Capítulo 8

Três vozes.

Risos abafados. Comentários vazios. Mais um dia típico no andar executivo.

Sabia que eles estariam ali. Ethan. Dex. Lucas. O trio dos intocáveis.

E eu?

Eu tinha um relatório finalizado, dados cruzados e um motivo muito racional para subir até aquela sala.

Racional o suficiente… se alguém perguntasse.

Bati duas vezes na moldura de vidro antes de abrir a porta.

Todos se viraram ao mesmo tempo.

Ethan foi o primeiro a sorrir — aquele sorriso que ele tenta conter, como se não quisesse parecer impressionado.

Mas estava.

— Senhorita Melo — disse ele, endireitando-se na cadeira. — Uma visita inesperada… mas sempre bem-vinda.

— Preciso revisar com o senhor o trecho final da proposta antes da apresentação de amanhã. Algo urgente — expliquei, com a mesma calma de sempre. Como se meu coração não tivesse acelerado dois tempos quando vi o reflexo dele no vidro.

Dex e Lucas trocaram um olhar cúmplice. Dex até fingiu se levantar.

— A gente dá licença, claro.

— Não precisa — falei, fria. — Vai ser rápido. Apenas revisão técnica.

Ethan levantou, pegando uma pasta sobre a mesa.

— Sala de reuniões? Ou prefere aqui mesmo?

— Aqui serve.

Fui até a mesa de apoio lateral, abri meu notebook e conectei ao monitor grande. Apontei para os ajustes.

— Se mantivermos esse ritmo, conseguimos antecipar a entrega em dois dias úteis. Mas precisamos revisar a cláusula de risco.

Ele se aproximou devagar, analisando o trecho, os olhos fixos mais em mim do que na tela.

Ele se aproximou devagar, analisando o trecho, os olhos fixos mais em mim do que na tela.

Fingi não notar.

— Impressionante como você transforma qualquer conversa de cláusula contratual em um exercício de autocontrole — murmurou, a voz baixa, arrastada.

— É o que se espera de um ambiente profissional — respondi, ainda olhando para a tela, mesmo sentindo o calor da presença dele ao meu lado. — E eu não costumo decepcionar.

— Nem um pouco.

O silêncio entre nós se esticou. Dex e Lucas tentavam, inutilmente, manter os olhos nas telas dos próprios celulares. Mas estavam assistindo. Claro que estavam.

— Está tudo certo aqui. — fechei o notebook e o devolvi à pasta. — Só queria garantir que o senhor visse antes da reunião de amanhã.

Ethan cruzou os braços, encostado levemente na borda da mesa, ainda me observando.

— Você sempre aparece quando menos espero.

Levantei o rosto, mantendo o olhar direto no dele.

— E o senhor sempre parece se esquecer de que previsibilidade é uma fraqueza.

Um dos cantos da boca dele se ergueu num sorriso enviesado.

— Você estuda meu comportamento?

Dei um passo à frente, ajustando a alça da pasta no ombro.

— Eu observo padrões. É o mínimo que se espera de alguém com a minha função.

Ele soltou uma risada baixa, nada disfarçada.

— Você realmente é fascinante.

— E você é irritantemente… previsível.

— Isso te incomoda?

— Me desafia — respondi, com uma precisão que o fez endireitar a postura, surpreso por um segundo. — Mas não se engane. Eu também sei jogar.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, virei de costas.

— Tenham uma boa tarde, senhores.

Saí sem olhar para trás, mesmo sabendo que todos os olhos estavam em mim.

Ethan, parado, com aquele meio sorriso e um brilho de pura provocação nos olhos.

Dex, com as sobrancelhas erguidas, como quem não acreditava no que tinha acabado de ver.

Lucas, sussurrando um “uau” audível demais.

Porta fechada. Corredor silencioso.

Controle, Melo. Mas dessa vez… com gosto.

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