Minha inimiga, meu pecado: amor proibido no fim dos tempos

Minha inimiga, meu pecado: amor proibido no fim dos temposPT

Romance
Última actualización: 2025-12-15
Meb Lunacy  Recién actualizado
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Resumen
Índice

Nunes é um policial instável, preso num futuro desolado e viciado em tarjas pretas. Sua única companhia? A terrorista que transforma sua dor em prazer. Após uma missão espacial catastrófica, ele é capturado por uma insurgente que o vê como moeda de troca, isolados em um sistema à beira do colapso temporal. Proibido de amá-la, Nunes se vê irresistivelmente atraído pela mulher que transformou seu sofrimento em êxtase, vivendo uma paixão tão insana quanto perigosa.

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Capítulo 1

Prólogo

A sala oeste da nave parecia um anfiteatro futurista, onde a rotina se confundia com a contemplação do impossível. Entre mesas repletas de anotações e lousas riscadas de branco, o ar se enchia de café refinado e óleo de peppermint. Os cochichos dispersos dos programadores completavam a cena, debatendo fórmulas sobre o buraco negro lá fora.

— Chique, né? — Nevaska cruzou os braços, a postura desafiadora e relaxada.

— Chique? Cê tá de sacanagem... — Nunes murmurou, esparramando-se no sofá, a exaustão da vigília noturna pesando em cada músculo: — Que estilo cafona, mano!

O ambiente respirava o antigo estilo Frutiger Aero — superfícies translúcidas, curvas suaves, luzes suspensas que pareciam flutuar.

— Mano? — ela prendeu o olhar em Nunes, como se esperasse um veredito: — Tá me achando com cara de homem, porra?!

— Ôh, mana! Foi mal, meu amor... é o cansaço me fazendo passar vergonha — ele riu, as mãos apertando o rosto: — É a nave! Ela tá me deixando louco... cê sabe que eu sou do time do pessoal que curte ficar vendo filme antigo só pra ver como eram as ruas sem a PORRA do LED pra TODO lado... e a nave é o oposto disso. Só poluição.

— Poluição visual, é isso? — Nevaska caminhou devagar, parando na frente de Nunes, o sorriso aumentando, enquanto passava as mãos por sua cintura. Ela o tocou como se estivesse testando a temperatura da água: — Pelo menos o meu cheiro é melhor, nada de...

Peppermint... — ele soltou a palavra com nojo, os olhos rolando: — Por que não escrevem “menta” logo? Americanizaram tudo...

— Ei, amor... — ela levou a mão ao queixo de Nunes, o toque trazendo seu rosto mais acima: — Relaxa... você tá estressado.

— Eu sei... foi mal por isso.

— Mais tarde... eu e você? De novo...? — ela sussurrou, as unhas afundando na carne do seu pescoço: — Depois de você terminar de descansar... acho que você merece sair de perto desses nerds... e sentir... sentir AQUELE meu cheirinho de essência de algodão do sabonete... aquele que você DERRETE em tesão.

A feição azeda e cansada de Nunes foi dissolvida por completo, substituída por um olhar que já dizia tudo. Há silêncios que são buracos negros: engolem tudo, menos o grito preso dentro de você. E Nevaska sabia ler Nunes como jamais ninguém soube.

Ela o puxou, as unhas riscando as costas dele por dentro da camisa. O toque que prometia tudo... e nada ao mesmo tempo.

— Notas e famílias olfativas... daquelas... daquelas da PORRA da fava tonka! — ela sussurrou, um sorriso animalesco surgindo, puxando Nunes num movimento rápido: — Iguais ao dela, caralho... Iguais aos que você gosta, né?!

Ele engoliu em seco. “Iguais ao dela” ainda não o confortavam como deveriam — talvez nunca seria o que ela queria que fosse.

— Um-hum... — ele forçou um sorriso, os lábios tremendo em uma timidez cansada: — E pra completar, um jazz qualquer de fundo... um banheirinho quentinho e escurinho... hmm...!

Ambos sorriram, a mão dele subindo lentamente pela nuca de Nevaska como quem tem sede no deserto. Seus dedos contavam uma história de carência antiga.

— Eu gosto do seu sabor — ele sussurrou, mordendo os lábios com uma mistura de cansaço e desejo: — É... viciante, sabe? Igual o óleo de menta da nave. Combina com você ser baixinha, sei lá.

