Capítulo 7

Dois dias.

Quarenta e oito horas desde a última troca com Melo. E ela segue me encarando como se eu fosse só mais uma variável incômoda no dia dela.

Spoiler: não sou.

Estava na sala de descanso com Dex e Lucas, tomando um café que não fazia nem cócegas no sono acumulado.

— Cara… — Dex largou o celular e olhou pra mim — você tá mesmo perdendo pro seu próprio funcionário?

— Ela não é minha funcionária — corrigi, automático. — Trabalha comigo. Não pra mim.

Lucas riu.

— Isso foi quase fofo. Tá ficando mole, chefe.

Revirei os olhos.

— Não é sobre isso. É que ela não j**a como o resto. Ela te responde com precisão. Não vacila. Não tenta agradar. E tem sempre um contra-ataque pronto.

— Ou seja, você tá viciado — resumiu Dex, dando um gole no café. — Te conheço. Quanto mais ela não se curva, mais você quer vencer.

— Não é sobre vencer.

— É sempre sobre vencer com você — rebateu Lucas.

Suspirei e deixei a xícara de lado.

— Ela é um projeto interessante. Complexa. E está sempre três passos à frente.

— E mesmo assim, você vai tentar hoje de novo — Dex disse, cruzando os braços com aquele sorriso de quem adora assistir meu ego sendo desafiado.

— Claro. Um bom estrategista nunca recua.

Lucas levantou as mãos como quem aposta:

— Aposto um almoço que ela te dá um fora novo.

Dex: — Dobro. Com direito a plateia no vidro da sala de reuniões.

Sorri.

— Vamos ver.

A sala de reuniões estava silenciosa. O clima, limpo.

Arquivos organizados. Tudo no lugar.

E aí entrou ela. Melo.

Desta vez, com uma blusa vinho escura, blazer preto e olhos ainda mais afiados do que dois dias atrás.

— Sr. Gonzales — disse, sem desviar o olhar. Sentou-se do outro lado da mesa e cruzou as pernas com elegância cirúrgica.

— Srta Cross — respondi, sentando à frente.

Ela tirou o notebook da pasta e começou a abrir os arquivos com rapidez. Sem rodeios.

— Trouxe as revisões do cronograma. Ajustei os pontos do custo de fundação como sugerido.

— Ótimo. Gosto de eficiência — falei, me inclinando levemente para frente, os cotovelos sobre a mesa. — Mas posso confessar? Senti falta do seu desprezo calculado ontem.

— Eu estava ocupada demais sendo produtiva — respondeu, sem sequer levantar os olhos.

— E hoje, vai sobrar algum desprezo pra mim?

Ela ergueu os olhos com calma. Os lábios quase formaram um sorriso.

— Hoje, talvez, só indiferença. Desprezo exige energia demais.

Sorri.

— Você é cruel, Srta Cross. 

— Você é previsível, Sr. Gonzales.

Atrás do vidro, vi Dex surgindo com dois dedos erguidos em V. Lucas colocou um post-it na testa com um “3x0”.

Melo notou, mas disfarçou. Continuou digitando.

— Ainda assim — falei, me levantando e indo até o lado dela, apoiando uma das mãos na borda da mesa — você está aqui. Trabalhando comigo. Sendo incrível nisso.

— Não estou aqui para alimentar seu ego — ela respondeu, sem virar. — Estou aqui porque sou boa no que faço.

Inclinei o corpo levemente, falando baixo perto do ouvido dela:

— Isso é inegável. Mas não precisa esconder que gosta da tensão.

Ela virou o rosto em minha direção, lenta, os olhos colidindo com os meus.

— O que eu gosto ou deixo de gostar… é irrelevante para o projeto.

Aí estava. Fria. Intocável.

Mas demorou meio segundo a mais para responder. E isso, vindo dela, já era uma rachadura no controle.

Dei um passo para trás, sorrindo.

— Então vamos focar no projeto, Srta Cross.

— Finalmente algo sensato vindo do senhor — ela rebateu, virando a tela do notebook na minha direção.

Eu respirei fundo. Voltei para o outro lado da mesa.

Mas a verdade era que, por dentro, a cada palavra dela, eu estava mais longe do controle.

E, infelizmente… gostando disso mais do que deveria.

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