Mundo ficciónIniciar sesiónApós a morte misteriosa do pai, Darya Vellano aprendeu a viver entre as sombras do desprezo. Ignorada pela mãe, rejeitada pelo padrasto e humilhada pela meia-irmã perfeita, tornou-se perita em sobreviver no silêncio, à espera do dia em que poderia libertar-se e vingar a morte do pai. No fundo, sempre soube que o acidente que lhe tirou o pai não passara de uma farsa cuidadosamente encenada. O destino, porém, tem o hábito de brincar com os fracos. Quando Matteo Mancini, o herdeiro mais temido da máfia europeia, lhe propõe casamento, Darya vê uma oportunidade perigosa. Ele promete-lhe liberdade; ela oferece-lhe o nome Vellano, a chave para a influência política que ele tanto ambiciona. Matteo é frio, calculista e impiedoso. Um homem que transforma alianças em armas e sentimentos em fraquezas. Mas, por trás da máscara de ferro, esconde-se uma verdade que ninguém imagina: há seis anos, vive obcecado por Darya Vellano. Agora, pretende tê-la, no poder, no nome e na pele. Entre a lealdade e a traição, entre o sangue e o desejo, Darya descobre que a justiça tem um preço… e Matteo Mancini pode ser tanto a sua ruína como a sua salvação.
Leer másDarya observava a taça de vinho à sua frente, como se a superfície escura fosse capaz de refletir as respostas que ela não conseguia dar. Matteo, sentado diante dela, não parecia ter dúvidas.
— Não é uma decisão difícil — disse ele, encarando-a com uma calma que mais parecia impaciência. — Tu realmente queres passar o resto da tua vida a ser alvo da humilhação da tua mãe, da tua irmã e do teu padrasto miserável? E tudo isso quando és a única que tem dinheiro e sustentas a vida luxuosa deles? Ele levantou-se da cadeira. O gesto não foi brusco, mas carregava a solenidade de quem sabia exactamente o peso das palavras que estava prestes a soltar. Matteo aproximou-se de Darya, retirando uma pequena caixa do bolso. Quando abriu, o brilho frio de um anel reluziu na penumbra da sala. — Ou podes casar comigo — continuou, com a voz firme, como se oferecesse não apenas um objecto, mas um destino interdito. — Dou-te a liberdade e proteção. Esse é o verdadeiro impacto de possuir poder, Darya. Sei da cláusula estabelecida no testamento que o teu pai deixou: se casares, a tua mãe perde a pensão e será obrigada a deixar de imediato as propriedades dos Vellano. Estou ciente das ameaças que sofres desde a adolescência, para que eles possam ter controlo sobre ti e a sensação de que não és capaz de sair dessa prisão infernal. Tens medo do teu padrasto pelo envolvimento dele com a máfia, mas eu posso destruí-lo em questão de segundos. Darya manteve os olhos fixos no anel por alguns instantes. Não era uma mulher ingénua; sabia que Matteo não lhe oferecia aquilo por amor. Nada no mundo era gratuito, tudo exigia uma troca. — E o que tu ganhas em retorno? Questionou, a voz baixa, quase um sussurro. O sorriso dele foi discreto, mas letal. — Apenas o impacto de ser casado com a herdeira de um conglomerado de empresas que movimenta metade do PIB do país. Quero o teu nome, Darya. Quero a tua imagem ao meu lado para que a minha carreira política tenha o peso que preciso. É simples. Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos. — Ainda podes escolher a Bianca. Ela é a favorita, a mais bonita… e o pai dela já é político. Matteo fitou-a, implacável. — Não. Eu quero-te a ti. O silêncio que se seguiu foi denso, quase sufocante. Darya pensou no pai, no que ele diria ao vê-la ali, prestes a trocar amor por sobrevivência. Sabia que ele não se orgulharia. Mas também sabia que, desde a sua morte, tudo o que lhe restava era lutar para existir dentro de uma casa que nunca a quisera. A mãe jamais a olhara com ternura; nunca perdoara o facto de a herança ter ficado com ela. O verdadeiro amor da sua mãe sempre fora Ricardo, o homem para quem voltou a correr assim que o marido morreu. Bianca, fruto desse romance, sempre fora a filha perfeita, o orgulho que ela nunca seria. Darya fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, parecia mais fria, mais endurecida. — Eu aceito. Matteo sorriu como quem já esperava aquela resposta. Com cuidado, colocou o anel no seu dedo. Darya permaneceu a olhar para ele, sentindo o peso da escolha. Se não poderia ter o amor da mãe, então ficaria confortável com o poder. No fim, existiam diversas formas de destruir quem amamos e a pior delas é não amar de volta. A única pessoa que a amara de verdade estava morta. O pai não poderia