Mundo ficciónIniciar sesiónSinopse Ana Clara, 19, sai do orfanato e, por acaso, conhece Théo — filho do frio bilionário William Davis. Sua gentileza conquista o menino e, por isso, William a contrata como babá e a leva para Toronto. Entre rotinas, primeiros sorrisos e uma família milionária cheia de expectativas, o que começa como trabalho se transforma em paixão, ciúme e segredos capazes de mudar tudo. Uma história de afeto, poder e escolhas.
Leer másCAPÍTULO 1 – “A PRIMEIRA SAÍDA”
Narrado por Ana Clara O portão do orfanato se fechou atrás de mim, e por um segundo, o som metálico pareceu definitivo demais. Um estalo curto, seco, que marcava o fim de uma vida e o começo de outra—uma da qual eu não fazia ideia de como lidar. Aos dezenove anos, eu ainda me sentia como aquela menina assustada que chegou aqui com sete, mas o mundo lá fora não tinha tempo para inseguranças. Ele engolia quem hesitasse. Camila, a diretora do orfanato, insistiu que eu ficasse mais um ano. “Você é responsável, Ana. Vai conseguir algo melhor do que um emprego qualquer.” Eu sabia que era carinho… mas também sabia que a vida nunca esperou por mim. Então ali estava eu, com uma mochila surrada, um tênis que já tinha visto dias melhores e pouco mais de cinquenta reais no bolso. O calor do Rio era quase reconfortante. O asfalto vibrava, ônibus passavam buzinando, e pessoas andavam como se tivessem destinos muito mais interessantes que o meu. Eu não tinha plano. Só um desejo simples, quase bobo: ir ao shopping pela primeira vez para ver o tal mundo que sempre imaginei pelas vitrines dos outros. O ar-condicionado do shopping foi como entrar em outro planeta. Fresco, perfumado, cheio de luzes. Me senti pequena, meio deslocada… mas pela primeira vez em muito tempo, também livre. Caminhei devagar observando tudo. As lojas caras, as pessoas arrumadas, crianças correndo, mães tentando acompanhar. Eu só queria olhar, entender como as pessoas viviam ali. Como era esse mundo que parecia tão distante da vida que eu tive. Foi então que ouvi um chorinho, seguido de um fungado insistente. — Oi… — murmurei, me aproximando. Um garotinho de cachos loiros bagunçados e olhos enormes estava sentado no chão perto da praça de alimentação. Ele chutava o ar como se brigasse com o universo. Uma camiseta cara, tênis melhores que qualquer coisa que já toquei na vida, e mesmo assim… tão sozinho quanto eu alguns anos atrás. — Oi, tá tudo bem? — me agachei ao lado dele. Ele levantou o rosto, ainda com lágrimas nas bochechas rosadas. — Eu… eu me perdi. Ah. A dor bateu em algum lugar dentro de mim. — Seus pais estão por aqui? — perguntei suavemente. — Meu pai… — Ele baixou a cabeça. — Ele não olha pra mim. Isso eu não esperava. — Como você se chama? — Théo. — Muito prazer, Théo. Eu sou a Ana. Ele fungou de novo. — Você pode ficar aqui comigo só um pouquinho? Talvez eu devesse procurar um segurança. Talvez eu devesse me afastar. Mas aquele olhar… aquele pedido tão simples e tão desesperado por atenção… Eu conhecia bem demais. — Posso, sim. Ele sorriu pela primeira vez. E justo quando sorriu, a vida, que sempre foi meio caótica comigo, resolveu me surpreender: Théo levantou, pegou minha mão e começou a me puxar. — Vamos ali! Tem um lugar que vende sorvete azul! Azul! Você já viu sorvete azul? Eu ri. — Acho que não. E fomos. Mãozinhas pequenas agarradas à minha como se eu fosse alguém importante. Ele falava sem parar, contava tudo com entusiasmo, fazia perguntas, pulava, tropeçava, levantava. Era uma energia tão pura que eu sentia o peito aquecer. Compramos o sorvete. Mentira—ele comprou. A atendente olhou para mim como se eu fosse a babá dele, o que… ironicamente, eu nem imaginava que seria real horas depois. — Ana? — ele me chamou com a boca toda azul. — Quando eu crescer, quero te levar pra conhecer dinossauros. Eu gargalhei. — Quando você crescer, eles já vão ter virado fóssil. — Fóssil é legal também! Aquela criança luminosa, aquele momento tão simples e tão impossível… Eu queria guardar tudo aquilo. Mas, como sempre, a