SOB OS OLHOS DO BILIONÁRIO
SOB OS OLHOS DO BILIONÁRIO
Por: Luiza Eduarda
capítulo 1

CAPÍTULO 1 – “A PRIMEIRA SAÍDA”

Narrado por Ana Clara

O portão do orfanato se fechou atrás de mim, e por um segundo, o som metálico pareceu definitivo demais. Um estalo curto, seco, que marcava o fim de uma vida e o começo de outra—uma da qual eu não fazia ideia de como lidar. Aos dezenove anos, eu ainda me sentia como aquela menina assustada que chegou aqui com sete, mas o mundo lá fora não tinha tempo para inseguranças. Ele engolia quem hesitasse.

Camila, a diretora do orfanato, insistiu que eu ficasse mais um ano. “Você é responsável, Ana. Vai conseguir algo melhor do que um emprego qualquer.” Eu sabia que era carinho… mas também sabia que a vida nunca esperou por mim. Então ali estava eu, com uma mochila surrada, um tênis que já tinha visto dias melhores e pouco mais de cinquenta reais no bolso.

O calor do Rio era quase reconfortante. O asfalto vibrava, ônibus passavam buzinando, e pessoas andavam como se tivessem destinos muito mais interessantes que o meu. Eu não tinha plano. Só um desejo simples, quase bobo: ir ao shopping pela primeira vez para ver o tal mundo que sempre imaginei pelas vitrines dos outros.

O ar-condicionado do shopping foi como entrar em outro planeta. Fresco, perfumado, cheio de luzes. Me senti pequena, meio deslocada… mas pela primeira vez em muito tempo, também livre.

Caminhei devagar observando tudo. As lojas caras, as pessoas arrumadas, crianças correndo, mães tentando acompanhar. Eu só queria olhar, entender como as pessoas viviam ali. Como era esse mundo que parecia tão distante da vida que eu tive.

Foi então que ouvi um chorinho, seguido de um fungado insistente.

— Oi… — murmurei, me aproximando.

Um garotinho de cachos loiros bagunçados e olhos enormes estava sentado no chão perto da praça de alimentação. Ele chutava o ar como se brigasse com o universo. Uma camiseta cara, tênis melhores que qualquer coisa que já toquei na vida, e mesmo assim… tão sozinho quanto eu alguns anos atrás.

— Oi, tá tudo bem? — me agachei ao lado dele.

Ele levantou o rosto, ainda com lágrimas nas bochechas rosadas.

— Eu… eu me perdi.

Ah. A dor bateu em algum lugar dentro de mim.

— Seus pais estão por aqui? — perguntei suavemente.

— Meu pai… — Ele baixou a cabeça. — Ele não olha pra mim.

Isso eu não esperava.

— Como você se chama?

— Théo.

— Muito prazer, Théo. Eu sou a Ana.

Ele fungou de novo.

— Você pode ficar aqui comigo só um pouquinho?

Talvez eu devesse procurar um segurança. Talvez eu devesse me afastar. Mas aquele olhar… aquele pedido tão simples e tão desesperado por atenção… Eu conhecia bem demais.

— Posso, sim.

Ele sorriu pela primeira vez. E justo quando sorriu, a vida, que sempre foi meio caótica comigo, resolveu me surpreender: Théo levantou, pegou minha mão e começou a me puxar.

— Vamos ali! Tem um lugar que vende sorvete azul! Azul! Você já viu sorvete azul?

Eu ri.

— Acho que não.

E fomos. Mãozinhas pequenas agarradas à minha como se eu fosse alguém importante. Ele falava sem parar, contava tudo com entusiasmo, fazia perguntas, pulava, tropeçava, levantava. Era uma energia tão pura que eu sentia o peito aquecer.

Compramos o sorvete. Mentira—ele comprou. A atendente olhou para mim como se eu fosse a babá dele, o que… ironicamente, eu nem imaginava que seria real horas depois.

— Ana? — ele me chamou com a boca toda azul. — Quando eu crescer, quero te levar pra conhecer dinossauros.

Eu gargalhei.

— Quando você crescer, eles já vão ter virado fóssil.

— Fóssil é legal também!

Aquela criança luminosa, aquele momento tão simples e tão impossível… Eu queria guardar tudo aquilo.

Mas, como sempre, a vida gosta de entrar quebrando portas.

De repente, seguranças apareceram correndo. Homens grandes, sérios, uniformizados. E entre eles… um homem de terno, alto, impecável, olhar duro, expressão perigosa. O tipo de pessoa que nunca estaria no meu mundo.

Os olhos dele pousaram em mim primeiro. Avaliaram. Mediram. Julgaram.

Depois, nos olhos de Théo.

— Pai! — Théo gritou, correndo até ele.

E tudo fez sentido.

William Davis. Eu não sabia quem ele era ainda, mas tudo no jeito dele gritava poder. Frio, controlado, o tipo de homem que carregava o mundo nos ombros mas nunca deixava cair.

Ele ergueu o filho no colo com um suspiro tenso, depois voltou seus olhos para mim.

— Você estava com ele? — perguntou. A voz firme, baixa, autoritária.

Engoli seco.

— Ele… estava sozinho. Eu só fiquei com ele até vocês chegarem.

“Obrigada” talvez fosse a palavra normal. Mas homens como ele não dizem obrigada. Eles analisam. Calculam.

Ele olhou para Théo.

— Você foi com ela?

Théo assentiu com força.

— Ela é legal! E comprou sorvete comigo! Quer dizer, eu comprei, mas ela ficou comigo e… pai… ela é legal.

William respirou fundo, quase exasperado. E então, para minha surpresa, voltou a olhar para mim com algo que parecia… interesse?

— Você trabalha com crianças? — perguntou.

— Não… — respondi hesitante. — Na verdade, eu… não trabalho.

Ele me avaliou como se estivesse resolvendo uma equação.

— Meu filho gostou de você. E ele não gosta de ninguém facilmente.

Théo sorriu, orgulhoso.

— Eu gosto dela, pai. Ela me ouviu.

William apertou levemente a mandíbula antes de falar:

— Preciso de uma pessoa assim.

Meus olhos se arregalaram.

— Eu?

Ele assentiu.

— Estou no Rio por pouco tempo. Preciso de alguém que cuide de Théo nesse período. Você aceita trabalhar como babá temporária?

Eu, babá? De um bilionário?

A resposta travou na minha garganta. O medo cresceu, mas… Théo segurou minha mão. De novo.

E talvez, pela primeira vez na vida, eu tivesse uma chance.

— Eu… — respirei. — Posso tentar.

William não sorriu.

Mas Théo sorriu por dois.

E assim, numa tarde comum, entre sorvete azul e choros secos, minha vida tomou um rumo que eu jamais imaginaria.

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