Capítulo 2

Alena Petrova 

Eu estava vivendo um inferno. Não fazia ideia de quando isso iria acabar e se iria acabar.

Já fazia aproximadamente uma semana que eu estava ali e todo santo dia, quando aqueles caras vinham entregar uma gororoba que chamavam de comida — um tipo de mingau bem empapado — eles jogavam os pratos para nós. Às vezes, a comida caía no chão, sujando tudo e sobrava um restinho nos pratos, que dava para comer. Outras vezes, ia tudo direto ao chão e, caso não comêssemos, levávamos uma surra.

Era horrível.

Eu vinha rezando escondido, rogando a Deus todo dia, quando nenhum deles estava vendo, por um sinal. Eu me recusava acreditar que minha vida fosse acabar dessa maneira. Contudo, o dia que eu seria leiloada estava chegando e a esperança indo embora.

O dia do leilão chegou e eu ainda não tinha perdido a esperança. Ela estava brilhando bem fraca lá no fundo da minha alma, mas ainda resistia.

— Sabe que isso não vai adiantar, né? Seremos todas vendidas. — uma das mulheres que aguardava sua vez, falou comigo, enquanto eu, ajoelhada, rezava o terço.

— Ainda tenho fé. Até o último segundo. Você deveria fazer o mesmo e não se conformar com isso. — falei com ela.

— Perdi minha fé há muito tempo. Acho que Deus nem mesmo existe. E se existe, nunca me ouviu.

— Não ouviu mesmo. — a voz do leiloeiro soou, nos interrompendo, quando ele veio buscá-la. — É a sua vez. 

Não deu nem tempo para nos despedirmos, pois rapidamente ele a levou.

Enquanto isso, eu continuava a rezar e cada vez que uma das mulheres saía, eu rogava a Deus ainda mais.

Me sentia suja diante dele com todas aquelas roupas curtas e maquiagem extravagante com a qual me produziram. Parecia uma puta de luxo, mas eles pareciam apreciar isso.

Eles me pegaram e me deixaram bem próximo do lugar onde estava acontecendo o leilão, depois de me exibir como um objeto para os homens que ali estavam e o leiloeiro começou.

— Cinquenta mil rublos russos! Quem dá mais? — o leiloeiro falou e, a cada palavra dita por ele, meu coração se apertava e eu, de joelhos, segurando meu terço, rezava.

Enquanto eu rezava, minha voz soava quase sussurrada. Eu estava morrendo de medo.

No fim, depois de vários lances, não teve jeito. Eu fui comprada e aquele seria o meu novo destino.

(...)

Após ser levada para uma sala onde atestariam que eu realmente era virgem, foi tudo muito pior do que pensei. Me colocaram deitada numa maca, onde o médico abria minhas pernas e o homem que havia me comprado parecia fissurado com sua aquisição, que no caso era eu. Ele olhava para o meu corpo com desejo e eu temia ainda mais pelo que se seguiria quando saíssemos dali com ele me levando embora.

Eles conversavam como se eu não estivesse ali, e o homem que me comprou me chamava de puta. Até que outro homem, o mesmo que havia me levado para ali e havia me vendido, apareceu, querendo me negociar com o homem que me comprou no leilão.

— Acha mesmo que eu me desfaria de uma donzela com o rabo virgem…? — comentou, rindo como se eu fosse uma mercadoria.

— Eu cubro o valor que você pagou. Não se preocupe. Apenas me entregue ela.

— Já disse que não. É melhor ir embora! 

Eu não sabia se gritava, chorava ou agradecia por ele estar ali. No entanto, não fazia ideia do que ele queria comigo.

Repentinamente, o cenário mudou quando o homem que me comprou não aceitou me vender a ele, o que o fez matá-lo. Fiquei horrorizada. Minha mente girou e isso só me deixou ainda mais amedrontada. 

Ele saiu me puxando, apontando a arma para a frente e eu temia que a disparasse em mim. Vindo dessas pessoas, tudo podia ser esperado.

O leiloeiro até tentou impedi-lo, mas foi em vão e acabou nos deixando passar.

Ele me colocou no carro e saiu a toda velocidade. Calada eu estava e assim continuei. Tinha medo até de respirar perto dele.

— O que você vai fazer comigo, moço? — perguntei chorosa, tomando coragem de falar após algum tempo. — Me leva para casa, por favor.

Ele não me respondeu e, lembrando de como agiu da última vez, fui tomada por uma sensação de desespero e comecei a chorar.

— Não começa a chorar, que isso me dá nos nervos! — ele proferiu, batendo no volante.

— Eu só quero ir para casa…

— Escute bem. Se eu te levar para casa, eles irão atrás de você e vão te trazer novamente. É isso que quer? — falou com rispidez.

Sem conseguir falar e fungando, balancei a cabeça em negação.

— Então, faça um favor para nós dois e pare de chorar! Você vai ficar bem. 

