Os dias que se seguiram pareciam cenas tiradas de um filme em preto e branco, com manchas de cor que Helena não conseguia explicar. Lucky estava diferente. Não distante — jamais. Pelo contrário: estava mais presente do que nunca.
Flores sem datas apareciam na cozinha. Bilhetes com palavras doces deixados nos lugares mais inesperados. O café sempre pronto antes mesmo do despertador tocar. Uma música suave preenchendo a casa, como se ele quisesse impedir qualquer silêncio entre eles.
No começo, tudo parecia lindo.
Helena sentia-se envolta num cuidado quase infantil, uma delicadeza que brotava do medo invisível — o medo de perdê-la. Havia um zelo na forma como ele a olhava, como se temesse que ela desaparecesse ao menor descuido. Era uma presença inquieta, uma atenção constante.
Mas, lentamente, o cuidado começou a lançar sombras.
Os olhares mudaram. Primeiro, ela percebeu o modo como ele observava seus sorrisos durante as mensagens no celular. Depois, as perguntas surgiram disfarçadas,