Deitado no leito improvisado, Adriano mantinha a cabeça virada, os olhos fixos na direção de onde Irene viria. Havia se passado apenas meio mês desde a separação, mas a sensação era de que séculos haviam transcorrido, um abismo de tempo que quase os engoliu. O mais importante, contudo, era a constatação palpável de que todos estavam vivos.
Quando Irene se aproximou e encontrou os olhos vermelhos dele, sua expressão permaneceu inalterada, como a superfície lisa de um lago congelado. Não havia comoção, nem ódio, nem rancor visível. Era como se qualquer emoção estivesse soterrada sob camadas espessas de gelo eterno.
Ela examinou a ferida com eficiência técnica, administrou o antibiótico necessário e recitou as instruções de cuidados com uma voz monocórdica e burocrática. Assim que terminou, ela se virou para partir.
— Irene... — A voz de Adriano saiu como um sussurro rouco e fraco às suas costas.
Ela não parou. Seus passos não hesitaram, e ela seguiu seu caminho, ignorando o chamado como