Alena Petrova
— Cinquenta mil rublos russos! Quem dá mais? — o leiloeiro falou e, a cada palavra dita por ele, meu coração se apertava e eu, de joelhos, segurando meu terço, rezava. — Meu Deus, se algum dia tivestes piedade de mim, por favor, me livra dessa situação ou me dá algum sinal. — minha voz soava quase sussurrada. Eu estava morrendo de medo. Eu sabia exatamente o que acontecia com todas as moças que eram leiloadas. Esses homens eram todos magnatas, cheios de hormônios e Deus sabia o que se passava na mente deles. Somente em pensar no que poderiam fazer comigo, eu já fazia o sinal da cruz, rogando para que alguma divindade me livrasse dessa prisão eterna. — Vamos lá, senhores! Ela é totalmente virgem, intocada. Vocês podem fazer melhor do que isso. — Cem mil! — ouvi alguém dizer e, mais uma vez, estremeci. — Cem mil rublos russos para o cavalheiro ali! Quem dá mais? — Cento e cinquenta mil! — Quinhentos mil! — Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! — o leiloeiro bateu o martelo, fechando a venda e, se eu pensava que as coisas não poderiam ficar piores, estava enganada. — Vendida para o cavalheiro ali. Eu realmente pensava que Deus estava me escutando, mas talvez, depois de encher o saco dele tantas vezes, ele tivesse se cansado de mim e permitido que eu fosse entregue a algum desses homens asquerosos. — Vamos, levanta daí! — eu continuava a rezar, mas fui interrompida quando um daqueles homens horríveis se aproximou e me puxou pelo braço, me forçando a levantar. — Por favor, senhor, por tudo o que é mais sagrado… Não me leve. — eu suplicava, com as mãos juntas e a voz chorosa, à medida que ele me levava. — Chegou a hora de ir rumo ao seu destino, gracinha. A partir de hoje, sua vida muda. — ele ria e dizia conforme me arrastava. Seguimos pelos corredores sob os olhares curiosos de várias mulheres que estavam ali — algumas talvez não tivessem nem dezoito anos e pareciam tão horrorizadas quanto eu pelo futuro que as aguardava. (...) Mikhail Vasiliev Eu já estava ali há algum tempo, apenas apreciando o espetáculo e dando aos idiotas a sensação de poder. A sensação de pensar que podiam obter o melhor da noite. Até então, eu não estava muito interessado na garota que estava sendo leiloada. Outras já haviam sido e eu também não me interessei muito. Era as mesmas coisas de sempre. Moças belas e só. Permanecia bebendo meu uísque e tragando a fumaça do meu charuto por vezes. Meu consigliere vinha a todo momento perguntar se eu não compraria nada, já que até agora não havia dado um único lance. E caso eu não o fizesse, já poderíamos ir embora, afinal, se assim fosse, não havia motivo para estarmos ali. Contudo, algo me dizia que o melhor da noite ainda estava por vir. E eu não estava errado em minha intuição. Ou talvez fossem as minhas bolas que falavam por mim. O que sei, é que no momento em que o leiloeiro afirmou que a garota que estava sendo leiloada era virgem, totalmente virgem, não pensei duas vezes e pensei em fazer um lance, porém, outro homem o fez em meu lugar, me deixando emputecido. Meu pau pulsou. Minhas bolas pesaram. E eu só conseguia imaginar tudo o que poderia fazer entre quatro paredes com ela. Essa garota seria o meu mais novo brinquedinho. Minha presa. Eu não a perderia. — Vá até o leiloeiro e avise que eu quero a garota. — informei ao meu consigliere. — Mas a venda já foi feita… — Você não é pago para fazer perguntas e, sim, para me obedecer. Vá até ele. — ordenei com rispidez. Mesmo contra sua vontade, vi ele seguindo em direção ao leiloeiro, informando que queria falar algo e, logo em seguida, sussurrar alguma coisa no ouvido dele e apontar para mim, que ergui brevemente o copo em minha mão, como um sinal de