“Nem toda pausa é descanso. Algumas são o fôlego antes da queda.”
Lucky parecia menor naquele sofá imenso, como se o próprio corpo estivesse encolhido por dentro. Os ombros curvados, a cabeça baixa, o olhar perdido num ponto qualquer entre o tapete e a janela. As mãos repousavam sobre os joelhos, inquietas, crispadas, como se buscassem um instrumento que não estava mais ali. Como se implorassem por algo para tocar — não música, mas talvez memórias.
A casa, que normalmente vibrava com a vida pulsante de notas de piano e dedilhados de violão, estava mergulhada num silêncio quase cerimonial. Cada parede parecia escutar. Cada objeto respirava com ele, num ritmo lento, doloroso. O piano estava fechado. O violão, num canto do estúdio, parecia dormir. E a ausência de Helena transformava tudo num cenário de perda permanente.
Lucky ouvia os segundos passarem como se o tempo tivesse se tornado audível — um som agudo e contínuo que feria os ouvidos e o coração. Um eco sem fim dentro dele.
Fo