Ela foi abandonada pela mãe. Criada entre mentiras. Ignorada por todos. Até descobrir que metade de um império bilionário era seu por direito. Úrsula Costa nunca teve nada — agora, tem tudo. Uma herança inesperada a coloca lado a lado com a irmã perfeita, rica e mimada que nunca soube de sua existência. Isadora quer reconstruir laços de sangue. Úrsula só quer o que é dela... e talvez um pouco mais. Mais poder. Mais prazer. Mais vingança. E o que poderia doer mais em uma irmã do que perdê-lo? Luiz, o marido doce e submisso, o bom moço da elite, não resistiu ao veneno de Úrsula — e caiu de joelhos, literalmente. Agora, entre jogos corporativos e segredos de alcova, a bastarda não pretende recuar. Ela não quer ser apenas parte da família. Quer ser a dona de tudo.
Leer másO cigarro pairava entre os dedos com unhas longas pintadas de vermelho vibrante, a fumaça dançava no ar do cômodo fechado, impregnando o cheiro do tabaco em todos os tecidos. No telefone, uma voz triste ensaiada, já havia feito muito aquilo, poderia se dizer profissional se aquilo pudesse ser considerado de fato um trabalho.
— Sim, recebi o dinheiro para fazer o aborto. Não precisa se preocupar, não irei à clínica sozinha. A chamada foi encerrada três minutos depois, com direito a choro fingido. Ao fim da ligação, um sorriso cresceu nos lábios pintados de vermelho. Úrsula estava habituada àquele jogo. Semanas saindo com um homem casado e rico, roupas compradas, sapatos renovados e pacotes em seu salão pagos, e era hora de partir para o próximo. Não gostava de ser amante fixa, gostava do jogo da conquista. Talvez gostasse mais daquilo do que de fato do dinheiro — já tinha o suficiente. Gravidez era sempre o último tópico, seu pé na bunda ensaiado. Homens poderosos e casados não conseguiam sequer imaginar a possibilidade de terem um filho bastardo. — Uma pena, esse era mesmo bem legal! — comentou para si mesma enquanto se levantava da poltrona, caminhando pelo espaço pequeno do quarto de hotel. Suas malas já estavam feitas no chão. Ela se olhou uma última vez no espelho: os olhos negros, o cabelo longo como um véu brilhante, a roupa preta discreta, os sapatos de salto fino e o sobretudo de pele. Estava pronta para ir para a próxima cidade, se inserir num novo círculo social, destruir um novo casamento. Em outra parte da cidade, uma mulher deitada na cama de hospital segurava a mão da filha, com os olhos pesados e o peito arfando em agonia. A pele estava fria, os dedos frágeis. A filha chorava silenciosa, as lágrimas escorrendo sem pressa, quase como se já soubesse que aquele era o fim. — Filha… preciso te contar uma coisa… — a mulher murmurou, a voz quase sumindo. — Mãe, por favor… não fala agora, descansa. — Não, escuta… eu… eu tive outra filha, antes de você… A filha arregalou os olhos, o corpo rígido, o sangue gelado nas veias. — Antes de eu conhecer seu pai… era pobre, morava num cortiço… eu… eu a deixei para trás… As lágrimas agora desciam em torrente pelo rosto da filha. — Nunca soube o que aconteceu com ela… mas… você precisa achá-la… Foram as últimas palavras antes de a mão da mãe cair, sem forças, e o monitor do hospital emitir o som contínuo e cruel. A filha gritou, os médicos correram, mas ela sabia. No velório, o cheiro de flores doces pairava no ar, abafado pelo murmúrio dos presentes e pelo som das pás de terra caindo sobre o caixão. O marido a abraçava forte, tentando conter o próprio choro, enquanto ela desabava, sentindo o peito vazio, como se algo essencial tivesse sido arrancado. Era oficialmente órfã. O pai havia partido quando ainda era criança, e agora a mãe também. Tinha muitos bens: o apartamento de alto padrão, o carro de luxo, a conta recheada, as joias, os vestidos de grife, a coleção de livros raros da mãe. Tinha um casamento feliz, com um homem que a amava e prometia estar ao seu lado em qualquer situação. Mas, ainda assim, havia um vazio, algo que nem as joias nem o dinheiro preenchiam. Ninguém do seu sangue pisava naquela terra, ninguém além daquela irmã perdida. Queria encontrá-la — não só para cumprir o último pedido da mãe, mas porque agora, mais do que nunca, precisava de alguém que dividisse com ela o peso da origem, o laço de sangue.Úrsula e Lívia deixaram a sala de Isadora lado a lado, ainda que em ritmos diferentes. Lívia tentava manter a postura, um ar casual, como se nada estivesse lhe incomodando. A cada passo, porém, desviava o olhar, evitando encarar Úrsula, ciente de que estava sendo observada com atenção. Úrsula mantinha o tom leve, quase divertido, mas os olhos analisavam cada detalhe. — Então não foi um namorado quem deixou essa marquinha no seu pescoço? — comentou, o tom propositalmente casual, como se falasse sobre o clima. — Bom, noites de aventuras são deliciosas. Eu mesma sou uma fã declarada. Lívia fechou o rosto, mas continuou andando. Seu silêncio já era resposta suficiente, e isso só instigou ainda mais a curiosidade de Úrsula. Ela deu um passo mais próximo. — Por um acaso… esse seu affair é casado? — perguntou com um sorriso, deixando as palavras escorrerem como veneno adocicado. Lívia parou de repente, os ombros tensos. — Você poderia me deixar em pa
