Mundo ficciónIniciar sesiónCAPÍTULO 3 – “O OLHAR DO CEO”
Narrado por William Davis Eu deveria estar em uma sala de reunião naquele momento. Minha equipe aguardava, investidores também. Mas minha prioridade, para o desespero deles, sempre foi muito clara: meu filho antes de qualquer coisa — mesmo que eu não tivesse a menor ideia de como demonstrar isso direito. Quando recebi a ligação dizendo que Théo tinha “desaparecido momentaneamente da vista dos seguranças”, senti aquele velho e conhecido aperto no peito. Um aperto que só existe por causa dele. E que só ele consegue provocar. Eu atravessei o shopping como se fosse dono do lugar — e no fundo, com o dinheiro que tenho investido em metade dos estabelecimentos ali, eu praticamente era. Mas nada disso importava. Só importava encontrá-lo. Quando o vi… quando finalmente achei aquela pequena cabeça loira se mexendo entre as mesas… meu corpo inteiro soltou o ar que estava preso. Théo ria. Não chorava. Não estava assustado. Ele… estava feliz. E não por minha causa. Mas por causa dela. A garota sentada ao lado dele. A primeira coisa que notei? Ela não tinha nada. Nada além de uma mochila barata, roupas simples e um sorriso tímido que surgia quando meu filho falava. A segunda coisa? Théo não sorria assim fazia meses. Desde a morte de Ellen, ele raramente ria com alguém. E raramente sorria pra mim também. Então quando vi os dois ali, juntos, algo dentro de mim — algo que eu desconhecia — se agitou. Não gosto de perder o controle. Não gosto do inesperado. E ela era inesperada. Quando ela se levantou para falar comigo, percebi que tremia. Medo, respeito, receio… não sei ao certo. Eu estou acostumado com isso. Pessoas tremem perto de mim. Não pela minha aparência, mas porque sabem quem eu sou. O que eu represento. Mas Théo segurou a mão dela. E isso… isso valeu mais que qualquer currículo. Depois que expliquei a proposta e ela aceitou conhecer a estrutura, seguimos para o carro. Ana Clara caminhava ao nosso lado como se estivesse pisando em um território proibido. No elevador do estacionamento, Théo falava sem parar com ela — como se já fossem velhos amigos. Ela respondia, ria, fazia perguntas. Observei isso com atenção maior do que deveria. Quando chegamos ao carro, segurei a porta para ela entrar. Boa educação. Atenção profissional. Nada além disso. Mas ela se assustou com o gesto, como se ninguém jamais tivesse segurado uma porta para ela. — Obrigada… — ela murmurou. — Entre — respondi de forma seca. Eu sempre soava seco. No banco da frente, enquanto o motorista nos levava ao hotel, eu a observei discretamente pelo reflexo do vidro. Jovem. Assustada. Mas… presente. E tinha algo nela — um tipo de força silenciosa — que me incomodava. Ou talvez me chamasse atenção de um modo que eu não queria admitir. — Você mora onde? — perguntei, tentando manter as coisas objetivas. Ela hesitou. — No orfanato… quer dizer… morava. Saí hoje. Hoje. O dia em que encontrei meu filho com ela. O dia em que ela estava completamente sozinha no mundo. O universo tinha um timing peculiar. — Tem alguém aqui no Rio? — perguntei. — Não. Só eu. Théo deslizou para o colo dela sem pedir permissão. Ela o acomodou automaticamente, como se tivesse nascido para isso. E eu… respirei fundo. Quando chegamos ao hotel — um dos mais luxuosos da cidade, propriedade da Davis Corp — ela olhou tudo com olhos arregalados. E de novo, algo dentro de mim se mexeu. Porque vi nela algo raro: ela não cobiçava nada. Ela apenas observava como quem vê um planeta desconhecido. — Vamos — eu disse, andando à frente. Não queria dar tempo para ela recuar. Ela seguiu, com Théo segurando sua mão. Levamos os dois até a suíte principal, onde eu costumava trabalhar enquanto estava no Brasil. A equipe já tinha sido avisada; tudo estava organizado. Ela olhou o quarto gigante, a vista para o mar, a sala enorme, o tapete espesso. E eu percebi, pelo modo como ela segurou os dedos, que estava desconfortável. — É aqui que você ficará com Théo quando estiver trabalhando — expliquei. — Ele tem tudo que precisa à disposição. E quero que tenha liberdade para levá-lo aonde for seguro. Ela assentiu. Théo pulou na cama gigante. — Ana! Olha isso! É enorme! A gente pode nadar numa cama dessas! Ana sorriu. E eu… Apenas observei. Por alguns segundos, era como se estivesse assistindo a uma cena que não me pertencia. Uma cena familiar. Quente. Cheia de vida. Algo que eu perdi há muito tempo. — Ana Clara — chamei. Ela se virou imediatamente. Sempre alerta. Como se estivesse acostumada a ser corrigida, chamada, cobrada. Essa constatação me irritou. Não sei por quê. — Amanhã às nove — continuei. — Quero você aqui. Vamos ajustar horários, responsabilidades e salário. — Certo — ela disse. — Uma última pergunta — acrescentei, encarando-a nos olhos. Ela pareceu prender a respiração. — Por que ficou com meu filho? Ela piscou, surpresa. — Porque… ele estava chorando. E… eu sei como é estar perdido. As palavras dela bateram mais fundo do que deveriam. Eu não sabia o que responder. Então apenas virei de costas. Mas, no caminho até a porta, ouvi Théo dizendo: — Pai? Eu posso ver a Ana amanhã? Na primeira hora? Eu parei. Ana esperava minha resposta como se seu futuro dependesse dela. E talvez dependesse mesmo. Assenti. — Sim, Théo. Ela estará aqui. Ele vibrou. Ela sorriu. E eu… Eu me senti estranho. Porque pela primeira vez em muito tempo, algo dentro de mim dizia que permitir aquela garota entrar em nossas vidas seria um erro monumental. E mesmo assim… Eu já sabia que iria permitir.






