Melô tem QI 189, uma agenda milimetricamente cronometrada e um pacto firme: nunca, jamais, se apaixonar. Seu foco? Dominar o universo da arquitetura, quebrar barreiras e riscar romances da equação. Ethan Gonzales é o CEO mais jovem e carismático do mercado, o oposto perfeito de tudo que Melô representa. Para Ethan, ela é uma planilha de Excel com pernas — organizada, implacável e desafiadora. E ele está determinado a ser o desafio que ela não vai conseguir ignorar. Entre reuniões intensas, debates acalorados e uma química que nenhum dos dois consegue negar, Melô vai aprender que algumas coisas, como o amor, não entram em nenhum planejamento. Porque no fim, o amor é a única fórmula que não pode ser controlada — e Melô vai ter que decidir se vale a pena deixar essa equação fora do controle.
Ler maisMelô
Estava focada em três coisas: manter a compostura, impressionar na entrevista e, por favor, não derrubar café na blusa branca — nessa ordem. Caminhei até a recepção com a postura tão rígida que parecia ensaiada. Talvez fosse mesmo. Afinal, repassei o trajeto da entrada até a sala de entrevista três vezes ontem à noite.
A recepcionista sorriu, e eu tentei retribuir sem parecer que avisava: “não me toque, sou antissocial”. Provavelmente falhei.
— Bom dia, meu nome é Melô Cross . Vim para a entrevista — falei com voz firme, tão controlada quanto o look que escolhi para hoje.Recebi o crachá provisório. O elevador subiu e, com ele, minha frequência cardíaca. Não porque eu estivesse nervosa — não fico nervosa — mas porque gosto de estar cem por cento no controle. O tempo todo. Sempre.
Cheguei à sala indicada, empurrei a porta devagar — e lá estava ele. Ethan Gonzales, de costas, falando ao celular. Encostei a porta com cuidado. Ele se virou. Meus olhos avaliaram cada detalhe: terno sob medida, barba por fazer, aquele sorriso de canto de boca — o sorriso do homem cafajeste que tem tudo e todos aos seus pés, que não aceita ser contrariado; charmoso demais para seu próprio bem. Provavelmente o motivo de várias arquitetas perderem o foco por aí.
Meu coração deu uma leve acelerada. Ele desligou o celular e veio até mim.
— Você deve ser Melô — disse, estendendo a mão. Encarei-a por um instante, pensando se deveria apertar ou não. Hesitei só um segundo, mas segurei firme.
— Sim. Prazer — falei, ajeitando os óculos.
— Já ouvi muito sobre você — ele disse, apontando para a cadeira. — Dizem que tem um QI fora do comum. Será que isso vem junto com uma personalidade tão… metódica quanto suas planilhas?
Sentei-me, mantendo o olhar fixo no dele.
— Talvez. Mas inteligência não significa rigidez. Só foco.
— Foco é ótimo. Desde que saiba lidar com o imprevisível. Nosso ambiente é… digamos, pouco linear — ele arqueou a sobrancelha.
— Sou boa com variáveis. Desde que sejam previsíveis — provoquei.
Ele soltou uma risada baixa e se inclinou um pouco para a frente.
— E quando a variável não se deixa prever, Melô? Quando ela insiste em fugir de qualquer lógica?
Notei que ele não falava só de trabalho. Senti a garganta secar, mas mantive a postura.
— Nesse caso, recalculo. Sempre existe uma fórmula que funciona. Até para CEOs imprevisíveis.
Ethan sorriu, satisfeito.
— Gosto de como você pensa. Vamos ver se continua tão segura até o fim desta entrevista.
Folheou meu currículo como se já soubesse tudo — e, de certa forma, sabia mesmo. Mas não era isso que me deixava apreensiva. Era o jeito como ele me olhava, como se enxergasse além das palavras no papel.
— Sua trajetória é impressionante para alguém tão jovem — disse com voz firme, desafiadora e curiosa ao mesmo tempo. — Prêmios, reconhecimento, projetos inovadores… Me diga: trabalha melhor sob pressão ou no controle absoluto?
Sorri, erguendo um pouco o queixo, sentindo o peso do olhar dele.
