As palavras ficaram suspensas no ar, densas, impossíveis de ignorar. Darya não respondeu. Limitou-se a fitá-lo, sentindo-se arrastada por uma corrente que não compreendia. Uma parte dela queria fugir, outra parte queria ficar. O coração batia-lhe tão depressa que parecia doer, e pela primeira vez em muito tempo, não teve medo do mundo à sua volta… mas do que podia nascer dentro dela.
Desde o momento em que se afastou de Matteo, Darya sentia o peso do olhar dele a segui-la. Era como o olhar de um predador que estudava a presa, paciente, à espera da abertura certa. Não havia ameaças naqueles olhos, apenas uma intensidade que a fazia estremecer por dentro. Cada gesto dela, ao arrumar a mesa, ao ajeitar os talheres, ao respirar fundo, parecia observado, medido, analisado.
Tentava concentrar-se no gesto que a levara até ali: preparar o pequeno-almoço como uma forma de agradecimento. Mas, depois da confissão inesperada e do beijo que ainda lhe queimava nos lábios, nada parecia simples.