Helena segurava a fita como quem segura uma arma.
O porão da casa estava silencioso, mas dentro dela, tudo era ruído. O batimento acelerado do próprio coração, o zumbido nos ouvidos, o som do mundo se afastando como uma onda recolhida antes do impacto.
Sentou-se no chão empoeirado, o aparelho velho ainda funcionava. Ao pressionar play, a voz que emergiu não era a de Lucky cantando. Era a de Lucas — crua, despida, desabada.
> “Se você está ouvindo isso... significa que já é tarde demais.”
Helena engoliu seco.
> “Talvez você seja a polícia, talvez seja ela. Eu não sei. Mas sei que essa história precisa ser contada, do meu jeito. Não pra me justificar. Eu não tenho desculpas. Só tenho lembranças.”
A voz era firme, mas havia rachaduras. Uma vulnerabilidade sincera.
> “Eu procurei você por tanto tempo, Luana. Helena. Eu nem sei mais qual é o seu nome agora. Mas pra mim, sempre foi você. Desde aquele dia na escola. Desde o seu sorriso sem medo, enquanto eu me afogava num mundo onde ninguém