“Ele é o último homem com quem eu dividiria um teto. Mas o destino — e o contrato de aluguel — pensaram diferente.” Após um término humilhante e a demissão no mesmo dia, Lara, 26 anos, precisa de um lugar barato para morar em São Paulo. E rápido. Desesperada, ela aceita dividir um loft com um estranho. Só que o “estranho” é Caio Moreno, ex-colega de faculdade, seu antigo inimigo número um, conhecido por sua língua afiada, beleza absurda e fama de pegador. Eles não se suportavam. Agora dividem o mesmo sofá, o mesmo banheiro... e paredes bem finas. Mas a tensão vira faísca. As brigas viram provocações. E o que era um acordo temporário, logo vira um jogo perigoso entre desejo e orgulho. Porque viver sob o mesmo teto com alguém que te tira do sério... pode te levar ao limite — ou direto para a cama dele.
Ler maisO silêncio dentro do loft era estranho. Depois da visita de Bia, Caio ficou visivelmente diferente — mais calado, mais fechado. Ele passou o resto da tarde trancado no quarto, e eu... bem, eu fiquei tentando fingir que não me importava. Mas eu me importava. E não era porque ele tinha uma ex linda e aparentemente ainda interessada nele. Era pela forma como ele ficou depois. Pela forma como não me olhou. Como se a nossa pequena bolha de provocação tivesse estourado, e tudo o que restasse fosse esse vazio desconfortável. Resolvi fazer o que qualquer adulta minimamente funcional faria: cozinhar. E por “cozinhar”, quero dizer preparar um miojo gourmet com queijo ralado e uma pitada de orégano. O cheiro encheu a cozinha e, com ele, um certo orgulho besta também. — Tá com fome? — perguntei alto, sem saber se ele ouviria do quarto. A porta se abriu devagar, e Caio apareceu no corredor, de camiseta preta e cabelo bagunçado. Os olhos castanhos estavam levemente vermelhos — deveria s
A campainha tocou antes das oito da manhã. Eu pensei seriamente em ignorar, mas a insistência do toque me venceu. Abri a porta ainda com o rosto amassado de sono, o cabelo num coque improvisado e a camiseta de dormir meio torta. Do outro lado, uma mulher deslumbrante me analisava com um sorriso interessado. — Você é a Lara? — Depende. Se for cobrança, sou a vizinha. Ela riu, um som leve, mas com uma pontinha de julgamento. — Gostei. Sarcástica. Já começou bem. A mulher entrou no loft como se fosse parte do imóvel e olhou em volta com naturalidade desconcertante. — O Caio ainda mora aqui, né? Ele me prometeu café. — Ele tá dormindo. E você é...? Ela virou-se pra mim, tirando os óculos escuros da cabeça com um ar de atriz de novela às nove. — Bia. Ou, como o Caio costumava me chamar: Bibi. Senti imediatamente o impulso de recuar um passo. Ela estendeu a mão, e eu apertei com hesitação. — Primeira vez que a gente se vê, né? — disse ela, ainda me observando com a
Passei o resto do dia tentando agir normalmente. Fingi que nada aconteceu no carro. Fingi que aquela quase-confissão não me atingiu como uma flecha envenenada. Fingi que o toque dele no meu queixo não ficou queimando na minha pele por horas. Fingi tanto que acabei esquecendo como era agir de verdade. Caio, por outro lado, parecia perfeitamente confortável com o caos emocional que tinha deixado para trás. — Tô pensando em fazer frango ao curry hoje. Você curte? — ele perguntou, encostado na bancada da cozinha como se não tivesse virado meu mundo de cabeça pra baixo algumas horas antes. — Curto. — respondi, seca. Muito seca. — Ótimo. Vai ser com leite de coco. E arroz soltinho. Tô inspirado. — Tá tentando me conquistar pela barriga, é isso? Ele sorriu com aquele maldito canto da boca levantado. — Eu nem comecei a tentar ainda, Lara. Virei de costas antes que meu rosto confessasse tudo que eu não podia dizer. Caio estava virando um problema. Um problema sexy, cheiro
Naquela noite, não consegui dormir.Não por causa do barulho da cidade, ou do calor abafado, ou do sushi mal digerido. Mas por causa dele.Caio.Da forma como ele me olhou. Daquela maldita palavra — tensão — que ainda reverberava na minha cabeça como um sino.A tensão está aqui, sim. No ar, na pele, no espaço entre nossos corpos quando passamos um pelo outro no corredor estreito do loft. Ela se esconde nas piadas que soltamos para não dizer o que estamos realmente pensando. E, pior, ela está crescendo.Revirei na cama e peguei o celular. Duas e vinte da manhã.A parede do quarto dele era fina. Se ele respirasse fundo, eu provavelmente ouviria. Me perguntei se ele também estava acordado. Se pensava no jantar. No quase-nada que quase foi alguma coisa.Na manhã seguinte, levantei decidida a esquecer. Ou pelo menos fingir que nada estava fora do lugar. Coloquei uma camiseta velha com uma estampa de dinossauro e