Essas foram suas últimas palavras durante o trajeto. Depois disso, tentei manter a calma e acreditar que as coisas não poderiam piorar.

(...)

— Onde estamos? — perguntei quando ele finalmente parou e travou o carro.

Inicialmente, ele não me respondeu.

— Você vai me manter presa aqui? 

— Você sempre faz tantas perguntas assim? Já te disseram o quanto isso é chato? — falou com impaciência.

— Desculpa. — encolhi os ombros e saí do carro, mesmo com medo.

Ele me guiou pelo lugar imenso. Era uma mansão, que inclusive me deixou deslumbrada ao entrar.

— Essa é a sua casa? 

— Sim. 

— Vou ficar aqui com vo… Você? — gaguejei.

— Ao menos por enquanto, sim. 

Ele não parou, continuou andando, enquanto isso, eu parecia uma barata tonta, admirando tudo ao redor. Mas seria impossível não fazer isso, porque era tudo muito lindo e eu não estava acostumada.

Parecia que ele estava no telefone, discutindo com alguém. Eu não queria, mas foi inevitável não prestar atenção.

— Deixa que eu resolvo. Não se envolva em meus negócios. — ele disse. — Ok. Apenas faça o que eu disser. Se perguntarem, você não sabe de nada.

Estava olhando as fotos dispostas no aparador ao lado da porta, quando ouvi sua voz rouca soar atrás de mim:

— Vou te mostrar seu quarto. 

Segui atrás dele e subimos uma escada, passando por um corredor extenso. E o homem abriu uma porta, revelando um quarto imenso.

— Eu posso tomar banho? 

— Sim. E pode pegar as roupas da minha irmã emprestadas. Esse quarto é dela. — franzi o cenho, preocupada que ela se incomodasse por eu estar invadindo seu espaço. — Fique tranquila, ela vai gostar de ter companhia. — falou como se lesse meus pensamentos.

Ele iria saindo, mas eu o fiz parar.

— Moço — fiz uma pausa. — Obrigada. Eu realmente não sei porque me salvou e pela segunda vez, apesar de tudo, mas obrigada.

— Não me agradeça. Ainda não sei o que farei com você.

— Obrigada mesmo assim.

Não tinha certeza se ele ouviu minhas últimas palavras, porque saiu, me deixando sozinha ali.

Como uma boa curiosa, analisei o quarto, cada canto dele e vi algumas fotos. Em seguida, tirei a roupa que usava e fui até o banheiro. 

Nua, debaixo do chuveiro, sentindo a água morna caindo sobre meu corpo, me senti aliviada. Fazia tempo que não tomava um banho de verdade, porque até isso era regrado no lugar onde eu estava sendo mantida em cárcere.

Me certifiquei de tirar toda aquela maquiagem e o cheiro do perfume de puta que me obrigaram a usar.

Saí do banheiro, me enrolei numa toalha e fui até o guarda-roupa para ver se encontrava algo que me servisse para vestir.

Vasculhei, vasculhei, não conseguindo encontrar nada porque aparentemente a irmã dele tinha mais corpo do que eu e tudo ficava folgado em mim

Decidi usar uma camisa de mangas, que por eu ser magrela, acabou cobrindo tudo o que era necessário e eu não me sentiria bem estando na casa de um homem vestida de forma vulgar.

Mesmo entediada e com fome, achei melhor ficar no quarto. Fiquei andando de um lado para o outro por horas. Sentava na cama, deitava, olhava o céu pela porta da sacada, não fazia ideia de quanto tempo havia passado. Até que meu estômago roncou e decidi ir em busca de algo para comer.

Saí do quarto e segui pelo mesmo caminho que ele havia me trazido. O procurei na sala e ele não estava. Continuei andando e cheguei na cozinha, sentindo meu estômago roncar devido ao cheiro de comida que emanava dali.

Ponderei se haveria algum problema mexer nas panelas, mas estava faminta. Então, mexi nos armários e não encontrei nenhum prato. Acabei encontrando uma forma com pão recém saído do forno. Cortei um pedaço e experimentei, estava delicioso.

Segurando a fatia do pão, fui até as panelas e coloquei um pouco do que parecia ser carne muito bem cozida e temperada. Fazia dias que não comia bem. Eu precisava muito.

— O que está fazendo? — levei um susto quando sua voz soou atrás de mim.

Estagnei e deixei o pão cair no chão. Como havia pegado um pouco da carne com caldo no miolo do pão, acabou sujando o chão.

Eu estava com medo de virar de frente e dar de cara com um homem extremamente irritado, porém, pelo contrário, virei nos calcanhares lentamente e a imagem à minha frente me deixou sem palavras.

Ele estava apenas com uma toalha enrolada na cintura, muito cheiroso, de cabelos e peito molhados.

Tentei não encarar, mas foi impossível e acabei corando, envergonhada e pedindo perdão a Deus pelos pensamentos impuros que rondavam a minha mente nesse momento.

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