Selene Castiel nasceu para comandar impérios, não para se apaixonar. Herdeira de um legado bilionário e forçada a cumprir uma promessa feita entre duas mães apaixonadas por vinho e juramentos eternos, ela se vê casada com Caius Varella — um homem que não pediu por esse trono, mas que agora ameaça reinar no coração da mulher mais perigosa da Espanha. Ela carrega a frieza de quem foi moldada pelo luto e pela ambição. Ele, o silêncio de quem observa mais do que fala — e toca mais fundo do que deveria. Numa união marcada por contratos, escândalos e desejos mal disfarçados, cada toque vira disputa, cada olhar, um desafio. Mas quando um ex obsessivo reaparece disposto a destruir o que resta dessa farsa perfeita, Selene e Caius são obrigados a escolher: seguir fingindo… ou queimar juntos no fogo que fingem não sentir. Um casamento por obrigação. Uma paixão por acidente. Um amor que pode ser o fim... ou o recomeço.
Leer másSelene Castiel
Transei ontem com o filho de um senador.
Acordo às dez e quarenta com a notificação estourando no celular como um tapa da realidade. Ressaca. Boca seca. O batom vermelho ainda intacto — o que, sinceramente, diz muito sobre mim.
A manchete do dia: “Selene Castiel é flagrada deixando hotel com acompanhante misterioso. Herdeira ou devoradora?”
Devem achar que me ofendem com isso.
Dou um gole no espumante esquecido na cabeceira e rio. A câmera pegou meu lado bom. De novo.
Mas não demora muito até o jogo virar.
Às 14h, a noiva aparece.
Sim, a legítima. De salto, óculos escuros e ódio espumando entre os dentes. Me encontra saindo de uma cafeteria no centro, onde fui apenas buscar um croissant e fingir que tenho rotina. O segurança tenta intervir, mas ela já tá na minha frente.
— Sua vadia! — ela grita. Em francês. Com sotaque de Paris Fashion Week e o drama de uma novela mexicana.
Sorrio.
— Bonjour, madame. Ele não me contou que estava ocupado.
Ela me empurra. Os flashes estouram. Três fotógrafos surgem do nada. Eu tropeço, mas não caio. Rodo sobre os saltos e sorrio pra câmera.
— Eu não brigo por homem. Principalmente um que goza em dois minutos.
#SeleneCastiel sobe nos trending topics.
"Vergonha da elite", "tempestade de batom", "desastre natural mais sensual da Europa".
Quando chego em casa, o escândalo já tem versão editada e legendada em três idiomas.
Bianca me liga:
— Você conseguiu ser capa e rodapé ao mesmo tempo. Na verdade, já estão chamando você de "tempestade de batom". Teve editorial sobre você numa coluna do El País. Falaram que você é “o desastre natural mais sensual da Europa”. — ela sorri. — Achei poético.
— Eu tenho talento.
— E falta de juízo. O conselho vai surtar. — ela suspira. — Selene... Um dia, um desses homens vai tentar te domesticar.
— E vai levar uma mordida. — dou de ombros. — Eu não nasci pra coleira.
Ela ri, divertida, mas com aquele fundo de quem me conhece melhor do que eu mesma.
— Sabe o que é pior? Eu acho que você acredita nisso de verdade.
— Porque é verdade. — ando até a varanda, olho em volta. A cidade aos meus pés, o mundo ao alcance dos meus saltos. — Eu não preciso de amor. Eu preciso de liberdade. Amor demais sufoca. Contrato demais, prende.
— Mas você é dona de uma empresa inteira.
— Exato. Por isso mesmo não tenho tempo pra um homem chorando porque eu não respondi uma mensagem em dez minutos.
***
No dia seguinte, a empresa finge normalidade. Mas os olhares são flechas. Os corredores, campos minados. Na sala da diretoria, uma reunião com acionistas começa gelada.
— A imagem da presidente afeta o valor das ações — um deles diz, ajeitando a gravata com dedos tensos.
— O que afeta o valor das ações é a incompetência. E nesse ponto, eu garanto: estou bem distante disso. — meu tom é afiado como meu salto de 12cm. — O lucro do último trimestre cresceu 17%. E sabem por quê? Porque escândalos vendem. Porque o mundo inteiro fala de mim. E onde quer que eu vá, a minha marca vai junto.
Silêncio. A tensão mastigável. Um deles tenta retrucar, mas só consegue tossir.
Saio da sala com a cabeça erguida. A mídia me odeia. A internet me deseja. A empresa me teme.
***
A noite caiu, e com ela, a minha paciência.