Acordei com o som do liquidificador.Não era o alarme do apocalipse, nem um terremoto, mas perto disso. Alguém — Caio — estava fazendo um smoothie como se estivesse em uma competição culinária.— Isso é punição por eu ter tomado duas taças de vinho? — murmurei, saindo do quarto com os olhos semicerrados.— Bom dia, Bela Adormecida. — Ele sorriu com a maior cara de sono zero, usando apenas uma calça de moletom frouxa e cabelos levemente bagunçados. — Achei que fosse te fazer bem começar o dia com vitamina C. Suco verde?— Você só pode estar de sacanagem. — Sentei no banco da cozinha, passando a mão pelo rosto. — Por que você acorda assim, com disposição? Isso é um defeito de fabricação?— Isso se chama saúde, Lara. Você devia tentar às vezes. — Ele me entregou um copo com um líquido que parecia grama batida.— Isso tem gosto de quê?— Esperança.— Tem cheiro de traição.Ele riu e se enc
A porta do loft se fechou atrás de mim com um clique suave, abafando os sons de São Paulo lá fora. Suspirei, aliviada. A entrevista tinha acabado há mais de uma hora, e Caio tinha me deixado na porta do prédio sem grandes comentários — apenas um “depois você me conta” acompanhado daquele sorriso de canto que ele usava quando queria disfarçar que se importava.Deixei minha bolsa no balcão e tirei os sapatos, me dando o direito de alguns minutos de paz antes de encarar qualquer coisa. A casa estava silenciosa, exceto pelo som da panela de arroz borbulhando e um leve aroma de alho no ar.Alho?Fui até a cozinha com cautela, e lá estava ele: Caio Moreno, sem camisa, de avental — de avent... meu Deus — cortando legumes com a concentração de um chef de reality show.— Isso é... um surto coletivo ou você está mesmo cozinhando? — perguntei, encostando na bancada.— Boa noite pra você também — ele respondeu, sem desviar o olhar da tábua. — Achei que seria justo preparar o jantar, já que hoje v
Eu não sabia o que era mais desconfortável: estar nervosa pela entrevista de emprego ou estar dentro do carro de Caio Moreno às oito e meia da manhã de uma terça-feira.De salto.Com uma pasta de currículo no colo.E tentando, desesperadamente, fingir que minha voz não tremeria caso ele resolvesse puxar assunto.— Você vai ficar em silêncio até lá? — ele perguntou, mantendo os olhos na avenida.— Tô me concentrando — respondi, olhando pela janela.— Em quê? Em manter a respiração ou em não parecer nervosa?— As duas coisas, se quer saber.Ele deu uma risada baixa e ajeitou os óculos escuros no rosto. Estava usando uma camisa preta ajustada, com as mangas dobradas até o cotovelo, e o cabelo bagunçado de um jeito... indecente. Aquele homem tinha a audácia de acordar bonito.— Relaxa. O Victor é tranquilo. É meio workaholic, mas sabe reconhecer talento.— E você disse o quê sob
Era só uma toalha.Uma toalha esquecida na maçaneta da porta do banheiro. Mas naquele dia, ela se tornou o estopim de uma guerra silenciosa entre mim e Caio.— CAIO! — gritei do corredor, já enrolada na única toalha seca disponível, tentando não escorregar no piso.— O que foi agora? — ele apareceu na porta da cozinha, com uma colher de arroz na mão. — Explodiu o chuveiro?— Você deixou sua toalha molhada pendurada na porta. DE NOVO. E a minha estava no varal. Eu quase virei picolé lá dentro.Ele me olhou de cima a baixo — uma análise rápida, mas ousada demais para o meu gosto — e depois deu de ombros, voltando a mexer na panela.— Achei que você fosse branquela por estilo. Mas é de fábrica mesmo, né?Revirei os olhos.— Você é insuportável.— E ainda assim, você continua morando comigo.— Por falta de opção. Não se ache.Ele soltou uma risada baixa e voltou para
Acordei com o som do meu celular vibrando insistentemente na mesa de cabeceira. Ainda meio grogue, estiquei o braço e atendi sem nem ver o nome na tela.— Alô? — minha voz saiu rouca, e claramente não digna de uma ligação às sete e meia da manhã.— Lara Mendes? — a voz feminina do outro lado era firme, profissional. — Aqui é Tatiana, da consultoria HiringUp. Seu currículo foi encaminhado para a vaga de assistente de comunicação no Grupo Cortes. Você estaria disponível para uma entrevista ainda hoje?Eu sentei na cama num pulo, o sono evaporando na mesma hora.— Sim! Claro, estou disponível. A que horas?— Às 15h, no escritório deles na Avenida Faria Lima. Posso te mandar o e-mail com o endereço e nome da recrutadora?— Pode sim. Muito obrigada pela oportunidade — respondi, tentando manter a voz estável, mas por dentro minha cabeça já estava um caos. Eu nem lembrava para onde tinha enviado aquele currículo.