Selene Castiel nasceu para comandar impérios, não para se apaixonar. Herdeira de um legado bilionário e forçada a cumprir uma promessa feita entre duas mães apaixonadas por vinho e juramentos eternos, ela se vê casada com Caius Varella — um homem que não pediu por esse trono, mas que agora ameaça reinar no coração da mulher mais perigosa da Espanha. Ela carrega a frieza de quem foi moldada pelo luto e pela ambição. Ele, o silêncio de quem observa mais do que fala — e toca mais fundo do que deveria. Numa união marcada por contratos, escândalos e desejos mal disfarçados, cada toque vira disputa, cada olhar, um desafio. Mas quando um ex obsessivo reaparece disposto a destruir o que resta dessa farsa perfeita, Selene e Caius são obrigados a escolher: seguir fingindo… ou queimar juntos no fogo que fingem não sentir. Um casamento por obrigação. Uma paixão por acidente. Um amor que pode ser o fim... ou o recomeço.
Leer másSelene CastielO telefone vibrou no criado mudo ao lado da minha cama, enquanto eu finalizava um e-mail para a filial de Milão. Era Bianca.— Vem pra guerra hoje? — foi a primeira coisa que disse quando atendi.— Depende. Quem tá levando as armas?— Eu levo o salto. Você leva a marra.Ri baixo, mas não respondi de imediato. Meus olhos deslizaram pela porta entreaberta do meu quarto, que dava vista para o corredor. Mais adiante, a luz do escritório ainda estava acesa, projetando uma faixa dourada no chão de mármore.Dali, eu ouvia a voz grave de Caius ao telefone, falando em alemão com algum fornecedor. Sete dias desde que ele se mudara para a casa. Sete dias de rotina impecável, silêncios calculados e olhares que atravessavam paredes. Ele não cometia erros. Nu
Selene CastielO relógio marca sete e quarenta da manhã quando piso no mármore gelado do corredor. Meus saltos estalam como tiros contidos. No espelho da parede lateral, a mulher refletida não tem dúvida alguma: rímel à prova de guerra, batom cor de sangue seco, e o mesmo blazer preto que já arruinou reputações com um aceno. O cabelo ruivo preso num coque alto. A pulseira de diamantes no pulso direito. Presente do meu pai? Não. Recompensa pela última fusão bem-sucedida.Caius já está à mesa do café, camisa branca dobrada nos cotovelos, lendo relatórios como quem lê cartas de tarô. O homem tem postura. Isso eu admito. Mas não me impressiona. Só deixa o campo de batalha mais interessante.— Dormiu bem? — pergunto, só pra cumprir o protocolo de guerra fria que estabelecemos desde o casamento.— Melhor do que esperava. — Ele responde sem levantar os olhos do papel. — A cama do quarto de hóspedes é firme. Direta. Quase honesta.— Que bom que combina com você. — tomo um gole do meu café sem
O motor do carro desliza feito felino domesticado. Interior em couro preto, som ambiente baixo, ar-condicionado na medida. Um palco perfeito pro silêncio desconfortável entre duas pessoas presas num contrato com nome de casamento.Caius senta ao meu lado, impecável. Camisa sob medida, blazer italiano, perfume caro. Ele sabe se portar. Sabe ser a imagem perfeita do homem que agora carrega meu sobrenome — mesmo que esse nome pese mais do que ele gostaria de admitir.Eu dirijo. Porque, claro, sempre sou eu no volante.— Pode falar. — minha voz rasga o silêncio. — Anda logo. Dá pra ver de longe que tá engasgado.Ele nem pisca.— Tá me levando pra trabalhar com você por quê? Castigo?— Tô te colocando no lugar onde deveria estar. Ou você achou que casar com uma Castiel vinha só com cartão preto e tapete vermelho?— Achei que vinha com o mínimo de respeito.Dou uma risada seca. O sinal fecha. Paro o carro com um toque
Vestido de seda azul petróleo. Fenda até a alma. Decote milimetricamente ofensivo. Salto agulha o bastante pra estourar qualquer ego inflado que ouse cruzar meu caminho. Maquiagem como armadura. Cabelos soltos como minha vontade de provocar. Estou pronta. Não pra festa. Mas pro campo de batalha mascarado de filantropia.A Fundação Castiel reluz sob holofotes. É beneficente, dizem. Como se doações em troca de manchetes limpassem pecados acumulados em contas nas Ilhas Cayman.Eu? Vim pela obrigação social. Pela fachada. Pela guerra não declarada.Caius desce do carro primeiro. Terno preto, presença marcante, olhar de quem calculou cada segundo desde o beijo que me viu dar… dois dias atrás. Me estende a mão. Eu aceito. Com um sorriso que valeria ouro na bolsa de valores da dissimulação.— Pronta pra encantar os hipócritas? — ele murmura, colando os lábios na minha orelha como se fôssemos íntimos.— Desde que você continue fingindo que esqueceu.Sorrimos. Juntos. Para os flashes.A elite
