O Estranho da Faculdade

A manhã parecia igual a qualquer outra.

O campus estava cheio, os corredores barulhentos, e a vida seguia o mesmo ritmo de sempre.

Livros, aulas, conversas sem graça.

Depois da rejeição de Enzo, eu tentava me manter invisível — apenas mais uma estudante tentando seguir em frente, mesmo que por dentro houvesse um buraco que nem o tempo parecia capaz de preencher.

Mas naquele dia, tudo mudou.

Os cochichos começaram antes mesmo de eu chegar na sala.

Grupos de meninas paradas no corredor, risadinhas abafadas, olhares voltados para um único ponto.

Segui o fluxo curioso, sem dar muita importância, até que ouvi uma delas dizer com empolgação:

— Ele é lindo demais… e dizem que é novo aqui.

“Ele.”

Uma palavra, e meu corpo inteiro ficou em alerta.

A loba dentro de mim ergueu a cabeça, atenta, como se reconhecesse algo antes mesmo de meus olhos verem.

E então eu o vi.

Estava encostado em uma das colunas do pátio, cercado por olhares femininos e atenção demais.

Camiseta preta simples, jeans escuro, o tipo de homem que não precisa de esforço para chamar atenção.

Os cabelos levemente bagunçados, o sorriso confiante, o olhar intenso.

E mesmo de longe, o cheiro — o mesmo que senti na floresta — invadiu meu corpo, queimando minhas veias e me deixando sem ar.

Meu coração parou por um segundo.

Não podia ser coincidência.

Era ele.

Tentei desviar o olhar, fingi que nada havia mudado, mas era impossível ignorar.

Havia algo em sua presença que dominava o ambiente, algo que ia além do físico.

Era… poder.

Silencioso, controlado, quase perigoso.

As meninas riam, jogavam o cabelo, inventavam desculpas para se aproximar dele.

E ele correspondia com aquele sorriso preguiçoso, o olhar que percorria cada uma delas com curiosidade e desinteresse ao mesmo tempo.

Parecia se divertir com a atenção, mas nada realmente o prendia.

Até que seus olhos — escuros, intensos — encontraram os meus.

O tempo parou.

Foi como se o mundo inteiro tivesse silenciado.

Aquele olhar me atravessou, como se ele pudesse ver através da pele, até a alma da minha loba.

Senti o ar sumir, as pernas fraquejarem.

Meu corpo reagia antes mesmo que eu entendesse por quê.

Desviei rapidamente, fingindo buscar algo na bolsa, tentando esconder o tremor nas mãos.

Mas eu sabia.

Ele me viu.

E ele sabia que eu o reconheci.

As horas seguintes foram uma tortura.

Mesmo sem olhar diretamente, eu o sentia por perto.

No mesmo corredor.

No mesmo café.

Nas mesmas aulas.

Como se o destino tivesse decidido brincar comigo, forçando-nos a dividir o mesmo espaço, a mesma respiração.

Ele se aproximava aos poucos, de forma natural, como quem não tem pressa — mas cada passo, cada olhar, era intencional.

Um jogo silencioso.

Ele sabia o efeito que causava em mim, e parecia se divertir com isso.

No intervalo, sentei sozinha no banco de sempre, tentando ler, mas sem conseguir me concentrar.

Foi quando ouvi uma voz rouca e provocante atrás de mim:

— Não parece muito sociável.

Meu corpo inteiro reagiu.

Aquele tom. Aquele cheiro.

Era ele.

Levantei o olhar devagar, e lá estava ele, com aquele mesmo sorriso de canto, os olhos analisando cada detalhe meu como se quisesse decifrar algo que eu mesma ainda não entendia.

— Eu gosto de silêncio — respondi, tentando soar firme.

— Silêncio pode ser bom… — ele disse, sentando-se ao meu lado sem pedir permissão — mas também pode ser solitário.

Olhei para ele com o cenho franzido.

— E você se importa com isso por quê?

Ele deu uma risada baixa, encostando o cotovelo no banco, relaxado.

— Digamos que eu tenho uma certa curiosidade por pessoas que se escondem.

— E quem disse que eu me escondo? — retruquei.

Ele me encarou por alguns segundos, os olhos presos nos meus, e respondeu num sussurro:

— Ninguém precisa dizer. Eu sinto.

O som da voz dele foi o bastante para arrepiar cada parte do meu corpo.

Era o mesmo tom que ecoava na floresta, o mesmo que provocava a loba dentro de mim, a mesma vibração que me deixava entre o medo e o fascínio.

— Qual é o seu nome? — perguntei, sem perceber que minha voz havia saído mais baixa do que eu pretendia.

Ele sorriu, aquele sorriso carregado de segredos.

— Augusto.

O nome soou simples, mas a forma como ele o disse fez parecer perigoso.

Como se houvesse mais por trás — e eu soubesse, instintivamente, que havia.

— E você? — ele perguntou, inclinando-se levemente, o olhar preso em mim.

Engoli em seco.

— Hellena.

O sorriso dele se alargou, e por um instante, juro que vi algo selvagem em seu olhar.

— Hellena… — repetiu, saboreando o nome como se fosse um segredo antigo. — Belo nome. Combina com você.

A forma como ele disse aquilo fez meu corpo reagir sem permissão.

O coração acelerou, e a loba dentro de mim rugiu em um misto de alerta e desejo.

Tentei manter o controle, mas sua presença era sufocante.

Ele era intensidade pura.

— Nos vemos por aí — ele disse, levantando-se com calma. — Gosto de desafios… e você parece ser um deles.

E saiu, deixando o mesmo rastro de cheiro, o mesmo arrepio e a sensação de que eu acabara de entrar em um jogo do qual não sabia as regras.

Enquanto o observava se afastar, rodeado novamente pelos olhares das outras garotas, percebi que algo estava mudando dentro de mim.

A rejeição de Enzo ainda doía, mas de alguma forma, o olhar de Augusto havia acendido algo que eu acreditava estar apagado para sempre.

E, mesmo sem entender o porquê, eu sabia que não conseguiria ignorá-lo.

Não depois daquele olhar.

Não depois daquele nome.

O problema era simples — e ao mesmo tempo devastador:

Augusto não era só um novo colega da faculdade.

Ele era o início de algo que eu não estava pronta para sentir.

E minha loba, selvagem e curiosa, já sabia disso.

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