por trás do olhar

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Romance
Última atualização: 2025-05-27
Ícaro wolf  Atualizado agora
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Índice

Ele sempre esteve ali. Observando. Esperando. Amando em silêncio. Luck Valley é um homem solitário, inteligente e perturbadoramente calmo. À primeira vista, apenas mais um rosto na multidão. Mas por trás de seu olhar há um universo sombrio onde amor, obsessão e delírio se confundem perigosamente. Durante uma misteriosa entrevista, Luck decide contar sua história — ou pelo menos, a versão que escolheu revelar. A jornalista que o escuta não imagina que está mergulhando em uma narrativa inquietante, onde a linha entre vítima e perseguidor se apaga. Ele fala sobre Dara Silver, a mulher que mudou tudo. A musa inalcançável que ele jurou proteger... mesmo que para isso precisasse manipular, destruir e matar. Mas quanto mais ele revela, mais a verdade escapa por entre as palavras. No fim, o maior mistério não é quem ele seguiu, mas por quê. Porque às vezes, o monstro não está na sombra... ele está dentro do olhar.

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Capítulo 1

O entrevistado

As luzes do auditório se apagaram lentamente, mergulhando a sala em uma penumbra envolvente. Apenas o centro do palco permanecia iluminado por um foco branco, solitário, que parecia destacar não apenas a figura de Luck Valley, mas também a expectativa pulsante da plateia. O silêncio era absoluto, exceto pelo som dos passos firmes de Luck, ecoando como batidas de um coração ansioso no chão de madeira polida. A plateia continha a respiração, como se cada espectador estivesse preso em um momento suspendido no tempo. Ali estava ele, o ícone da música contemporânea, uma figura marcada por mistérios e escândalos sussurrados que dançavam como sombras em sua carreira.

Segurando o microfone, Luck fechou os olhos por um instante, permitindo que a melodia suave de "No Matter the Miles" flui-se ao fundo, como um rio tranquilo. Quando ele começou a cantar, sua voz ressoou no auditório: grave, melancólica, impregnada de uma dor que parecia vir de um lugar remoto dentro dele. Era como se, em cada nota, ele estivesse confessando segredos que eram muito pesados para serem ditos em palavras. Quando a última nota se dissipou no ar, a plateia explodiu em aplausos ensurdecedores. Mas Luck mal os ouviu. Seu olhar estava distante, perdido em pensamentos que se entrelaçavam com o passado. Ele sabia o que vinha a seguir.

A luz da sala era baixa, quase preguiçosa, pendendo de um teto alto como se estivesse prestes a se apagar. O abajur lançava sombras longas sobre os móveis envelhecidos, criando um cenário que parecia saído de um filme noir. O cheiro de café requentado misturado ao leve odor de madeira úmida completava a atmosfera, evocando um senso de nostalgia e desconforto. Havia silêncio. Um silêncio que doía nos ouvidos, como uma pressão constante.

Luck Valley olhava para o gravador sobre a mesa como se fosse uma arma. O brilho metálico do botão vermelho piscava em sua mente como um sinal de alerta, provocando um arrepio que subia por sua espinha. Ali, naquela sala claustrofóbica, cercado por paredes que pareciam se fechar centímetro por centímetro, ele não era o músico que todos conheciam. Era apenas um homem prestes a se despir — não das roupas, mas da alma. A insegurança e o medo se entrelaçavam em seu peito, criando um nó que parecia impossível de desfazer.

E então veio o primeiro flash. Não uma lembrança completa, mas um vislumbre fugaz. Um par de olhos em um corredor mal iluminado. Um fio de cabelo solto que flutuava ao vento. Um sussurro que talvez nunca tenha existido, mas que ecoava em sua mente como um lamento. O rosto não aparecia, mas o vazio que aquela imagem deixava em seu peito era tão real quanto o som abafado do gravador quando finalmente foi ligado.

Ele engoliu seco, sentindo o gosto amargo da incerteza. Quais segredos essas memórias escondiam? O que mais estava enterrado nas profundezas de sua mente, esperando para ser revelado?

O clique da maçaneta. Um ranger breve. E ela entrou.

Os passos eram leves, quase calculados, como se cada movimento fosse parte de um ritual cuidadosamente ensaiado. Luck notou que ela usava botas discretas, um casaco de lã cinza que a envolvia como uma armadura, e os cabelos presos de forma prática, revelando uma expressão séria. Os olhos eram escuros, mas atentos — olhos de quem estava ali para ver mais do que as palavras revelariam, como se cada gesto seu fosse uma pergunta não dita.