guiá-la, a mãe nunca a quisera, a irmã era rival desde sempre. Restava apenas ela mesma. Sozinha. Mas, pela primeira vez, não mais indefesa. Matteo serviu-se de mais vinho, como se aquele brinde silencioso selasse um pacto invisível entre os dois. O cristal tilintou ao pousar sobre a mesa, e o silêncio prolongou-se até que ele voltou a falar, sem pressa. — O casamento será discreto, ao início — explicou, como quem organiza uma campanha. — Nada de manchetes escandalosas, nada de fotografias espalhadas por revistas de sociedade. Apenas o necessário para que todos saibam que és minha esposa. Depois, quando for oportuno, transformaremos a nossa união num evento público, com toda a pompa que convém a uma herdeira e a um homem em ascensão política. Darya manteve-se imóvel, os dedos a girarem o anel como se tentasse decifrar o peso daquele metal frio. — Um contrato, então — disse, sem emoção. — Casamento sem amor, apenas uma fachada. — Não te enganes, Darya. O amor é frágil. O que ofereço é duradouro: poder, estabilidade e segurança. Haverá um contrato, sim, redigido pelos melhores advogados. Não tocarei na tua fortuna, não interferirei nas tuas empresas. Apenas necessito da tua imagem, da tua presença ao meu lado. — E eu? O que recebo, além de ser o rosto conveniente na tua carreira? — Recebes liberdade — respondeu ele sem hesitar. — Não mais dependerás da boa vontade da tua mãe. O testamento do teu pai será cumprido, e ela perderá qualquer direito sobre ti ou sobre a herança. O teu padrasto deixará de ser uma ameaça. E Bianca… — fez uma pausa curta, saboreando o nome como se fosse veneno — nunca mais poderá pisar-te. O silêncio voltou, carregado de intenções ocultas. Darya pousou finalmente o copo, erguendo o queixo. — Então será um acordo escrito, assinado pelos dois. Não serei apenas um adorno. Quero cláusulas. Quero garantias. Matteo inclinou-se, os olhos negros a brilharem como lâminas. — Negociaremos cada detalhe. E quando subirmos ao altar, não serás uma vítima, Darya. Serás uma aliada. A mulher que escolhi para me tornar intocável. Ela deixou escapar uma breve gargalhada seca, quase amarga. — Parece mais um tratado entre reinos do que um casamento. — É exactamente isso — confirmou ele, sem desviar o olhar. Darya recostou-se, inspirando profundamente. A decisão já estava tomada, mas a ideia de transformar a própria vida num contrato frio deixava-lhe um travo amargo na boca. Ainda assim, havia uma estranha sensação de alívio. Pela primeira vez, não seria apenas a marionete da família. — Muito bem — disse ela, num tom final. — Casaremos. Mas quero ver esse contrato antes de subir ao altar. Matteo ergueu o copo, como se brindasse. — Verás, minha futura esposa. E quando o mundo souber, ninguém ousará tocar em ti. O vinho voltou a arder na garganta dela. Não havia romance, não havia ternura. Apenas um pacto. Um casamento que mais parecia um campo de batalha e ela, pela primeira vez, não se sentia em desvantagem.— Não te preocupes, minha querida. Ontem tive uma longa conversa com a Darya. Se for minimamente inteligente, ela acabará por desistir dessa ideia ridícula. Confia em mim: tu serás a senhora Mancini. — Mas e se ela não desistir? — Bianca insistiu, a voz a tremer ligeiramente. — E se o Matteo a escolher mesmo? Helena ergueu o queixo, num gesto altivo. — Nesse caso, não podes apenas esperar. Deves agir. Uma mulher tem sempre armas ao seu dispor. Usa-as. Vai até à casa dos Mancini, mostra-te presente, deixa claro que és a nora ideal. O Matteo precisa de ver em ti aquilo que não encontrará em mais ninguém. Bianca permaneceu em silêncio, absorvendo cada palavra. A mãe estava certa. Sempre estivera. Não bastava tentar convencer Darya, era preciso miná-la, substituí-la, conquistar Matteo sem que restassem dúvidas. Se a irmã, que ninguém acreditava ser digna de amor, tinha conseguido tornar-se noiva, então também poderia ser descartada. E a ideia fez Bianca sorrir, quase sem se d
Por um instante, Matteo sentiu o tempo parar. Tudo, o ruído dos seus próprios pensamentos, o som distante da cidade, até o pulsar do seu coração, pareceu suspenso. A visão dela, parada no limiar da porta, fê-lo esquecer o motivo da sua irritação. Bastou-lhe um olhar. Aqueles olhos… aqueles malditos olhos que o faziam desabar por dentro sempre que o fitavam. Tão serenos e, ao mesmo tempo, tão inquietos. Eram como o mar em dia de tempestade, belos, perigosos, impossíveis de decifrar. Ficaram a olhar-se em silêncio, como se ambos procurassem nas entrelinhas aquilo que as palavras não conseguiam expressar. Havia dor, culpa e ternura entre eles. Nenhum dos dois parecia disposto a quebrar o momento, mas o peso do silêncio tornava-se quase insuportável. — Eu vou sair. Disse Matteo por fim, a voz rouca, tensa. — Desculpa se… Murmurou Darya ao mesmo tempo. A coincidência fez com que ambos parassem, confusos. Darya deu um pequeno passo atrás, como se quisesse recuar de si própr