Precisei respirar. O silêncio do apartamento estava me engolindo, e o espumante na taça já não fazia mais efeito. Então vesti um blazer por cima do vestido preto justo, amarrei o cabelo num coque displicente e desci. Sem seguranças, sem roteiro. Só eu e minha sede de qualquer coisa que não fosse controle.
O bar era pequeno, escondido entre ruas ricas e corações podres. Luz baixa, jazz de fundo, e garçons que sabiam calar com elegância.
Sentei no balcão. Pedi um martíni seco, dois goles de distância da sobriedade. Vesti um blazer por cima do vestido colado, como quem brinca de respeitável. Mas nada em mim era domesticável.
Foi aí que vi ele. Sentado no canto do bar, como quem não devia estar ali, e ainda assim, dominava o ambiente inteiro. Alto. Ombros largos. Camisa preta com as mangas dobradas até os cotovelos, revelando antebraços fortes e veias marcadas. A barba por fazer desenhava o maxilar afiado, e o cabelo escuro caía de leve sobre a testa, num desalinho cuidadosamente natural. Parecia o tipo de homem que não tenta chamar atenção, mas chama mesmo assim, com o corpo, com o olhar, com o silêncio.
Os olhos dele... castanhos, fundos, atentos. Como se pudessem desarmar alguém só com a presença. Ele tinha aquele tipo de beleza bruta, que não vem da vaidade, mas da intensidade.
E o jeito como ele segurava o copo? Quase sensual. Quase perigoso. Era o tipo de homem que fazia a gente esquecer o nome e lembrar do toque. Não me reconheceu. Não tentou impressionar. Não sorriu por obrigação. E isso… foi o que mais me prendeu.
Arrogância ou timidez? A curiosidade me puxou como um imã.
— Sozinho? — perguntei, virando levemente na direção dele.
Ele me olhou. Olhos castanhos, intensos. Não ficou impressionado. E isso, honestamente, foi o primeiro sinal de perigo.
— Não mais, pelo visto. — respondeu, com uma calma irritante.
— Costuma responder com charme ou é só hoje?
— Costumo observar antes de escolher.
Arqueei a sobrancelha, interessada.
— E o que está vendo agora?
Ele virou o copo devagar, antes de falar:
— Uma mulher tentando parecer entediada... quando, na verdade, está só cansada de prever o final de tudo.
Ri.
— Que romântico.
— Que realista.
Ficamos em silêncio por segundos longos o suficiente pra parecerem íntimos. A música no fundo parecia lenta demais, ou talvez fosse só o jeito como ele me olhava.
— Nome? — perguntei.
— Caius. E você?
— Ainda estou decidindo.
Ele sorriu.
— Tudo bem. Gosto de mistérios.
— E eu, de perigos.
— Perigosa ou viciada neles?
— Os dois.
Tomamos mais um gole, os olhos se cruzando entre sorrisos disfarçados. Era aquele tipo de química que não precisava de explosão — só de um toque, uma fala, um desafio.
— Você parece diferente. — disse, me inclinando um pouco. — Não me reconheceu?
— Não. Deveria?
— Não. — sorri. — Isso te faz mais interessante.
Ele riu, sem forçar.
— E o que você faz, além de provocar desconhecidos em bares?
— Eu herdei um império. E administro escândalos como quem administra planilhas.
— E faz isso parecer... elegante.
— Porque é. — incline-me mais. — E você?
— Eu? Só um cara tentando não cair em tentação hoje.
Inclinei a cabeça. O jogo já estava ganho, mas o gosto da vitória vinha melhor devagar.
— Vamos para um hotel?
Ele hesitou, mas não recuou. O olhar dele endureceu por um segundo. Parecia não ser o tipo de cara que fazia isso toda noite. E isso... me intrigou ainda mais.
— Direta assim?
— Tempo é dinheiro. E, no meu caso, muito.
— Você é sempre assim?
— Não. Só quando tenho vontade.
Silêncio. O jazz mudou de tom. Ele deslizou o copo pro lado, olhou em volta e respirou fundo.
— Está bem. Mas com uma condição.
— Qual?
— Sem promessas. E sem disfarces.
Sorri. O jogo tinha virado.
— Perfeito. Eu também não vim aqui pra mentir.
Ele se levantou. Eu o segui.
O elevador do hotel era um confessionário silencioso. Nossos reflexos no espelho diziam tudo que a boca ainda não tinha coragem. E quando a porta se fechou atrás de nós, eu senti:
A faísca virou fogo.
O quarto era amplo, luxuoso, iluminado por uma luz âmbar discreta. Tirei o blazer, joguei sobre a poltrona, e fiquei de costas pra ele.