A mesa está posta como num catálogo de hotel cinco estrelas: sucos frescos, pães artesanais, frutas cortadas com precisão quase cirúrgica. E lá está ele. Caius. De camisa branca com as mangas dobradas, cabelo ainda úmido do banho, como se a noite passada tivesse escorrido dele sem deixar rastro. Ele me olha uma vez. Rápido. Frio. Depois volta ao café. — Dormiu bem? — pergunto, só pra preencher o vazio. Ele mastiga devagar, sem pressa de responder. — Como alguém que dormiu ao lado da mulher que beijou outro. — E ainda teve o privilégio de dormir sozinha — completa. — Que bom que dormiu. Eu também. Tomo meu café, sem açúcar, como gosto. Mas nem o amargor consegue disfarçar o gosto ácido da tensão entre nós. — Pietro foi um erro — solto, sem pensar. — Um hábito antigo. — Você costuma manter hábitos antigos depois de se casar? — Só quando o casamento é uma peça de teatro mal ensaiada. Ele se inclina levemente. O olhar mais escuro que a xícara de expresso nas mãos. — Uma farsa a
O corredor até a suíte parece mais longo do que devia. Cada passo ecoa como uma lembrança do que deixei para trás: as danças coreografadas, os brindes vazios, os olhares inquisidores da alta sociedade que nos vê como um espetáculo milionário.E ele ao meu lado. Caius. Tão silencioso quanto sempre, mas com os ombros tensionados. Com os olhos em mim quando pensa que não estou olhando.Estou cansada. Não do salto. Não do vestido. Do peso. Carrego o nome, a fortuna, o legado. E agora, carrego ele também. A porta se fecha com um clique. Estamos sozinhos.A suíte é absurda. Dois quartos. Uma sala de estar com vista para Madrid. Champanhe e morangos esperam sobre uma mesa. A banheira já está cheia. Nada disso me distrai. Ele tira o paletó devagar, pendura no encosto de uma poltrona. Nossos olhos se encontram. Por um segundo, não somos Castael nem Varella. Somos apenas dois corpos atravessados por guerra não dita.— Vai ficar de salto até dormir? — ele pergunta, a voz baixa, arranhada.— Talv
Desde que me lembro, havia uma promessa sussurrada sob o luar, feita por duas mulheres que eram inseparáveis: minha mãe, Beatriz Castiel, e Helena Varella, a melhor amiga dela. Entre risos e vinho barato, elas juraram que um dia seus filhos se uniriam — como se o destino já tivesse traçado o laço que agora me prende a um homem que não escolhi, mas que carrega a marca dessa antiga aliança.Eu cresci ouvindo histórias da força indomável de minha mãe e do afeto inabalável entre ela e Beatriz. Quando Beatriz, minha mãe, partiu cedo demais, a promessa, porém, não se perdeu. Meu pai, Vicente, embora nunca tenha sido o tipo de homem que demonstra afeto com facilidade, guardava aquele juramento como um relicário sagrado. Em sua forma austera, ele amava minha mãe com a mesma intensidade que sempre me amou.Foi ele quem me empurrou para fora da puerilidade e me apresentou ao império dos negócios, passando a tocha da Castiel Group para minhas mãos — e, mais importante, honrando o desejo de Beatr
Selene CastielVestido vermelho. Curto. Aberto nas costas. Tecido tão fino quanto minha paciência.É minha despedida de solteira. Mas, na verdade, é só mais uma desculpa pra me sentir viva.Bianca organiza tudo. Convites selecionados. DJ privado. Cobertura fechada em Barcelona. O tema? Liberdade. Chego atrasada de propósito, claro. Quero que todos olhem quando eu entrar. E olham. Por que não olhariam? Sou a noiva que ninguém imaginava ver de branco. A herdeira que não acredita em fidelidade. A mulher que vai se casar sem entregar absolutamente nada de si. Ou... era pra ser assim. Até hoje. Até esse vestido. Até essa festa.— Vai dar pra trás? — pergunta Bianca, me servindo tequila com glitter.— Nunca. Mas não posso mentir... tem algo estranho me rondando.— É culpa. — ela ri. — Ou desejo reprimido.Dou de ombros. — Ou só enjoo de homem sem sal.Brindamos. Dançamos. As luzes pulsam. A música invade. Corpos suam. Risadas cortam o ar. E eu? Eu me finjo inteira.Julián aparece
Caius VarellaSelene se veste como pecado e vive como provocação. Nessas duas semanas, vi ela sair com três caras diferentes. Um ator, um ex, e — eu juro — Pietro. Sim. O mesmoO maldito.Ela voltou com a boca marcada. E um vestido rasgado. Mas não pedi explicação. Não tenho esse direito. Ainda. Mas isso não me impede de querer quebrar a cara dele. Mesmo assim… eu fiquei. Assinei contratos.Testei vinhos para o buffet. Assisti provas de vestido de longe, como quem observa um furacão escolhendo onde cair.E em uma das noites, ouvi ela chorar no banheiro.Sozinha.Baixinho.Com água ligada, achando que ninguém notaria. Mas eu notei. Não porque me importo. Mas porque... já é impossível não me importar. Ela pode sair, se despir, provocar, tentar me enlouquecer. Mas ela vai casar comigo. E quando isso acontecer… O jogo muda. Não que eu queira ver ela submissa. Isso nunca vai acontecer, e honestamente? Nem é isso que eu quero. Eu quero ver ela sentir. Quero ver o olhar dela tremer. Quero s