— Pressão é só mais um dado a ser calculado. O que importa é o resultado.
Ele se aproximou, encostando-se à mesa com uma leveza que não parecia tão casual. A distância entre nós diminuiu, e senti o calor do momento sem poder evitar.
— E se o resultado for… imprevisível? Algo que não possa controlar com fórmulas ou cronogramas?
Por um instante, senti um frio na barriga — mas não deixei transparecer. Controle era meu lema. Não daria esse gostinho a ele.
— Eu me adapto. Mas não gosto disso.
Ele inclinou a cabeça, me avaliando como se eu fosse uma equação difícil — e, de certa forma, eu era.
— Gosto de gente que sabe se adaptar. Mas tem uma coisa que você precisa aprender aqui, Melô.
Engoli em seco, curiosa e nervosa.
— Nem tudo aqui segue regras — continuou. — Às vezes, as melhores ideias surgem do caos. Do inesperado.
Respirei fundo. Ele estava me testando, e eu sabia que tinha que mostrar que não me deixaria abalar.
— Caos só vale se alguém souber organizar depois. E essa pessoa sou eu.
Ele sorriu de um jeito que fez meu coração acelerar mais uma vez — por dentro, claro. Não era hora de perder o controle.
— Talvez seja exatamente isso que precisamos. Alguém que saiba trazer ordem… e que não tenha medo de se perder um pouco no processo.
Meu peito apertou. Eu não era fã de me perder. Nem mesmo um pouco.
— Não me perco facilmente, Sr. Gonzales.
Ele recostou-se na cadeira, mantendo os olhos fixos em mim, como se já soubesse que essa entrevista era só o começo de algo muito maior.
— Ainda bem. Porque acho que você vai precisar de todo esse foco… trabalhando ao meu lado.
O ar na sala ficou denso, o silêncio carregado de um desafio silencioso.
Segurei o olhar dele até o fim, sem piscar. Jogo jogado, Sr. Gonzales. E se havia uma coisa que eu sabia fazer bem… era vencer.
EthanOs últimos dias foram uma tortura disfarçada de rotina. O tipo de inferno silencioso onde ninguém te fere de fato, mas tudo ao redor te cutuca. E no centro disso estava ela. Sempre ela.Melo continuava fria. Precisa. Impecável. A senhorita Cross seguia sua rotina como se nada tivesse acontecido — como se a existência daquele estagiário idiota colado nela não fosse, no mínimo, irritante. Ela não sorriu pra mim. Não falou comigo. Não lançou sequer um olhar. Mas com as amigas? Clara e Bianca? Ah, aí sim. Ria. Brincava. Como se vivesse num comercial de margarina corporativa.E ele estava sempre por perto.Caio West.Aparentemente, o “estagiário do ano” tinha tempo e liberdade para acompanhar cada passo da Melo. Projeto novo? Lá estava ele. Correção de planta? Também. Apresentação com cliente? Caio já tinha decorado as falas. Às vezes eu me perguntava se ele tinha uma cama escondida na sala de arquivos.Eu me esforçava para ignorar. Para focar nos números, nas reuniões, nas entregas.
