Mundo ficciónIniciar sesiónNo dia em que descobriu estar grávida, Irene Figueira enfrentou um temporal impiedoso para ir ao encontro de Adriano Tavares no clube exclusivo que ele frequentava. Ensopada pela chuva, mas aquecida pela notícia que carregava, ela parou diante da porta do camarote, ansiosa para surpreender o noivo assim que a reunião terminasse. No entanto, o que deveria ser o prelúdio de uma nova vida tornou-se o início de um pesadelo. Pela fresta da porta entreaberta, vozes familiares e risadas cruéis revelaram uma traição inimaginável, transformando seu conto de fadas em uma trama de vingança e mentiras. A porta do camarote estava apenas encostada, permitindo que o som de vozes masculinas e o tilintar de copos vazassem para o corredor. Irene Figueira ajeitou os cabelos úmidos, preparou o sorriso e estava prestes a empurrar a madeira nobre quando ouviu seu nome ser mencionado em um tom de zombaria. — Adriano, falta apenas uma semana para o seu casamento com a Irene. — Disse um dos amigos, rindo. — As surpresas para a cerimônia já estão prontas? — Tudo pronto. — Respondeu a voz de Adriano, inconfundível, embora arrastada pelo álcool. — Vou dar a ela memórias que jamais vai esquecer. A mão de Irene parou no ar, e um sorriso doce curvou seus lábios. Durante os três anos de namoro, Adriano sempre a tratava como uma rainha, com uma devoção que todos invejavam. Mas a conversa lá dentro tomou um rumo que fez seu sangue gelar. — Hahaha, Adriano, mas se a Irene soubesse que fingi ser você e brinquei com ela por tanto tempo, será que ela não surtaria ali mesmo, no meio do altar? — Gargalhou outra voz, assustadoramente idêntica à de Adriano. — Duvido que ela imagine. A Irene pode morrer e nascer de novo que nunca vai adivinhar que o Adriano tem um irmão gêmeo idêntico! — E ela não se acha a tal, sempre cheia de si? Quero só ver a cara dela quando descobrir que foi o brinquedinho do irmão do namorado por três anos.
Leer másA reação de Irene foi rápida. Ao ouvir a voz de Alana e vislumbrar o brilho prateado da lâmina à sua esquerda, ela recuou e inclinou o corpo para trás, desviando do primeiro golpe da faca de cozinha.Errando o alvo inicial, Alana não desistiu. Ela ergueu a faca novamente para um segundo ataque, perseguindo Irene. Foi naquele momento crucial que Mário se lançou à frente.Assim que a lâmina desceu, ele puxou Irene e girou o corpo, protegendo-a com firmeza em seus braços, usando as próprias costas como escudo. A faca rasgou a carne de suas costas, fazendo o sangue espirrar num instante.Adriano tentou segurar Alana, mas ao reconhecê-lo, a mulher não hesitou em direcionar sua fúria cega contra ele.— Adriano, você também merece morrer! — Gritou ela, ensandecida.Ela odiava Irene acima de tudo por tê-la exposto e mandado para a prisão, mas seu segundo maior ódio era Adriano. Aquele homem, que ela julgava amar, a havia abandonado imediatamente após o escândalo e havia se recusado a assumir q
Uma mão grande e quente agarrou o braço de Irene com firmeza, puxando-a de volta para a segurança da calçada. No segundo seguinte, ela colidiu contra um peito sólido e acolhedor. O impacto contra os músculos rígidos do homem fez seu nariz doer a ponto de seus olhos marejarem.— Você está bem? — Perguntou uma voz grave, carregada de preocupação.Reconhecendo aquele timbre familiar, Irene ergueu a cabeça bruscamente e encontrou um par de olhos sorridentes.— Noah? Você também voltou! — Exclamou ela, sem conseguir esconder a surpresa agradável e abrindo um sorriso sincero.Durante o ano em que estiveram em Abyei, ela e Noah se cruzaram diversas vezes no hospital, o que criou uma familiaridade confortável entre os dois.— Sim. — Respondeu Noah, com um tom risonho na voz. — A missão de paz de um ano terminou. Agora vou ficar em Riviera. E você?Enquanto falava, ele se agachou proativamente para recolher os objetos que haviam caído no chão.— Vou voltar a trabalhar no Hospital Municipal imed
