Ela acreditava que a fé a protegeria. Ele acreditava que nada o poderia abalar. Quando a jovem freira Alena Petrova é atacada e quase violentada numa estrada isolada, sua oração desesperada parece ter sido atendida. Um estranho aparece e a salva. Rico, misterioso e sombrio, Mikhail Vasiliev oferece abrigo e segurança. Mas o que parecia um milagre se transforma em pesadelo. Seduzido pela pureza que jamais conheceu, Mikhail entrega Alena a um leilão clandestino de mulheres virgens — apenas para depois sequestrá-la e tomá-la para si, movido por uma obsessão que desafia sua própria lógica. Agora prisioneira de um homem perigoso e impenetrável, Alena precisa manter sua fé viva, mesmo enquanto seu corpo e sua alma são testados. Mas talvez, em meio ao caos, ela descubra que o maior desafio não é fugir dele... e sim de si mesma.
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— Cinquenta mil rublos russos! Quem dá mais? — o leiloeiro falou e, a cada palavra dita por ele, meu coração se apertava e eu, de joelhos, segurando meu terço, rezava. — Meu Deus, se algum dia tivestes piedade de mim, por favor, me livra dessa situação ou me dá algum sinal. — minha voz soava quase sussurrada. Eu estava morrendo de medo. Eu sabia exatamente o que acontecia com todas as moças que eram leiloadas. Esses homens eram todos magnatas, cheios de hormônios e Deus sabia o que se passava na mente deles. Somente em pensar no que poderiam fazer comigo, eu já fazia o sinal da cruz, rogando para que alguma divindade me livrasse dessa prisão eterna. — Vamos lá, senhores! Ela é totalmente virgem, intocada. Vocês podem fazer melhor do que isso. — Cem mil! — ouvi alguém dizer e, mais uma vez, estremeci. — Cem mil rublos russos para o cavalheiro ali! Quem dá mais? — Cento e cinquenta mil! — Quinhentos mil! — Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! — o leiloeiro bateu o martelo, fechando a venda e, se eu pensava que as coisas não poderiam ficar piores, estava enganada. — Vendida para o cavalheiro ali. Eu realmente pensava que Deus estava me escutando, mas talvez, depois de encher o saco dele tantas vezes, ele tivesse se cansado de mim e permitido que eu fosse entregue a algum desses homens asquerosos. — Vamos, levanta daí! — eu continuava a rezar, mas fui interrompida quando um daqueles homens horríveis se aproximou e me puxou pelo braço, me forçando a levantar. — Por favor, senhor, por tudo o que é mais sagrado… Não me leve. — eu suplicava, com as mãos juntas e a voz chorosa, à medida que ele me levava. — Chegou a hora de ir rumo ao seu destino, gracinha. A partir de hoje, sua vida muda. — ele ria e dizia conforme me arrastava. Seguimos pelos corredores sob os olhares curiosos de várias mulheres que estavam ali — algumas talvez não tivessem nem dezoito anos e pareciam tão horrorizadas quanto eu pelo futuro que as aguardava. (...) Mikhail Vasiliev Eu já estava ali há algum tempo, apenas apreciando o espetáculo e dando aos idiotas a sensação de poder. A sensação de pensar que podiam obter o melhor da noite. Até então, eu não estava muito interessado na garota que estava sendo leiloada. Outras já haviam sido e eu também não me interessei muito. Era as mesmas coisas de sempre. Moças belas e só. Permanecia bebendo meu uísque e tragando a fumaça do meu charuto por vezes. Meu consigliere vinha a todo momento perguntar se eu não compraria nada, já que até agora não havia dado um único lance. E caso eu não o fizesse, já poderíamos ir embora, afinal, se assim fosse, não havia motivo para estarmos ali. Contudo, algo me dizia que o melhor da noite ainda estava por vir. E eu não estava errado em minha intuição. Ou talvez fossem as minhas bolas que falavam por mim. O que sei, é que no momento em que o leiloeiro afirmou que a garota que estava sendo leiloada era virgem, totalmente virgem, não pensei duas vezes e pensei em fazer um lance, porém, outro homem o fez em meu lugar, me deixando emputecido. Meu pau pulsou. Minhas bolas pesaram. E eu só conseguia imaginar tudo o que poderia fazer entre quatro paredes com ela. Essa garota seria o meu mais novo brinquedinho. Minha presa. Eu não a perderia. — Vá até o leiloeiro e avise que eu quero a garota. — informei ao meu consigliere. — Mas a venda já foi feita… — Você não é pago para fazer perguntas e, sim, para me obedecer. Vá até ele. — ordenei com rispidez. Mesmo contra sua vontade, vi ele seguindo em direção ao leiloeiro, informando que queria falar algo e, logo em seguida, sussurrar alguma coisa no ouvido dele e apontar para mim, que ergui brevemente o copo em minha mão, como um sinal de certeza do que eu queria. O homem me encarou, depois ao meu consigliere e os dois pareciam discutir. Fosse o que fosse, eu já estava ficando impaciente. Vi meu consigliere descer