— Pode tirar a camisa. Ou só ficar olhando. Tanto faz.
Ouvi seus passos. Senti sua presença atrás de mim. Mas nada aconteceu.
Virei.
Caius estava parado, tenso, o olhar grave.
— Eu não posso. — disse.
— Não pode ou não quer?
— Eu quero. Mas… isso aqui não é quem eu sou. Eu não sou o cara que dorme com desconhecidas em hotéis só porque a noite está vazia.
Revirei os olhos, cruzei os braços.
— Eu não quero respeito, Caius. Quero prazer. E você parece saber como dar isso.
— E você parece desesperada para sentir qualquer coisa — ele rebateu, calmo.
Doeu.
Então, fiz o que sempre faço quando algo dói: ataquei.
— É medo? Ou disfunção? Talvez você não funcione sem amor, sem romance… — dei um passo à frente, os olhos cravados nos dele. — Tudo bem. Homens é o que não falta. Posso descer agora e escolher outro. Mais direto. Menos problemático.
Ele respirou fundo. Quase sorriu, mas não.
— E isso te deixa feliz?
A pergunta cortou mais do que qualquer grito. Fiquei muda. Pela primeira vez, sem resposta. Porque ele não me confrontava com raiva. Ele me via. Ele foi embora. Me deixou ali. Sozinha. Vazia. Pela primeira vez… fora do controle.
Fiquei ali por alguns segundos, sozinha no quarto de hotel, olhando para a porta que Caius acabara de fechar.
O silêncio me engoliu.
O som dos saltos dele sumiu no corredor, mas a pergunta ficou — queimando na minha pele como o toque que ele recusou.
“E isso te deixa feliz?”
Não.
Mas eu não ia admitir.
Eu precisava sentir alguma coisa. Qualquer coisa. Até mesmo o gosto amargo da minha própria fuga.
Peguei o celular. Meus dedos já sabiam pra onde ir. Pietro.
Toquei o nome dele. O telefone chamou três vezes antes de ele atender, com a voz carregada de sarcasmo e tédio.
— Selene Castiel… isso é um milagre ou uma recaída?
— Estou no Le Royale. Suíte 704. Traz whisky.
— Vai me usar como curativo?
— Você sempre foi bom nisso, Pietro. Não estraga agora.
Silêncio por dois segundos. Depois, a risada.
— Já tô no carro.
Desliguei.
Deixei o celular cair no chão, tirei os brincos, o vestido, e encarei o espelho. A mulher de lá ainda parecia invencível. Mas eu sabia. Ela só queria parar de doer.
Caius Castiel Dois Anos DepoisEu nunca pensei que ia conseguir sentar aqui no jardim da casa do Vicente, olhando para o céu azul, sentindo o cheiro das flores e ouvir o riso do meu filho preenchendo o ar — e me sentir, finalmente, em paz. Mas aqui estou.Dois anos depois do inferno que vivemos, depois de tudo que foi arrancado e reconstruído, a nossa família está inteira. Selene está ali, ao meu lado, mais linda do que nunca, com os olhos cheios daquela luz que só quem passou pela tempestade sabe ter. Ela segura a mão do nosso pequeno Leo, que ainda nem tem dois anos, mas já tem uma vontade de viver que me surpreende todo dia.A gente saiu daquela selva de concreto, das sombras que o passado jogava sobre nós, e encontrou um refúgio aqui, nessa casa que é de Vicente, mas que agora é a nossa casa — o nosso lar.Selene deu um sorriso para mim e eu apertei a mão dela, sentindo cada músculo relaxar, como se tudo o que carregávamos tivesse finalmente encontrado seu lugar.— Você já viu a c
POV Selene CastielA sala ficou silenciosa depois da notícia. Caius segurava minha mão com tanta firmeza que eu sentia o mundo se encaixar de novo.— Vamos para o quarto? — ele sugeriu, com um sorriso terno, mas cheio de promessa.Eu assenti, sentindo meu coração acelerar. Cada passo que dávamos juntos era uma vitória contra tudo que a gente enfrentou.A luz suave do quarto dançava sobre a pele nua de Caius, destacando cada músculo tenso, cada cicatriz que contava a história do que havíamos enfrentado. Seus olhos, sempre tão intensos, agora queimavam com um fogo que era só meu.Ele me puxou contra seu corpo, e eu senti o calor dele através da fina camada da minha roupa. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas, firmes e possessivas, como se precisasse confirmar que eu estava ali, que era real.— Selene… — Meu nome em seus lábios era um pedido, uma reverência.Eu não resisti. Meus dedos se enredaram em seus cabelos escuros, puxando-o para mim. O beijo foi lento no começo, uma exploração