Úrsula estava em seu apartamento. A luz baixa deixava o ambiente envolto em tons quentes e suaves, e o aroma do vinho tinto do copo em seu criado mudo misturava-se ao perfume discreto que ainda usava, mesmo em casa.Deitada em sua cama, pernas abertas, tablet em mão, ela percorria os documentos da empresa com precisão. Apesar da concentração, não estava sozinha. O toque da língua de Murilo, suave, ritmado e estratégico, não perturbava sua análise, ao contrário, parecia estimulá-la. Relaxava seu corpo, enquanto sua mente continuava afiada como uma lâmina. O prazer era apenas mais uma arma em seu arsenal, algo que sabia administrar tão bem quanto um relatório financeiro.Quando Murilo subiu, ofegante, o rosto brilhando de esforço e vaidade, ela sequer desviou os olhos da tela.— Ainda não cheguei lá, você não devia ter parado! — disse, como quem cobra um garçom por ter entregue o prato errado.Murilo riu, deitando-se ao lado dela, o peito subindo e descendo em um ritmo desacelerado.— M
Úrsula analisava os papéis com uma falsa atenção, os olhos passando rapidamente pelas informações, mas na verdade não havia muito o que ler. As folhas eram um reflexo claro da dinâmica da empresa e das relações que ali se estabeleciam. Enquanto Lívia tinha dezenove horas negativas, com faltas injustificadas que, por algum motivo, não haviam se tornado sanção, mas sim um débito a ser pago com o banco de horas, Carolina se destacava. Ela possuía não apenas a faculdade de administração, mas também cursos técnicos e um banco de horas extenso a vencer.— Parece que a relação de vocês duas vai além da profissional, não é? — Úrsula comentou olhando de Lívia para Isadora, com um sorriso que não chegava aos olhos. — Pois Carolina é capacitada demais para ser secretária de alguém que sequer bate o ponto no horário. Vocês ao menos recebem o mesmo salário?Isadora, que estava ao lado, sentiu a tensão aumentar, mas tentou defender a amiga.— Lívia recebe mil a mais, mas ela também tem outras funçõ
No dia seguinte, Úrsula entrou na empresa com a confiança de quem já se sentia em casa, mas a atmosfera ao seu redor era tensa, e sinceramente, ela gostava daquilo; na verdade até havia almejado por aquele tipo de atenção. Os olhares dos funcionários se cruzavam, sussurros se espalhavam como fogo em palha seca. A presença dela, embora magnética, trazia um desconforto que era quase tangível. Apenas Isadora parecia contente, um sorriso radiante iluminando seu rosto ao ver a irmã; estava cega pela admiração, suprindo uma carência fraternal que irritava os demais. — Bom dia, Úrsula! — exclamou Isadora, levantando-se da mesa em sua sala, onde ocupava o cargo de Diretora de Operações. Úrsula entrou, observando a sala com um olhar crítico. O ambiente era moderno, com janelas amplas que deixavam a luz natural entrar, mas a decoração era um tanto... brega; simplista demais para uma Valli, no lugar da meia-irmã, nunca teria uma sala como aquela. Ao lado de Isadora, estava Lívia, com um olhar
Úrsula saiu da sala de reuniões como uma tempestade elegante. O salto ressoando pelo corredor soava como um anúncio, um sinal de que ela estava ali e não pretendia sair tão cedo. Sabia que os cochichos começariam assim que passasse da porta, perfeitos para alimentar o próprio fogo. Eles falariam mal dela pela última quinzena inteira, e Úrsula adorava isso. Sentia os olhares grudarem na pele como pequenos espinhos. Mas ela andava como quem flutua, os ombros erguidos, o sorriso discreto, como se aquele lugar fosse o palco perfeito para sua performance. Foi abordada no corredor por uma mulher rígida, de cabelos castanhos escuros tão bem presos que pareciam apertar o próprio crânio. O tailleur era engomado, sem um vinco fora do lugar, a maquiagem discreta demais, o olhar carregado demais. Para Úrsula, parecia alguém que vestia a tensão como segunda pele. Faltava-lhe algo... talvez carisma, talvez sensualidade. Ou quem sabe... uma vida. A mulher se aproximou, os saltos mais contidos,
Úrsula saiu da sala de reuniões como uma tempestade elegante. O salto ressoando pelo corredor soava como um anúncio, um sinal de que ela estava ali e não pretendia sair tão cedo. Sabia que os cochichos começariam assim que passasse da porta, perfeitos para alimentar o próprio fogo. Eles falariam mal dela pela última quinzena inteira, e Úrsula adorava isso. Sentia os olhares grudarem na pele como pequenos espinhos. Mas ela andava como quem flutua, os ombros erguidos, o sorriso discreto, como se aquele lugar fosse o palco perfeito para sua performance. Foi abordada no corredor por uma mulher rígida, de cabelos castanhos escuros tão bem presos que pareciam apertar o próprio crânio. O tailleur era engomado, sem um vinco fora do lugar, a maquiagem discreta demais, o olhar carregado demais. Para Úrsula, parecia alguém que vestia a tensão como segunda pele. Faltava-lhe algo... talvez carisma, talvez sensualidade. Ou quem sabe... uma vida. A mulher se aproximou, os saltos mais contidos,
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