e caminhar até mim. — Então? — perguntei com as sobrancelhas arqueadas. — Nada feito. Ele disse que não pode desfazer um negócio. — dito isso, ele sentou ao meu lado. Ponderei por um tempo e talvez eu devesse deixar isso para lá. Mas não, eu a queria. E meu saco só estaria satisfeito depois de tê-la. Levantei-me, apagando o charuto e o deixando no cinzeiro, então fui até o leiloeiro. — Não ouviu o que meu soldado disse? — questionei, o impedindo de prosseguir com o leilão. — Por favor, senhor, estou ocupado. E há muitas moças sendo leiloadas, você pode encontrar alguma do seu gosto. — sem me olhar, ele disse. — Acontece que eu já encontrei o que quero e quero ela. Desfaça o negócio. Eu pago o dobro, até o triplo do que ele pagou. — Escuta aqui, senhor — virou de frente para mim e as pessoas ao redor olhavam para nós, mas eu estava pouco me fodendo para isso. — Meu trabalho não é chacota, não posso desfazer um trato assim por causa de uma vagabunda. Vagabundas aqui tem de sobra, é só você escolher. Se eu fizer o que está me pedindo, o chefe acabaria com nós dois. Inclusive, ela já está na sala dos fundos, atestando a virgindade com o ginecologista. Sem dar importância ao que ele dizia, saí de sua presença, descendo a escadinha do lugar onde ele estava e segui pelo corredor, procurando a tal sala. Depois de abrir diversas portas, finalmente encontrei o que eu queria. A garota estava deitada, de pernas abertas sobre a maca e com as mãos juntas, rezando incessantemente, me fazendo franzir o cenho. — Ela realmente é virgem. — isso foi como música para os meus ouvidos. — Levanta, sua puta! — o homem que a comprou e estava ali, ao lado do médico, falou. — Vou te levar para um lugar em que irá rezar bastante. — Quanto você quer para me entregá-la? — questionei o homem assim que invadi a sala. — Acha mesmo que eu me desfaria de uma donzela com o rabo virgem…? — comentou, rindo. — Eu cubro o valor que você pagou. Não se preocupe. Apenas me entregue ela. — Já disse que não. É melhor ir embora! Eu não era um homem paciente e até tentei negociar. No entanto, quando as coisas não corriam como eu queria, eu precisava fazer do meu jeito. Saquei minha arma e atirei bem no meio do seu peito, o fazendo cair de joelhos com a boca sangrando. — Meu Deus do céu! — espantada e amedrontada, a garota proferiu e fechou as pernas. O médico, por sua vez, apenas ergueu as mãos em sinal de rendição. Sem pensar demais, me aproximei da garota e a puxei pelo braço, praticamente a arrastando e saí dali com a arma apontada em riste para o caso de ela tentar fugir ou algum idiota ousar bater de frente comigo. — Vo… Você vai me vender para outra pessoa? — me perguntou, gaguejando, enquanto eu a arrastava, porém, não respondi. Permaneci calado. — Você está louco? — o leiloeiro me barrou em certo ponto, se pondo na frente dela. — Não pode fazer isso. Eles irão atrás de você. — Estarei aguardando. Agora, ou você sai da minha frente por bem ou por mal. Você escolhe. Ele dividiu seu olhar entre mim e a garota, engoliu em seco, mas liberou a passagem. Seguimos andando e, do lado de fora, a coloquei dentro do carro, batendo a porta e indo para o lado do motorista. — Não sei se devo agradecer a Deus por você ter aparecido e me tirado das mãos daquele homem. Pensei que ele não me ouvisse mais. — enquanto eu dirigia, ela disse. — Deus não tem nada a ver com isso. O aperto em minha calça, sim. — falei, pela primeira vez, sem tirar os olhos da direção. Em seu lugar, eu não agradeceria. Ela não fazia ideia do que a aguardava.Alena PetrovaSemanas depois…Eu nunca imaginei que uma cena pudesse se repetir com tanto significado. Semanas atrás, eu estava diante de um espelho, assustada, insegura, sem saber se merecia estar ali. Agora, estou no mesmo lugar, mas tudo era diferente. O reflexo que me encarava no espelho vestia o mesmo tipo de vestido, mas desta vez eu carregava no olhar uma certeza que antes não existia: estava prestes a me casar com o homem da minha vida.Passei a ponta dos dedos pelo tecido branco que descia em ondas suaves até o chão. O vestido era um sonho que parecia ter sido tecido com as próprias mãos do destino. A renda delicada formava desenhos de flores e arabescos, como se cada ponto tivesse sido feito para mim. O decote era discreto, mas realçava o suficiente para me fazer sentir bonita, confiante, sem excessos. A saia fluida balançava levemente cada vez que eu me movia, como se respirasse junto comigo.Meus olhos, involuntariamente, caíram para as mãos que repousavam na altura do meu
