Capítulo 6
— Alana!

O grito ecoou pelo restaurante quando Mário, num reflexo rápido, amparou o corpo de Alana antes que ela atingisse o chão.

— Adriano, a Alana está tendo um choque anafilático! — Alertou ele, com a voz carregada de urgência.

Adriano, que corria em direção à saída, estacou bruscamente. Uma lembrança súbita o atingiu como um raio. Durante o almoço, Irene havia pedido uma sopa de frutos do mar. O rosto dele escureceu, tomado por uma fúria instantânea, e ele girou nos calcanhares, marchando de volta para onde Irene estava.

Irene já havia levantado a barra do vestido e posicionado a caneta de adrenalina sobre a coxa, pronta para fazer a aplicação que salvaria sua vida. No entanto, antes que pudesse pressionar o êmbolo, sentiu uma força brutal esmagar seu pulso. O aperto de aço imobilizou seu braço, e a caneta foi arrancada de sua mão com violência.

Atônita e sem ar, ela ergueu os olhos e encontrou o olhar gélido de Adriano.

— Você foi a culpada pela alergia da Alana, então o remédio é dela! — Rosnou ele, sem um pingo de compaixão.

Sem esperar qualquer réplica ou verificar o estado crítico da noiva, ele deu as costas e correu até Alana. Com movimentos precisos e rápidos, injetou a adrenalina na coxa da outra mulher.

Mário sustentava Alana e percebeu o olhar desesperado de Irene, mas sua expressão permaneceu fria e pragmática.

— Irene, você é médica. — Disse ele, com um tom de voz cruelmente calmo. — Deve saber outros métodos de primeiros socorros. A Alana não entende nada disso, ela precisa dessa caneta muito mais do que você agora.

Assim que a injeção foi aplicada, Adriano pegou Alana no colo e disparou em direção à saída do restaurante.

— Vou buscar o carro! — Gritou Mário, correndo logo atrás dele.

Irene desabou no chão, incapaz de se manter de pé. Com a visão turva e os olhos injetados de sangue, ela assistiu às silhuetas dos três se afastarem. Do início ao fim, nenhum deles olhou para trás, nem sequer por um segundo, para ver se ela ainda respirava.

A consciência de Irene começou a falhar, o mundo ao seu redor girando em borrões escuros. A última coisa que registrou foi a imagem de um garçom correndo em sua direção, com o rosto transfigurado de pânico.

— Senhora! Pelo amor de Deus, o que houve?!

...

Irene permaneceu inconsciente por um dia inteiro.

Quando finalmente abriu os olhos, a luz branca do quarto de hospital feriu suas retinas. Sentado ao lado da cama, Adriano segurava sua mão, exibindo uma expressão de preocupação que parecia ensaiada.

— Irene, graças a Deus você acordou. — Disse ele, num tom suave. — Ainda sente algum desconforto?

Com o resto de forças que tinha, Irene puxou a mão, livrando-se do toque dele como se tivesse sido queimada. Ela fechou os olhos novamente, recusando-se a encará-lo.

Adriano não se irritou com a rejeição. Em vez disso, ele estendeu a mão para afastar uma mecha de cabelo do rosto dela, insistindo na proximidade.

— Sei que está brava comigo, Irene. Mas você precisa entender o contexto. — Começou ele, com aquela voz mansa que usava para manipular. — Minha família e a família Ribeiro têm acordos comerciais profundos. A Alana não podia sofrer um acidente grave na nossa presença, seria um desastre diplomático.

Ele fez uma pausa, esperando que a lógica distorcida fizesse sentido para ela.

— Eu não tive escolha. Você logo vai ser minha esposa, somos uma comunidade de interesses agora. Eu esperava que você, sendo tão sensata, compreendesse a minha posição e a necessidade de agir pelo bem maior. Irene, você sabe que é a única mulher que amo, não sabe?

Naquele momento, Mário apareceu na porta do quarto, reforçando o discurso com um aceno de cabeça.

— É verdade, Irene. O meu irmão ficou de mãos atadas. As grandes famílias têm suas próprias dificuldades. Às vezes, precisamos sacrificar o pessoal pelo coletivo. Como parte da família, coube infelizmente a você ceder dessa vez.

Sob o lençol, as mãos de Irene se fecharam em punhos tão apertados que as unhas feriram a pele. Ela manteve os olhos fechados, ouvindo aquela enxurrada de hipocrisia, e um riso frio e amargo ecoou dentro de sua mente. Eles realmente se esforçavam para manter a farsa, acreditando que ela ainda era a tola apaixonada de antes.

Não disposta a gastar energia discutindo com eles, ela murmurou, com a voz rouca:

— Quero descansar. Saiam.

Acreditando que a tinham convencido ou pelo menos pacificado, os dois homens se retiraram. Assim que o som dos passos desapareceu no corredor, Irene abriu os olhos. O olhar dela não tinha mais vestígios de tristeza, apenas uma determinação gélida.

Ela pegou o celular na mesa de cabeceira e discou um número.

— Olá, falo com a agência de transmissões ao vivo? — Ela perguntou, com a voz firme. — Gostaria de agendar um serviço completo...

Ao encerrar a chamada, Irene levou a mão ao peito num gesto automático, buscando o conforto habitual de seu colar. Seus dedos tocaram a pele nua. O pingente não estava lá.

O coração dela disparou. Aquele colar não era uma joia comum, pois o pingente continha uma mecha de cabelo e as cinzas de sua falecida avó, o bem mais precioso que possuía.

O pânico a dominou. Irene se levantou da cama num salto, ignorando a tontura, e começou a revirar os lençóis, o travesseiro e o chão ao redor da cama. Nada.

Justo quando ela se preparava para sair ao corredor e interrogar as enfermeiras, o celular vibrou com uma nova mensagem. Era de Alana.

A imagem carregada na tela fez o sangue de Irene gelar. Era uma foto da mão de Alana segurando o colar dela. Abaixo da imagem, uma legenda cruel: [Se quiser sua joia de volta, venha aqui agora. Caso contrário, vou despejar o conteúdo do pingente na privada e dar descarga.]

Uma fúria avassaladora, escura e violenta, tomou conta de Irene, fazendo sua visão escurecer por um instante. O peito subia e descia numa respiração irregular e forçada. Sem pensar duas vezes, ela saiu do quarto e correu pelos corredores do hospital em direção à ala onde Alana estava internada.

Ao escancarar a porta do quarto, ela se deparou com a cena que temia.

Alana estava de pé, encostada no parapeito da janela aberta. O colar de Irene pendia da ponta de seu dedo indicador, balançando perigosamente do lado de fora, sobre o vazio, prestes a escorregar e cair para sempre.

— Alana! — Gritou Irene, a voz tremendo de ódio e medo. — Devolva o meu colar agora.
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