Ela disse seu nome — Helena — com a formalidade de quem não esperava aproximação. Ainda assim, Luck sorriu. Não por simpatia, mas porque já estava analisando tudo ao seu redor. “Ela não confia em mim... Ainda bem,” pensou, sentindo um leve alívio ao perceber que não era o único a carregar o peso das expectativas.

Espero não ter demorado.

Não. Eu estava apenas... ensaiando o silêncio.

Ela riu de leve, talvez por educação, mas havia algo na forma como cruzou as pernas e posicionou o caderno que dizia: estou no controle. Luck não acreditava em controle. Nem nos outros, nem em si mesmo, e essa ideia o deixava inquieto.

Podemos começar? — ela perguntou, com um tom que não deixava espaço para hesitações.

Podemos... Mas, posso te fazer uma pergunta antes?

Ela arqueou uma sobrancelha, intrigada.

Claro.

Você acredita que algumas pessoas nascem... quebradas?

A pausa dela foi curta, mas reveladora.

Acho que todos temos rachaduras. A diferença é o que fazemos com elas.

Luck sorriu.

Bonito. Isso vai pro meu próximo disco.

A gravação começou oficialmente. As primeiras perguntas eram as de sempre: origem, infância, influências musicais. Ele respondeu todas com cuidado, como se estivesse montando um quebra-cabeça, escolhendo com precisão o que revelar e o que ocultar. A cada palavra, Luck sentia que estava se despindo lentamente, mas ainda havia camadas que ele não estava pronto para compartilhar.

No fundo, o som de um ventilador de teto fazia um ruído constante, como se o tempo estivesse girando em círculos, refletindo a repetição de sua vida. “Ela ainda não percebeu.” “Mas está chegando lá.”

Helena perguntou sobre a primeira música. Em vez de responder de imediato, Luck apontou para o piano no canto da sala, coberto por um pano escuro que parecia esconder mais do que apenas um instrumento.

— Antes de qualquer canção, veio o silêncio. E o silêncio... ensinou mais do que qualquer som.

Ela anotou algo, mas seus olhos não deixaram os de Luck, como se estivesse tentando descobrir o que realmente pulsava por trás daquele homem enigmático.

Por um segundo, ele se perdeu ali, não por paixão, mas pela ideia. “E se eu reconstruísse tudo... diferente?” Um flash: uma escada de incêndio, passos apressados, alguém rindo ao telefone. Não havia cor, apenas ruído, um eco de lembranças que ele preferiria esquecer.

A sala parecia mais escura. Talvez fosse apenas a nuvem passando do lado de fora, obscurecendo a luz, ou talvez fosse ele, mergulhando em um abismo de lembranças. O ambiente pesado começou a refletir seu estado interno.

Helena percebeu.

Você parece desconfortável.

Estou apenas... voltando para um lugar onde o tempo não me reconhece.

Ela hesitou, a empatia transparecendo em seu olhar.

Esse lugar tem nome?

Tem. Mas não vai gostar dele.

Luck inclinou-se para frente, a voz agora baixa, íntima, quase confessional.

— A primeira vez que percebi que algo estava errado... eu tinha sete anos. Eu observava uma garota por dias. Ela morava na rua ao lado. Nunca falei com ela. Nunca. Mas sabia tudo: os horários, os gestos, os sorrisos que ela oferecia ao mundo.

Um dia, ela simplesmente sumiu.

Helena quase parou de escrever, o lápis pairando no ar.

— Eu soube que ela tinha se mudado. E naquele momento... eu chorei. Não por perdê-la. Mas porque alguém tinha levado o que era meu — mesmo que ela nunca soubesse.

O silêncio voltou. Mas agora era outro. Mais denso, como um nevoeiro entre eles, envolvendo-os em uma atmosfera de tensão palpável.

Helena não comentou. Apenas desligou o gravador, o som do botão ecoando como um sinal de fechamento.

Luck olhou para ela como quem olha para um espelho rachado, refletindo não apenas sua imagem, mas todos os fragmentos de sua alma.

Ainda quer ouvir o resto?

Ela assentiu lentamente, o olhar fixo em seus olhos, como se estivesse pronta para mergulhar mais fundo.

Ele então se recostou na poltrona, encarando o teto, como se ali estivessem todas as respostas que o mundo preferia ignorar. “Eu não sou um monstro... Mas se fosse, ela ainda me veria com os mesmos olhos?”

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