POV Caius VarellaA porta do quarto do hospital se abriu devagar, e uma onda de alívio quase me derrubou. Primeiro entrou Dona Nair, com aquele jeito calmo e acolhedor que só ela sabe ter. O cheiro familiar do perfume dela invadiu o ambiente, e mesmo ali, naquele lugar frio e cheio de máquinas, senti um pouco do calor de casa.— Selene, minha filha... — a voz dela era um abraço.Segurei a mão de Selene mais firme, e a vi tentar sorrir, aquela luta para parecer forte.Logo depois entrou meu sogro, Vicente. O peso nos olhos dele denunciava noites em claro, preocupações que nem ele sabia como lidar. Ele me cumprimentou com um aperto de mão firme, o olhar passando pra Selene.— Estamos todos juntos nisso — falou com aquela voz dura, mas cheia de um amor que só um pai tem.Bianca apareceu em seguida, como um furacão de coragem e determinação, a luz que Selene precisava para não sucumbir.Quando Leonor entrou, meu coração apertou. A mulher que me deu a vida estava ali, frágil e forte ao mesm
POV Caius VarellaA luz do corredor já não me cegava como antes.Era só um silêncio estranho, pesado, quase confortável.Talvez fosse o alívio. Talvez fosse o cansaço. Talvez fosse… a paz depois da tempestade.Eu estava sentado, os cotovelos nos joelhos, a cabeça baixa, quando ouvi passos lentos.Olhei de canto. Vicente Castiel.Ele andava devagar. Não como um homem velho, mas como um homem que carrega o mundo nas costas.Se aproximou. Parou ao meu lado.Ficou em silêncio por um tempo. E eu deixei.— Eu quase perdi ela duas vezes nessa vida, Caius. — a voz dele saiu baixa, grave, como se ecoasse de dentro de um baú trancado. — Uma, quando enterrei a mãe dela. E agora…— Eu sei. — murmurei. — E isso nunca vai se repetir.Ele me encarou, como se quisesse acreditar. E acredito que acreditou.— Ela está viva por causa de você. — disse, por fim.Respirei fundo. Tive que encarar o chão pra não desmoronar.— Eu falhei. Eu devia ter protegido ela antes.— Você protegeu. Quando mais importava.
POV Selene CastielO som das sirenes ainda ecoava no meu ouvido. Uma sinfonia distorcida de urgência e caos. O zumbido da cidade desaparecia ao fundo, abafado pelo barulho do meu próprio sangue pulsando nos ouvidos. Eu era movida como um corpo entre mãos alheias, sobre uma maca dura, enquanto a luz do hospital me cegava em flashes. Clarões. Brancos. Impiedosos.O ar cheirava a álcool e sangue seco. A pele ardia onde ele me tocou. Onde ele me machucou. E as dores... vinham em ondas. Primeiro físicas. Depois emocionais. Uma memória ruim por segundo. O cativeiro. As correntes. O gosto metálico do medo.Mas o que mais doía... era o coração. Não o órgão. O centro. O lugar onde mora o amor — e que agora estava trincado, afundado num trauma que eu não sabia como nomear.Minhas mãos buscavam por algo. Refúgio. Âncora. E logo encontraram.Caius.Sua mão segurava a minha como se, se soltasse, o mundo acabasse.Os olhos dele — vermelhos, úmidos, violentos de raiva, exaustos de alívio. A barba po
POV Caius VarellaO ar cheirava a ferrugem e ameaça.Pietro ainda sorria, o cigarro pendurado no canto da boca, como se fosse o dono da porra toda. Os homens de Vincenzo surgiram das sombras como se o próprio inferno tivesse aberto as portas.— Então, irmãozinho... — ele zombou — vai abaixar a arma e conversar ou vai morrer tentando ser herói?Eu respirei fundo. O colete sob a camisa colava na pele com o suor. Meus dedos não tremiam. Meus olhos, sim, ardiam.— Eu vim só com uma pergunta — falei, baixo, firme. — Onde está a Selene?— Ah, ela está bem... ou estava. Até ontem à noite. Vincenzo é um homem de princípios — Pietro respondeu, girando a faca que agora tirava do cinto. — Do tipo que gosta de tirar tudo de quem o decepcionou. E você, maninho, decepcionou o papai.Vincenzo apareceu no alto da estrutura de ferro, como um imperador grego. A sombra dele caía direto em mim.— Caius... — a voz dele ecoou, grave e teatral — Eu tinha tantos planos pra você. Um herdeiro legítimo. Um nome
Último capítulo