vida gosta de entrar quebrando portas. De repente, seguranças apareceram correndo. Homens grandes, sérios, uniformizados. E entre eles… um homem de terno, alto, impecável, olhar duro, expressão perigosa. O tipo de pessoa que nunca estaria no meu mundo. Os olhos dele pousaram em mim primeiro. Avaliaram. Mediram. Julgaram. Depois, nos olhos de Théo. — Pai! — Théo gritou, correndo até ele. E tudo fez sentido. William Davis. Eu não sabia quem ele era ainda, mas tudo no jeito dele gritava poder. Frio, controlado, o tipo de homem que carregava o mundo nos ombros mas nunca deixava cair. Ele ergueu o filho no colo com um suspiro tenso, depois voltou seus olhos para mim. — Você estava com ele? — perguntou. A voz firme, baixa, autoritária. Engoli seco. — Ele… estava sozinho. Eu só fiquei com ele até vocês chegarem. “Obrigada” talvez fosse a palavra normal. Mas homens como ele não dizem obrigada. Eles analisam. Calculam. Ele olhou para Théo. — Você foi com ela? Théo assentiu com força. — Ela é legal! E comprou sorvete comigo! Quer dizer, eu comprei, mas ela ficou comigo e… pai… ela é legal. William respirou fundo, quase exasperado. E então, para minha surpresa, voltou a olhar para mim com algo que parecia… interesse? — Você trabalha com crianças? — perguntou. — Não… — respondi hesitante. — Na verdade, eu… não trabalho. Ele me avaliou como se estivesse resolvendo uma equação. — Meu filho gostou de você. E ele não gosta de ninguém facilmente. Théo sorriu, orgulhoso. — Eu gosto dela, pai. Ela me ouviu. William apertou levemente a mandíbula antes de falar: — Preciso de uma pessoa assim. Meus olhos se arregalaram. — Eu? Ele assentiu. — Estou no Rio por pouco tempo. Preciso de alguém que cuide de Théo nesse período. Você aceita trabalhar como babá temporária? Eu, babá? De um bilionário? A resposta travou na minha garganta. O medo cresceu, mas… Théo segurou minha mão. De novo. E talvez, pela primeira vez na vida, eu tivesse uma chance. — Eu… — respirei. — Posso tentar. William não sorriu. Mas Théo sorriu por dois. E assim, numa tarde comum, entre sorvete azul e choros secos, minha vida tomou um rumo que eu jamais imaginaria.CAPÍTULO 32 – LINHAS INVISÍVEIS ANA Eu comecei a perceber que a casa tinha regras não ditas. E que, pouco a pouco, eu estava sendo empurrada para dentro delas. Nada explícito. Nada agressivo. Nada que eu pudesse apontar e dizer: isso está errado. Mas estava. Naquela manhã, enquanto ajudava Theo a montar um quebra-cabeça no tapete da sala, Dafne sentou-se conosco. — Você é muito paciente — comentou, observando minhas mãos. — Nem todo mundo consegue lidar com crianças dessa forma. — Theo é fácil de amar — respondi, sem pensar. Ela sorriu. — William também acha isso. Meu corpo reagiu antes da mente. — Ele comentou? — Algumas vezes — respondeu com naturalidade. — Ele confia muito em você. A palavra confia soou pesada demais. — Confiança cria vínculos — continuou. — E vínculos… às vezes confundem. Theo encaixou uma peça com força demais. — Eu gosto da Ana — disse. Dafne riu. — Todos gostam. Mas havia algo no tom dela que não era elogio. --- WILLIAM O dia foi impro
CAPÍTULO 31 – TERRITÓRIO SILENCIOSO WILLIAM Eu não gostava da ideia de mudanças que não controlava. Sempre foi assim. E, ainda assim, Ana Clara havia se tornado uma variável que eu não conseguia — e nem queria — neutralizar. Naquela manhã, acordei mais cedo do que o habitual. A casa estava silenciosa, exceto pelo som baixo de passos na cozinha. Ela. Observei à distância. Ana organizava o café com a precisão de quem já conhecia meus hábitos. A xícara certa. A quantidade exata de açúcar. O pão levemente aquecido. Ela não precisava perguntar. E isso… isso me incomodava. — Bom dia — falei, entrando. Ela se virou rapidamente. — Bom dia. — Vai sair hoje? A pergunta escapou antes que eu pensasse. Ela hesitou. — Só com o Theo. Por quê? Por quê? Porque a ideia de não saber onde ela estaria me causava um desconforto irracional. — Nada — respondi. — Apenas organizando o dia. Ela assentiu, mas me observou por um segundo a mais do que o normal. --- ANA William começou a p