certeza do que eu queria. O homem me encarou, depois ao meu consigliere e os dois pareciam discutir. Fosse o que fosse, eu já estava ficando impaciente. Vi meu consigliere descer e caminhar até mim. — Então? — perguntei com as sobrancelhas arqueadas. — Nada feito. Ele disse que não pode desfazer um negócio. — dito isso, ele sentou ao meu lado. Ponderei por um tempo e talvez eu devesse deixar isso para lá. Mas não, eu a queria. E meu saco só estaria satisfeito depois de tê-la. Levantei-me, apagando o charuto e o deixando no cinzeiro, então fui até o leiloeiro. — Não ouviu o que meu soldado disse? — questionei, o impedindo de prosseguir com o leilão. — Por favor, senhor, estou ocupado. E há muitas moças sendo leiloadas, você pode encontrar alguma do seu gosto. — sem me olhar, ele disse. — Acontece que eu já encontrei o que quero e quero ela. Desfaça o negócio. Eu pago o dobro, até o triplo do que ele pagou. — Escuta aqui, senhor — virou de frente para mim e as pessoas ao redor olhavam para nós, mas eu estava pouco me fodendo para isso. — Meu trabalho não é chacota, não posso desfazer um trato assim por causa de uma vagabunda. Vagabundas aqui tem de sobra, é só você escolher. Se eu fizer o que está me pedindo, o chefe acabaria com nós dois. Inclusive, ela já está na sala dos fundos, atestando a virgindade com o ginecologista. Sem dar importância ao que ele dizia, saí de sua presença, descendo a escadinha do lugar onde ele estava e segui pelo corredor, procurando a tal sala. Depois de abrir diversas portas, finalmente encontrei o que eu queria. A garota estava deitada, de pernas abertas sobre a maca e com as mãos juntas, rezando incessantemente, me fazendo franzir o cenho. — Ela realmente é virgem. — isso foi como música para os meus ouvidos. — Levanta, sua puta! — o homem que a comprou e estava ali, ao lado do médico, falou. — Vou te levar para um lugar em que irá rezar bastante. — Quanto você quer para me entregá-la? — questionei o homem assim que invadi a sala. — Acha mesmo que eu me desfaria de uma donzela com o rabo virgem…? — comentou, rindo. — Eu cubro o valor que você pagou. Não se preocupe. Apenas me entregue ela. — Já disse que não. É melhor ir embora! Eu não era um homem paciente e até tentei negociar. No entanto, quando as coisas não corriam como eu queria, eu precisava fazer do meu jeito. Saquei minha arma e atirei bem no meio do seu peito, o fazendo cair de joelhos com a boca sangrando. — Meu Deus do céu! — espantada e amedrontada, a garota proferiu e fechou as pernas. O médico, por sua vez, apenas ergueu as mãos em sinal de rendição. Sem pensar demais, me aproximei da garota e a puxei pelo braço, praticamente a arrastando e saí dali com a arma apontada em riste para o caso de ela tentar fugir ou algum idiota ousar bater de frente comigo. — Vo… Você vai me vender para outra pessoa? — me perguntou, gaguejando, enquanto eu a arrastava, porém, não respondi. Permaneci calado. — Você está louco? — o leiloeiro me barrou em certo ponto, se pondo na frente dela. — Não pode fazer isso. Eles irão atrás de você. — Estarei aguardando. Agora, ou você sai da minha frente por bem ou por mal. Você escolhe. Ele dividiu seu olhar entre mim e a garota, engoliu em seco, mas liberou a passagem. Seguimos andando e, do lado de fora, a coloquei dentro do carro, batendo a porta e indo para o lado do motorista. — Não sei se devo agradecer a Deus por você ter aparecido e me tirado das mãos daquele homem. Pensei que ele não me ouvisse mais. — enquanto eu dirigia, ela disse. — Deus não tem nada a ver com isso. O aperto em minha calça, sim. — falei, pela primeira vez, sem tirar os olhos da direção. Em seu lugar, eu não agradeceria. Ela não fazia ideia do que a aguardava.