— Eu sei... e só eu sei — ela cerrou os olhos, o rosto se aproximando, a testa encostada na dele: — É o nosso segredinho, policialzinho corrupto...

Nunes sentiu o estômago embrulhar. Ele a conhecera no início da missão, de uma forma peculiar. Tudo aquilo era rápido demais, rápido de um jeito errado, como se o romance entre eles tivesse errado a conta e esquecido de consertar o que estava quebrado — ou fosse apenas uma desculpa para curar uma carência.

— Posso sentar contigo? — ela sussurrou, mas a pergunta era uma mera formalidade.

— Claro, meu bem — Nunes deu uma sequência de tapinhas suaves e desanimados no sofá: — Senta aí, te faço um cafuné antes de dormir. Só não pula em mim igual a última ve—!

— HÁ! — Nevaska saltou, um pulo desajeitado: — VAI, IDIOTA! — ela cravou as mãos na barriga dele, os dedos dançando e pressionando a pele sensível: — Vira aí! Dá espaço, quero deitar!

— SAI! SAI, DESGRAÇA! — ele gritou, entre gargalhadas, um som que explodiu fora de controle.

— VIRA PRO LADO LOGO! — ela mordeu os lábios, os dedos afundando mais na carne.

TÁ! TÁ BOM, PORRA!

O som da voz de Nunes, inesperadamente alta naquele corredor hermético, caiu como um objeto pesado em vidro. Em um instante, todos os ruídos ambientes — os bipes dos painéis, o murmúrio das conversas, até o zumbido sutil da ventilação — desapareceram.

Três técnicos de jaleco azul, que estavam a poucos metros analisando um painel, pararam a mão no meio do ar. Uma analista, com a prancheta sob o braço, congelou com o lábio ligeiramente entreaberto, como se tivesse engolido uma palavra. Todos os olhares, sem exceção, convergiram para Nunes, de uma maneira fria e desprovida de humanidade. Não era raiva ou curiosidade. Era um silêncio de falha, a estranheza de uma máquina que opera fora dos parâmetros.

O desconforto subiu pela espinha de Nunes. Ele apertou os dentes, sentindo o calor subir ao seu rosto.

“Não de novo, caralho.” — ele fechou os olhos com força, o rubor espalhando-se pela pele.

Ele levou as mãos aos pulsos de Nevaska, apertando como quem diz: “já deu.”

Ela cedeu ao aperto dele, parando o movimento, e virou o rosto, a expressão subitamente envergonhada.

Em outra janela, a lua aquática espalhava brilhos azul-cúpula. Os engenheiros espaciais chamavam assim — uma fusão etérea entre a água turva e os brilhos azul-profundo e vermelho-sangue do buraco negro supermassivo. Para Nunes, a arte cósmica parecia apenas mais uma piscina gigante, em pleno verão.

— Desculpa, eu esqueci que eles tratam a gente diferente…

— Não é tratar diferente, meu amor — Nunes inspirou fundo, as mãos subindo devagar até o rosto dela, o toque tentando ser uma âncora numa realidade que insistia em rachar: — É que… eles dizem que você não existe. E isso me assusta, sabe?

Nevaska não apenas sorriu; ela escancarou a boca numa fissura macabra que tomou conta de seu rosto. Aquele não era um sorriso humano, era uma deformidade viva que desafiava a anatomia, um rasgo largo demais, grosseiro demais para caber na face de uma mulher normal.

Nunes sentiu um arrepio gélido e nauseante percorrer sua espinha, o tipo de frio que vem não de uma nevasca, mas da visão de algo que não deveria existir. O horror estava nos dentes: brancos de um jeito lustroso, como marfim polido, mas longos, afiados e numerosos demais. Eles reluziam sob a luz fraca, parecendo presas expostas, prontas para rasgar. Por um instante aterrador, Nunes viu não sua namorada, mas uma máscara de carne esticada sobre uma caveira faminta.

— Eu sei que te assusta — ela fechou a boca, o sorriso sumindo como uma porta batida: — Mas eu tento tanto... tanto te fazer aprender... é o único jeito. Amor não é só sentimento. É obediência. E você é divergente nesse assunto.

Ele piscou, confuso.

— Às vezes você me lembra minha ex-namorada, sabia? Eu disse exatamente isso pra ela quando—

— Quando ela terminou com você por áudio? — ela riu, o som da risada familiar demais para ser coincidência: — Já fazem semanas, Nunes. Ela foi embora. Você sabe que ela não vai mais voltar.

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