Um ano depois.Um avião tocou a pista de aterrissagem em Riviera e, minutos depois, uma mulher de cabelos curtos, corpo esguio e pele bronzeada saiu pelo desembarque. Ela caminhava com passos firmes, quase como se o vento a empurrasse, e seus olhos brilhavam com uma luz intensa e vivida.Era Irene. Seu contrato de um ano com os Médicos Sem Fronteiras havia terminado e ela estava finalmente de volta.Pouco atrás dela, Adriano e Mário também surgiram no saguão. Eles haviam mudado muito naquele ano. A convivência diária com a fragilidade da vida, a morte constante e a fé inabalável das vítimas deu um novo norte para eles. Encontraram seus próprios caminhos e objetivos.A única coisa que permaneceu intacta foi o amor por Irene.Apesar de ela tê-los tratado com mais frieza do que a um estranho durante todo aquele tempo, mantendo uma distância maior do que a de qualquer colega de trabalho, eles ficaram ainda mais admirados por sua força e caráter. O amor só cresceu. Durante aquele ano, a fam
Assim que Adriano se afastou, Mário surgiu da penumbra atrás da tenda e caminhou até ficar diante de Irene.— Irene, me desculpe. — Disse ele, com a voz baixa.Irene ergueu os olhos para ele, com expressão fria e distante.— Já entendi. Agora, por favor, vá embora.— Não, você não entende! — Os olhos de Mário brilhavam com lágrimas contidas, transbordando desespero. — Irene, você não tem ideia. Eu sempre gostei de você, desde o primeiro momento em que coloquei os olhos em você! Mas naquela época, você já era namorada do Adriano, e eu...A expressão de Irene escureceu, transformando-se em pura hostilidade enquanto ela o interrompia:— Por isso você fingiu ser o Adriano na cama? Para me usar, me enganar e me machucar? É isso que você chama de gostar?— Não, eu... — Mário emudeceu, mordendo o lábio, sem saber como se defender. Na verdade, não havia defesa possível para o que ele tinha feito. — Eu só... — Sua voz estava tão rouca que mal se ouvia. — Eu estava reprimindo meus sentimentos,
Deitado no leito improvisado, Adriano mantinha a cabeça virada, os olhos fixos na direção de onde Irene viria. Havia se passado apenas meio mês desde a separação, mas a sensação era de que séculos haviam transcorrido, um abismo de tempo que quase os engoliu. O mais importante, contudo, era a constatação palpável de que todos estavam vivos.Quando Irene se aproximou e encontrou os olhos vermelhos dele, sua expressão permaneceu inalterada, como a superfície lisa de um lago congelado. Não havia comoção, nem ódio, nem rancor visível. Era como se qualquer emoção estivesse soterrada sob camadas espessas de gelo eterno.Ela examinou a ferida com eficiência técnica, administrou o antibiótico necessário e recitou as instruções de cuidados com uma voz monocórdica e burocrática. Assim que terminou, ela se virou para partir.— Irene... — A voz de Adriano saiu como um sussurro rouco e fraco às suas costas.Ela não parou. Seus passos não hesitaram, e ela seguiu seu caminho, ignorando o chamado como
Com o coração apertado pela ansiedade, Mário mantinha Adriano firme em seus braços, sentindo o peso do corpo do amigo e o terror da situação. Eles haviam aguardado intermináveis setenta e duas horas do lado de fora da zona de conflito, presos à burocracia de aprovações e trâmites oficiais, antes que pudessem finalmente acompanhar o comboio militar.Assim que cruzaram a fronteira da zona de guerra, a dupla seguiu os veículos que distribuíam suprimentos, aproveitando cada parada para procurar desesperadamente por informações. No entanto, a esperança foi brutalmente interrompida logo no segundo acampamento, quando o comboio sofreu uma emboscada. No caos do ataque, Adriano foi atingido.Sem condições mínimas para tratar um ferimento daquela gravidade no local, a única opção foi pegar carona com o veículo de transporte médico rumo ao hospital de campanha mais próximo. Durante o trajeto acidentado, a consciência de Adriano se esvaiu, e ele mergulhou em um coma profundo.Ao chegarem, Mário ca
Último capítulo