Quando Helena cruzou a porta, a noite a recebeu com braços frios. O som dos próprios passos ecoava entre os prédios, misturado ao ritmo irregular de sua respiração. Ela não olhou para trás. Não por força — mas porque sabia que, se o fizesse, não conseguiria sair.
Havia algo no jeito como Lucky a segurara que pesava mais que os braços dele. Algo invisível, viscoso, entranhado nas palavras que ele não disse. Um pedido disfarçado de abraço. Um aviso disfarçado de amor.
As ruas pareciam mais escuras naquela noite. Cada sombra parecia se mover. Cada farol piscando, um olho atento. Ela não sabia se estava sendo seguida ou apenas dominada pela culpa. Talvez fosse o mesmo.
Chegou em casa, mas não se sentiu em casa. O apartamento parecia mais vazio do que lembrava. Os quadros na parede, os livros na estante — tudo lhe pareceu estranho, como se tivesse voltado a um lugar que não a reconhecia mais. Ou como se ela não fosse mais a mesma.
Jogou a bolsa no sofá, tirou os sapatos e ficou ali