MeloAlguns dias haviam passado desde a festa, desde o mercado, desde… tudo. Eu continuava focada no trabalho como sempre estive, mas era impossível ignorar a movimentação ao redor. Algo no ar da empresa estava diferente. As pessoas andavam mais alertas, quase cuidadosas, como se um vulcão estivesse prestes a entrar em erupção. E o nome do vulcão era Ethan Gonzales.— Você viu como ele está? — Clara sussurrou, segurando um café quente entre os dedos enquanto nos encostávamos numa das bancadas do espaço comum.— Ele quem? — perguntei, tentando soar inocente, ainda que soubesse muito bem de quem ela estava falando.— Ah, Melo, não finge. O Gonzales. Está insuportável! Até a Fernanda do RH disse que ele está mais atravessado do que nunca. Responde atravessado, fecha a cara… parece que qualquer coisa irrita ele. Nunca vi ele assim.— Sério? — respondi, fingindo surpresa. — Vai ver é pressão do cargo. CEO jovem… deve pesar nas costas.Bianca se aproximou com um copo de suco na mão e os olh
A porta do elevador se fechou atrás de mim como um ponto final mal colocado. Saí do prédio sem olhar para trás, com os olhos fixos no horizonte, como se isso bastasse para segurar a raiva pulsando sob a minha pele.O final do expediente deveria me trazer alívio. Mas desde que vi Melo com aquele maldito estagiário — West —, tudo dentro de mim fervia. Ela sorriu. Um sorriso de canto, sutil, quase imperceptível. Mas eu vi. E aquilo foi o suficiente para acender algo que eu não queria admitir.Ela nunca sorriu assim pra mim.Atravessei a rua a passos largos e entrei no mercado. Peguei uma cesta mais por protocolo do que por necessidade. Eu precisava ocupar as mãos, ou ia acabar quebrando algo — ou alguém.Passei pela seção de bebidas, mas segui direto para os corredores dos enlatados. Um lugar silencioso. Um lugar seguro.Claro que o universo não ia me deixar em paz nem ali.— Gonzales. — A voz dela me pegou de surpresa, firme como sempre. Me virei e dei de cara com ela.De todos os merca
Melo O final do expediente finalmente chegou. O sol tingia os vidros do prédio com tons alaranjados, e por um breve momento, tudo parecia em paz. Tudo… menos minha mente.Clara e Bianca me esperavam na entrada do hall do elevador. As duas conversavam animadas, até me verem se aproximar com minha bolsa no ombro e os cabelos presos num coque improvisado.— Senhorita Cross — Clara começou, divertida —, precisamos falar sobre o clima na sala de reunião.Arqueei a sobrancelha. — Que clima?Bianca riu, cruzando os braços. — Aquele, quando o CEO entrou na sala como se fosse explodir alguém.— Exatamente — Clara completou. — Nós passamos bem na hora. A energia ali… parecia que alguém tinha colocado gasolina no ar.Dei de ombros. — Não foi nada demais. Só uma conversa sobre alocação de demandas com o estagiário.Não mencionei o olhar atravessado de Ethan, nem o tom ríspido com que ele falou. Não valia a pena — não para elas.E eu não tinha nenhuma intenção de alimentar mais especulações. O jo
EthanA manhã tinha começado como qualquer outra, exceto pelo incômodo persistente que ficou comigo desde a noite anterior.Treinei cedo. Como sempre. Meus socos no saco de pancadas não resolveram nada, nem a série de reuniões externas que ocuparam o resto do meu dia. Mas quando voltei para o escritório, percebi que o desconforto tinha nome. E estava sorrindo — ainda que de forma quase imperceptível — para outro homem.Do elevador de vidro, a visão foi clara: Melo estava na sala de reuniões com um sujeito que eu nunca tinha visto antes. Ele dizia algo, e ela, mesmo com a postura habitual e séria, curvou levemente os lábios em um gesto que quase passou despercebido.Mas eu vi. E aquilo foi suficiente para me fazer atravessar o corredor como se o chão estivesse me empurrando para fren
Melo O elevador subia devagar, como se estivesse me provocando também. A noite anterior ainda ressoava na minha cabeça, não pelos drinks, mas pelas palavras. O tipo de palavras que não se dizem em voz alta, mas ficam ali, rondando como um eco afiado. — Já começou ótimo, senhorita Cross. — ele havia dito. Revirei os olhos só de lembrar. E o pior: ele realmente parecia acreditar que estava no controle. Meus passos ecoaram no corredor ainda silencioso do prédio. Era cedo, cedo demais. Talvez uma forma inconsciente de fugir de qualquer novo encontro nos corredores ou da academia. Sim, eu o vi lá outro dia. E sim, ele me viu também. Não conversamos muito, mas foi o suficiente para confirmar que o jogo continua. Cada palavra dele parece vir embalada com um laço invisível e uma armadilha. Respirei fundo antes de empurrar a porta da minha sala de reuniões. Luzes apagadas, tudo no lugar. Tudo sob controle. — Bom dia, Melo! Virei para ver Clara entrando, seguida por Bianca. As duas s
Último capítulo