Alena Petrova
Uma semana antes… Depois de passar uns dias com a minha mãe, estava de volta ao convento. Havia pegado o primeiro ônibus e tive que saltar em um lugar deserto para fazer a baldeação. Minha mãe morava em uma cidade do interior e os ônibus passavam somente de quatro em quatro horas. Infelizmente, para o meu azar, o primeiro quebrou e, para não perder o horário do segundo, decidi terminar o trajeto andando. Quando estava bem próximo ao ponto, vi o ônibus partindo. Até tentei correr, na tentativa de chamar a atenção do motorista, mas foi em vão. Agora, precisaria manter a atenção redobrada e olhar para ambos os lados. Caso viesse algum ônibus voltando para a casa de minha mãe, eu pegaria. Pois ficar ali seria muito perigoso. Sentei num banquinho velho de madeira, sentindo o sol quente acima da minha cabeça me castigar, porque por ser interior, os pontos de ônibus não tinham cobertura. Por vezes, passava a mão na testa, limpando o suor que escorria. E o fato de estar usando meu hábito, apenas colaborava para isso. Fiquei ali um bom tempo e nada de o ônibus vir, apenas alguns homens bastante suspeitos me oferecendo carona. Mesmo usando o hábito, eles não respeitavam. Que Deus tivesse misericórdia de suas mentes perversas e pervertidas. Passaram-se aproximadamente três horas e nada de o ônibus vir, já estava querendo anoitecer. O sol já estava prestes a se pôr. E eu começava a me preocupar. Repentinamente, dois homens saíram de uma estrada de barro na pista e vieram em minha direção. — Ei, gatinha! — um deles falou. — O que será que tem por baixo dessa roupa? Que tal a gente tirar e ver o que você tá escondendo? — ele se aproximou de mim e eu levantei do banco, recuando. Andei alguns passos para trás, mas não havia muito o que ser feito, eles estavam muito perto. — Me deixem em paz, por favor… — pedi, suplicante. — Você vai se divertir, coisa linda. — o outro falou. — É só colaborar com a gente. — Socorro!!! — gritei, mas isso só piorou minha situação, porque eles me arrastaram mato adentro. Comecei a rezar mentalmente à medida que me debatia, tentando me soltar. — SOCORRO!!! — gritei novamente, mas tudo o que me aconteceu, foi levar um tapa no rosto. — Cala a porra dessa boca! — o primeiro falou, segurando meu queixo com força, enquanto o outro tentava subir meu hábito e puxar minha calcinha. Fechei meus olhos, ainda rezando e esperei que o pior acontecesse. No entanto, ouvi um som estranho, o que me fez abrir os olhos. Vi um homem de terno e gravata em cima deles, socando a cara dos dois com força, porém, depois de algum tempo, eles conseguiram se livrar e saíram correndo. Eu respirava fundo. Não sabia se estava assustada por quase ter sido estuprada ou pelo homem que me salvou e a maneira dele ir para cima dos dois. — Sugiro que tenha mais cuidado da próxima vez. — ele falou comigo enquanto pegava meus pertences que haviam sido jogados no chão. — Aqui não é lugar para uma religiosa estar sozinha. — me olhou de cima a baixo com seriedade. Seu tom era ríspido. Tudo o que fiz foi menear a cabeça em concordância. Ainda estava bastante assustada. — Tenho uma irmã que é como uma filha para mim. — me entregou meus pertences e estendeu a mão para me ajudar a levantar. — Meu pai morreu, então precisei tomar conta da minha família. Vem, vou te levar para casa. — ele gesticulou com a cabeça para que eu o seguisse. Até fiquei um pouco receosa, mas que mal um homem que me ajudou, por obra divina, poderia me fazer? Então o acompanhei, aceitando sua carona. (...) Estávamos a caminho do endereço que lhe passei, quando uma chuva torrencial começou a cair. Ele ainda continuou dirigindo por um tempo, até ver que não teria mais como prosseguir. — Teremos que passar a noite em algum hotel. É perigoso dirigir debaixo de chuva. — me informou, olhando em seu GPS no painel do carro. Não havia muito o que eu pudesse fazer, senão aceitar. Finalmente, depois de dirigir mais um pouco, ele parou em frente a um hotel. Não era muito luxuoso, mas certamente era mais caro do que eu poderia pagar com minhas economias dadas por minha mãe, o que me preocupou. Descemos do carro e eu estagnei. Vendo minha atitude, ele parou e me encarou. — Algo errado? — perguntou. — Desculpa, moço, mas não tenho dinheiro para ficar aqui. — respondi envergonhada. — Não se preocupe com isso. Vamos? — ele apontou para a entrada do lugar e, mesmo hesitante, eu fui. O homem permitiu que eu entrasse primeiro e, enquanto eu me deslumbrava com a beleza do lugar, ainda que simples, com um estilo meio rústico, ele foi até o balcão da recepção. Acabei parando e o encarando. Ele era muito lindo e atraente. Observei cada detalhe seu. Desde a barba por fazer, os olhos claros, a boca desenhada, até o jeito como falava com a recepcionista e repreendi-me mentalmente ao sentir um leve formigamento entre minhas pernas. Algo bastante estranho. Eu estava em pecado. Se isso era o tal desejo do qual as pessoas profanas falavam, eu não poderia jamais pensar em algo assim. Perdoe-me, senhor! — Está com fome? — perguntou ao se aproximar de mim. Eu queria dizer que não, mas meu estômago roncou, me fazendo corar. — Não há do que se envergonhar. Vamos comer alguma coisa. — ele esboçou um pequeno sorriso e me guiou até o restaurante.