Quase parecia um contrato. Ou pior: uma ilusão. Enquanto o observava, pensou que Matteo se comportava como uma criança que acabara de ganhar um prêmio no parque de diversões. E, de algum modo, sentia-se a própria recompensa. Era desconcertante. Sentou-se à mesa e cortou um pequeno pedaço do bolo que tinha preparado para o pequeno-almoço. Matteo acompanhava cada gesto dela com um olhar silencioso, intenso, e Darya começou a sentir-se desconfortável. — Desse jeito vais engasgar-te. Comentou, por fim, apenas para quebrar o silêncio denso que pairava no ar. Matteo sorriu. Nunca o tinha visto sorrir tanto. Estava diferente. O homem que ela conhecera, frio, calculista, sempre rodeado de sombras e de ordens, desaparecera, dando lugar a alguém mais leve, quase humano. Darya estranhava aquela mudança. Perguntava-se se seria apenas uma fachada, uma versão cuidadosamente construída para conquistá-la, ou se havia ali algo genuíno. Mas gostava da ideia de o estar a conhecer de um modo
As palavras ficaram suspensas no ar, densas, impossíveis de ignorar. Darya não respondeu. Limitou-se a fitá-lo, sentindo-se arrastada por uma corrente que não compreendia. Uma parte dela queria fugir, outra parte queria ficar. O coração batia-lhe tão depressa que parecia doer, e pela primeira vez em muito tempo, não teve medo do mundo à sua volta… mas do que podia nascer dentro dela. Desde o momento em que se afastou de Matteo, Darya sentia o peso do olhar dele a segui-la. Era como o olhar de um predador que estudava a presa, paciente, à espera da abertura certa. Não havia ameaças naqueles olhos, apenas uma intensidade que a fazia estremecer por dentro. Cada gesto dela, ao arrumar a mesa, ao ajeitar os talheres, ao respirar fundo, parecia observado, medido, analisado. Tentava concentrar-se no gesto que a levara até ali: preparar o pequeno-almoço como uma forma de agradecimento. Mas, depois da confissão inesperada e do beijo que ainda lhe queimava nos lábios, nada parecia simples.
Matteo envolveu-a de imediato, sem pensar. A força do seu abraço ergueu-a novamente, sentando-a de novo na bancada. Desta vez não se conteve em ficar colado a ela, o corpo dele entre as pernas dela, como se não conseguisse largá-la. — Darya… sê o meu lar. — murmurou, a voz carregada de emoção. — A minha vida. A minha salvação. Segurou-lhe o rosto entre as mãos, os olhos fixos nos dela. — Este casamento só me fará verdadeiramente feliz no dia em que tiver o teu coração. As palavras ficaram suspensas entre os dois, carregadas de uma verdade que Darya parecia não saber como receber. Matteo abriu a boca, pronto a confessar tudo o que lhe sufocava o peito, mas a coragem traiu-o no último instante. Um peso invisível travou-lhe a língua. Suspirou fundo, fechou os olhos, e afastou-se com brusquidão. Sem dizer mais nada, virou-se e saiu do quarto de banho, deixando-a sozinha, confusa, com o coração a bater descompassado e o eco das suas palavras ainda a latejar-lhe na mente. Darya
Ele queria ser o descanso, o abrigo, a promessa de que ela não estava sozinha. Mas ao mesmo tempo, havia um peso dentro dele: a consciência de que talvez fosse tarde demais. Seis anos a amá-la em silêncio, a vigiá-la à distância, a sufocar cada impulso de se declarar. Perguntava-se se Darya algum dia conseguiria ver nele mais do que um noivo imposto, mais do que um homem determinado a estar presente. Virou-se ligeiramente, apoiando o braço debaixo da cabeça, e sorriu quase sem perceber. Ela estava ali. Estava a dormir a seu lado, confiara nele o suficiente para se entregar ao sono profundo. Isso bastava. Por agora, isso bastava. As palavras dela ecoavam-lhe na mente: “Devias descansar.” Matteo era um homem habituado a lutar contra o sono, a passar noites em claro quando algo lhe inquietava. Mas, desta vez, decidiu obedecer-lhe. Não por cansaço apenas, mas porque queria honrar o pedido dela. Queria mostrar-lhe, mesmo que em silêncio, que as suas vontades tinham importância. Fe
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