto mais se afastava, mais eu sentia.Mais o cheiro dele grudava na minha pele, mais o coração disparava do nada, mais a minha loba se agitava.Não era normal.Nada daquilo era.Desde o instante em que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, algo dentro de mim reconheceu aquele homem.Era uma conexão que queimava — profunda, selvagem, antiga.E, ainda que eu tentasse negar, o vínculo já estava sendo traçado.Desci até o pátio da propriedade onde estávamos hospedados.Os ventos do norte carregavam o cheiro das árvores e o farfalhar da mata.Senti o arrepio subir pela nuca — não de medo, mas de
Eu nunca deveria ter ido até ela naquela noite.Já tinha me convencido disso dezenas de vezes, e ainda assim, lá estava eu — encostado em uma árvore, vendo Hellena atravessar o pátio como se o mundo tivesse desabado sobre os ombros dela.O cheiro dela me atingiu antes mesmo de vê-la.Era doce e quente, algo que se infiltrava no ar e me prendia de um jeito que eu não conseguia explicar.O problema é que meu corpo entendia antes da minha mente.Cada músculo, cada fibra, cada instinto em mim reagia àquela presença como se ela fosse… minha.Mas eu não podia permitir.Não ali.Não agora.Não quando o menor deslize podia revelar tudo o que eu lutei anos pra esconder.Ela se aproximou, e eu me odiei por não conseguir me afastar.O olhar dela era uma mistura de dor e coragem — o tipo de olhar que parte um homem ao meio.E quando me perguntou o que eu escondia…Deus.Por um segundo, eu quase contei.Quase mostrei o que sou de verdade.Mas se ela visse…Se visse o monstro que vive sob minha pel
A cerimônia terminou, mas o eco das palavras de Enzo ainda ressoava na minha cabeça.“Apresento a vocês minha Luna, Serena Valmont.”O nome ficou preso na minha garganta como um espinho.A loba de olhos claros e sorriso ensaiado estava ao lado dele, segurando sua mão, a cabeça erguida em triunfo.E eu, parada no fundo do salão, sentia o peso de cada olhar sobre mim — como se todos ali soubessem o que aquilo significava.A rejeitada assistindo o momento em que o Alfa assumia outra ao seu lado.Tentei manter a postura. Sorri para Clara quando ela apertou meu braço, mas o nó na garganta quase me sufocava.— Vamos sair daqui — ela sussurrou.Assenti em silêncio.O ar parecia pesado demais. O cheiro da matilha, das tochas queimando, da terra úmida misturada com o perfume adocicado da nova Luna… tudo me embrulhava o estômago.Saí antes que a cerimônia terminasse.A noite estava fria, o céu encoberto, e a lua se escondia entre as nuvens — como se tivesse vergonha de testemunhar tudo aquilo.
RevelaO amanhecer parecia carregado.O ar estava mais frio do que o normal, e um tipo de inquietação pairava sobre a cidade, como se algo estivesse prestes a acontecer.Desde a noite da boate, eu não conseguia parar de pensar em Augusto.No modo como ele apareceu, nas palavras que disse, e principalmente no que não disse.Tinha algo errado ali.Algo que eu não conseguia nomear, mas que me deixava em alerta.Na faculdade, ele voltou a frequentar as aulas, agindo como se nada tivesse acontecido — mas era impossível ignorar as sombras em seu olhar.E, pior, eu comecei a perceber detalhes que antes passavam despercebidos.Os dois funcionários da boate, por exemplo — Ruan e Lyra, se não me engano.Agora pareciam estar por toda parte.Na biblioteca, no estacionamento, no café da esquina. Sempre discretos, mas sempre perto de Augusto.— Você viu aquele cara outra vez, né? — perguntou Clara, enquanto caminhávamos pelo corredor. — O tal Augusto.— Vi, sim. — respondi, tentando soar casual.—
Ficar longe dela era o certo.Pelo menos era o que eu repetia para mim mesmo.Mas o problema é que o certo nem sempre é o possível.Eu tinha deixado a cidade de propósito. Meus pais haviam me chamado para uma reunião da alcateia principal, e eu usei isso como desculpa para colocar a cabeça no lugar — ou tentar.Eles queriam falar sobre Enzo, sobre o novo ciclo de liderança, sobre o papel que eu “deveria reassumir” quando o momento chegasse.Eu escutei, mas metade das palavras me atravessava sem deixar rastro.Porque, desde que voltei, nada mais parecia se encaixar.— Você não pode continuar se escondendo, Augusto — disse Ruan, meu beta, na noite anterior. — Fingir que é um lobo comum não muda o que você é.— Eu não quero ser o que eu sou — respondi, ríspido.Ele soltou um suspiro. — Você pode mentir pra eles, pra Hellena, pro mundo inteiro… mas não pra sua natureza.Hellena.O simples nome já era o suficiente pra me tirar o ar.Eu tentei mantê-la longe. Tentei ser racional. Tentei não
Já fazia cinco dias desde a última vez que eu tinha visto Augusto.Cinco longos dias em que o campus parecia mais silencioso, o ar mais pesado e o tempo, mais lento.Ele simplesmente sumiu.Sem mensagens, sem avisos, sem explicações.No primeiro dia, achei que ele só estivesse evitando as aulas. No segundo, comecei a me preocupar. No terceiro, me peguei olhando o tempo todo para a porta, esperando vê-lo entrar com aquele sorriso de canto e o ar de quem nunca deve explicações a ninguém.Mas o quarto e o quinto dia… foram diferentes.Doía.— Você está estranha, Hellena. — disse Clara, minha amiga e colega de turma, ao me ver distraída mais uma vez.— Só estou cansada. — menti, mexendo distraidamente no café.— Cansada ou pensando em alguém? — ela provocou, arqueando uma sobrancelha.Revirei os olhos.— Nem todo mundo é obcecado por caras misteriosos, sabia?Ela riu. — Claro. Mas o "seu misterioso" sumiu e você tá contando os dias.Fiquei em silêncio.Ela tinha razão. Eu estava preocupad
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