Alena PetrovaEu não sabia o que pensar. Juro que, por um segundo, cheguei a acreditar que minha visão estava pregando uma peça em mim. Mas não. Era ele. Em carne, osso e com aquele maldito sorriso presunçoso que me fazia perder o ar.Mikhail estava ali.Minha mãe, que até então observava a cena, tão tranquila quanto ele, levantou devagar, como se tivesse compreendido algo que nem eu mesma conseguia. — Com licença, eu vou deixá-los a sós. — Disse. E eu ainda tive a ligeira impressão de vê-la dando uma piscadela para Mikhail.Eu fiquei sem reação. Apenas pigarreei, tentando engolir a avalanche de emoções que se chocava dentro de mim, e soltei a primeira coisa que me veio à cabeça:— O que você quer?Ele ergueu uma sobrancelha, quase divertido com a minha hostilidade.— Apenas conversar.A risada escapou da minha garganta antes que eu pudesse impedir. Irônica, quase amarga.— Conversar? É engraçado você dizer isso, Mikhail, porque foi exatamente o que eu tentei fazer. E adivinha? Você
Alena PetrovaEu sempre gostei de livrarias. Mesmo não tendo visitado muitas durante os anos em que estive no convento. Talvez porque nelas eu pudesse fingir, mesmo que por algumas horas, que minha vida era tão simples quanto escolher um novo romance para ler e me perder em suas páginas. Estava sentada em uma cafeteria aconchegante no centro da cidade, com um livro aberto diante de mim e o aroma de café fresco preenchendo o ar. Era um daqueles dias comuns, banais, em que nada parecia fora do lugar.Ou pelo menos deveria ser.Eu já tinha lido a mesma frase três vezes, quando uma sombra se projetou sobre minha mesa. Levantei os olhos e vi uma garçonete sorridente, segurando um copo de café fumegante.— Aqui está. — Ela disse, depositando-o na mesa.Franzi a testa, confusa.— Eu… eu não pedi isso.A garota apoiou a bandeja no quadril e se inclinou levemente, como se estivesse prestes a me contar um segredo.— Eu sei. — respondeu com um brilho divertido nos olhos. — Só estou cumprindo ord
Mikhail Vasiliev O corredor parecia mais longo do que nunca. Cada passo que eu dava me deixava mais ansioso, como se o coração fosse explodir dentro do peito. Eu estava cansado de tanto silêncio, cansado da distância que criei entre mim e Alena. Por mais magoado que estivesse, eu ainda a amava. Era isso que me impulsionava, o que me fazia chegar mais rápido ao quarto que dividíamos.A maçaneta deslizou na minha mão e eu empurrei a porta devagar. O cheiro doce do perfume dela estava no ar, e por um segundo, me permiti acreditar que a veria ali, deitada, não no quarto onde disse que sua mãe deveria ser colocada. Talvez fingindo que dormia, ou sentada na cama. Mas a ilusão durou pouco.O quarto estava arrumado demais. Arrumado e… vazio.Meus olhos correram rápido pelas prateleiras, pela penteadeira, pelo espaço ao lado do guarda-roupa. As roupas que sempre chamavam minha atenção não estavam mais lá. A mala que ela mantinha guardada debaixo da cama também não. Cada detalhe gritava a ausê
Alena PetrovaEu e minha mãe deixamos para trás aquele galpão e todas as memórias que grudavam nas paredes como poeira velha. Não foi fácil, mas havia um certo alívio em respirar o ar de outro lugar, mesmo que o peito ainda doesse.Decidimos nos mudar e encontramos uma casinha simples na cidade vizinha. Nada luxuoso, mas tinha uma varanda pequena que pegava sol de manhã, e eu me apaixonei pelo barulho suave das folhas batendo na janela. Minha mãe passava horas sentada ali, como se cada raio de sol fosse um remédio para curar as cicatrizes invisíveis que ela carregava.No começo, ela parecia frágil, como se qualquer vento mais forte pudesse derrubá-la. Mas, pouco a pouco, vi aquela mulher que eu sempre admirei voltar a respirar fundo, cozinhar, até arriscar cantarolar enquanto mexia uma panela. E eu sabia o quanto isso significava. Numa dessas manhãs, quando o cheiro de café fresco enchia a cozinha, minha mãe me chamou para sentar. A expressão dela era séria, mas havia uma calma que e
Alena PetrovaEntrei no quarto devagar, com medo de acordá-la. Mamãe já estava deitada, o rosto sereno, mas os olhos abriam e fechavam como se lutassem contra o cansaço. Olga ajeitava os lençóis com aquele cuidado de quem já havia feito aquilo mil vezes, mas ainda assim tratava cada movimento como único.— Está tudo bem, senhorita Alena? — foi só quando Olga perguntou que me dei conta de que chorei em silêncio, pois senti meu rosto molhado.Respirei fundo e enxuguei o rosto, piscando algumas vezes e forçando um sorriso.— Está sim, Olga. — ela claramente não pareceu acreditar muito, mas também não insistiu no assunto. — Está mais confortável agora? — perguntei baixinho à minha mãe.Ela apenas sorriu, cansada, e fechou os olhos. Sentei na beira da cama e segurei sua mão. A pele estava fria. Passei o polegar devagar pelas veias que desenhavam seu braço, como se esse gesto pudesse ancorá-la aqui comigo.Olga saiu em silêncio, deixando-nos sozinhas. Mas eu sabia que se precisasse, a qualq
Último capítulo