CAPÍTULO 30 – AJUSTES INVISÍVEIS ANA As mudanças não aconteceram de uma vez. Foram pequenas. Quase imperceptíveis. Tão sutis que, se eu não estivesse ali todos os dias, talvez nem notasse. O café passou a ser servido um pouco mais tarde. A agenda de William começou a mudar sem explicações claras. Algumas decisões simples… deixaram de passar por mim. — Dafne sugeriu — era a frase que surgia com mais frequência. Naquela manhã, por exemplo, eu organizava a mochila de Theo quando Dafne apareceu, apoiando-se na porta. — Acho que ele está levando brinquedos demais — comentou, gentil. — Pode ficar pesado para ele. — Ele gosta de escolher — respondi. — Claro — ela sorriu. — Mas rotina ajuda crianças a se sentirem seguras. William surgiu logo atrás. — Talvez ela tenha razão — disse ele. — Simplificar pode ser melhor. Olhei para Theo. Ele apertou o carrinho vermelho contra o peito. — Eu quero esse — disse, baixo. William hesitou por um segundo. — Tudo bem — falou afinal. —
CAPÍTULO 29 – PRESENÇAS QUE SE INSTALAM (Ana, William, Dafne e Theo) ANA Dafne passou a fazer parte da casa como se sempre tivesse estado ali. Não foi brusco. Não foi imposto. Foi sutil. Ela chegava pela manhã com um sorriso calmo, perguntava se William já havia tomado café, comentava sobre o clima, elogiava a organização da casa. Nada exagerado. Nada invasivo. Mas constante. — Bom dia, Ana Clara — dizia sempre, educada demais para ser ignorada. — Dormiu bem? — Sim — respondia, curta. Ela observava. Sempre observava. Enquanto eu ajudava Theo a se vestir, Dafne aparecia na porta do quarto, apoiada no batente. — Ele prefere a blusa azul — comentava, como quem conhece o hábito. — O pai dele sempre gostou dessa cor. Theo franzia a testa. — Eu gosto da vermelha. Ela sorria. — Claro, querido. Só achei que talvez hoje… E William, quando passava pelo corredor, via apenas uma mulher interessada no bem-estar do filho. Não via o detalhe. Nunca vê. --- WILLIAM Ter Dafne por
CAPÍTULO 28 – UMA VISITA INESPERADA ANA O som da campainha ecoou pela mansão em um horário incomum. Theo brincava no tapete da sala, concentrado em montar uma torre que insistia em cair. Eu estava sentada próxima a ele, observando, quando ouvi os passos firmes de William vindo do escritório. — Está esperando alguém? — perguntei, levantando o olhar. — Não — respondeu, já caminhando em direção à porta. Meu estômago se apertou sem motivo aparente. Quando a porta se abriu, a mulher do outro lado parecia saída de uma revista. Elegante sem esforço, postura confiante, sorriso calculado — bonito demais para ser espontâneo. — William — disse ela, abrindo os braços. — Que surpresa boa. Ele sorriu de forma educada, contida. — Dafne? Não esperava te ver por aqui. Ela se inclinou para beijar o rosto dele com intimidade antiga, segura. — Estava em Toronto a trabalho e pensei em passar. Espero que não se importe. — Claro que não. Eu permaneci onde estava, invisível naquele instante.
CAPÍTULO 27 – QUEM OBSERVA DAS SOMBRAS (Ana, William e Dafne) ANA Eu senti que algo estava diferente antes mesmo de saber o que era. A casa estava silenciosa demais naquela manhã. Não o silêncio tranquilo — mas aquele que parece esperar alguma coisa acontecer. Theo estava no quarto, entretido com os brinquedos, e eu organizava algumas coisas na sala quando ouvi o som de saltos firmes ecoando pelo piso de mármore. Não eram os passos de Madison. Nem de Ethan. Parei onde estava. A voz veio logo em seguida, feminina, firme, segura de si: — William? Meu corpo ficou tenso. William desceu as escadas logo depois, com o mesmo controle de sempre, mas percebi algo que só quem convivia com ele notaria: os ombros levemente rígidos. — Dafne — ele disse, sem surpresa. — Você chegou cedo. Dafne. O nome ficou suspenso no ar como um aviso. Ela surgiu no topo da escada logo depois, linda de um jeito calculado. Vestido elegante, cabelo perfeitamente alinhado, maquiagem discreta demais par





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