Às vezes eu acho que a dor tem cheiro.
O da minha é o mesmo que sinto toda vez que o vento traz o perfume de pinho da floresta — o mesmo perfume que estava no ar quando ouvi as palavras que rasgaram minha alma.
"Eu, Enzo Valli, recuso você, Hellena Moretti, como minha companheira."
Aquela sentença ainda ecoa dentro de mim como um feitiço que não se desfaz. Não importa o quanto eu tente fingir que passou, o quanto sorrio nas aulas ou brinco com minhas amigas, por dentro eu ainda estou presa naquele instante.
Faz semanas, mas a dor não some.
Ela apenas muda de forma.
Antes, era um fogo me queimando viva. Agora é um frio constante, silencioso, que me envolve até quando tento dormir. A lua cheia já passou duas vezes desde então, e eu nem sequer quis me transformar. Pela primeira vez na vida, o instinto de loba pareceu distante — como se até ela tivesse me abandonado.
E, ainda assim, ele está lá.
Augusto.
O novo aluno da faculdade. O garoto que todos comentam, que todas olham. O “rebelde e