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Capítulo 3 – O Noivo Misterioso

POV Selene Castiel

A mansão Castiel parece mais fria hoje. E não é o clima. É a ideia de ter que fingir que estou no controle, quando, na real, a vida já escapou das minhas mãos faz tempo.

Sete dias se passaram desde aquele jantar estratégico com meu pai. Desde que ele me informou que, pra manter a empresa sólida, eu precisava ser… casada. E agora, a peça principal do jogo chega: Caius Varella, o homem que vai assinar meu sobrenome numa aliança que eu não pedi.

A campainha toca às 18h em ponto. Vicente se ajeita todo, como se fosse receber um chefe de Estado. Eu fico no topo da escada, de braços cruzados, esperando o coitado.

Mas quando vejo quem é...

Merda.

O mundo para por dois segundos. Porque o homem que entra não é qualquer desconhecido.

É ele.

Caius. O moreno do bar. O da risada fácil, da conversa afiada. O homem que me acompanhou até um quarto de hotel, me olhou nos olhos, e disse não.

O mesmo que virou as costas e me deixou... confusa. Com raiva. Com sede de controle.

E agora ele está na minha sala, sendo apresentado como o homem com quem vou casar.

Ele me vê. E reconhece. É nítido. A tensão se instala na mandíbula dele, mas ele tenta disfarçar. Eu, nem tento. O olhar que lanço corta mais que salto agulha.

E o desgraçado ainda sorri. Aquele sorrisinho cínico de quem sabe o que fez.

Atrás dele, vem a mãe, Helena, doce demais pra essa confusão toda, e a irmã, que parece tirada de um comercial de primavera. Família perfeita. O oposto da minha.

Desço os degraus com a elegância treinada de quem nasceu num pedestal. Cada passo é um soco no chão.

Ele não tira os olhos de mim.

— Caius, essa é minha filha, Selene. — Vicente anuncia, cheio de orgulho.

Aperto a mão dele. Forte. Seca. E o calor da pele dele me lembra do quarto. Do quase. Do que não aconteceu.

— Senhorita Castiel — ele diz, formal.

— Não precisa de tanto teatro. A gente vai casar, não processar um ao outro. — rebato, sorrindo, venenosa.

Ele retribui o sorriso. E me destrói com uma frase:

— Então prefiro te chamar de Selene.

A forma como ele diz meu nome é um pecado. E eu odeio isso.

— Desde que não espere que eu mude quem eu sou por causa disso, tudo bem.

Silêncio. Daqueles que queimam a espinha.

Helena quebra o clima com uma risada leve. Todos seguem pra sala. O jantar começa.

A conversa é educada, o vinho excelente, o teatro insuportável. Falam de empresas, da parceria estratégica. Helena comenta como as mães delas foram amigas de juventude. Vicente faz parecer que estamos celebrando um casamento por amor. A cereja do bolo da farsa.

— E você, Selene — pergunta Helena, gentil — como se sente com tudo isso?

Olho pro homem ao meu lado.

— Exatamente como pareço. — respondo. — Uma mulher vestida pra um teatro em que não sabe se quer ser a protagonista.

Caius ergue uma sobrancelha. Mantém a calma.

— Eu também não pedi pra ser elenco fixo.

— Ótimo. Já temos um começo honesto.

Silêncio de novo. Sorrisos falsos. Vicente pigarreia.

***

Depois do jantar, a casa se divide. Ele sobe com o pai. A mãe dele desaparece com a irmã. Eu fico na varanda, sozinha com uma taça de vinho e os saltos matando meus pés.

Caius surge, claro. Como sempre, quando menos quero.

— Fugindo da convivência? — ele pergunta, encostando ao meu lado.

— Só respirando. Aqui fora o ar é menos hipócrita.

— Engraçado... no bar, você parecia mais... livre.

Minha espinha gela. Só de lembrar.

— Engraçado é você achar que aquele quarto significou algo.

— Não significou? — ele pergunta com uma calma irritante.

— Significou que você não conseguiu sustentar o próprio desejo. — falo, ácida. — E que eu perdi meu tempo.

Ele vira o rosto pra mim, olhos semicerrados.

— Ou talvez tenha sido o primeiro “não” que você levou na vida. E isso te assustou mais do que gostaria de admitir.

Eu travo por dentro. Mas disfarço.

— Você se acha demais, sabia?

— Só sou sincero. E por algum motivo, isso te incomoda.

Silêncio. De novo.

— Se soubesse quem eu era... teria ido até o fim? — pergunto, amarga.

Ele pensa. Um segundo.

— Se soubesse quem você era... talvez tivesse te beijado no elevador.

A resposta pega de surpresa. É torta. Ambígua. Intensa.

Ele me olha.

— Boa noite, Selene.

Ele dá as costas e começa a caminhar de volta pra dentro. Mas eu não deixo.

— Caius.

Ele para. Devagar. Como quem já esperava.

— Você sempre foge quando as coisas saem do script?

Ele vira o rosto pra mim, com um sorriso de canto.

— Não fujo. Só respeito o limite dos outros.

— O problema é que você acha que conhece meus limites — dou dois passos na direção dele, a taça de vinho ainda na mão, a arrogância vestida no corpo como um perfume caro. — Mas você não me conhece, Caius. Você só viu a ponta do iceberg. E teve medo.

— Medo? — Ele se vira de vez agora, com aquela calma assassina. — Eu tive classe. E autocontrole. Coisas que você claramente não valoriza.

— Ou talvez você seja só mais um covarde com boa oratória. — Provoco. Me aproximo mais. Agora estamos a centímetros de distância.

Ele ri. Baixo. Quase inaudível.

— Isso te excita? Me provocar assim?

— Um pouco. — encosto a taça na mesa ao lado, livre das mãos. — Mas o que me excita mais... é ver você perder esse autocontrole que tanto defende.

Subo a mão pelo peito dele, deslizando devagar até a gola da camisa. Os olhos dele ardem. Mas ele não se mexe.

— Tá jogando um jogo perigoso, Selene.

— E você entrou nele no minuto que me seguiu até aquele hotel.

Silêncio.

Os olhos dele vão dos meus lábios pros meus olhos. A tensão pulsa no ar como eletricidade.

— Me diz, Caius — sussurro, meu rosto quase colado ao dele — foi difícil dormir naquela noite?

Ele solta o ar pelos lábios. Curto. Quente.

— Eu ainda não dormi direito desde então.

Então eu faço.

Me inclino.

E roubo o beijo.

Rápido. Selvagem. Um estalo de caos e desafio. Minha boca encontra a dele com pressa, com raiva, com um gosto de “toma essa”. Ele retribui. Por um segundo. Um segundo longo demais.

Mas então... ele me segura pelos ombros. Se afasta.

— Não faz isso. — diz, a voz rouca.

— Por quê? Vai quebrar seu código de honra?

— Porque se eu continuar... não paro.

— E qual é o problema?

— Você quer controle. Eu não vou te dar isso.

Ficamos ali, os dois ofegantes. A guerra declarada nos olhares. Ele recua um passo. Dois.

— Boa noite, Selene.

E vai. Dessa vez, de verdade. E eu fico parada, com os lábios ainda ardendo e o coração batendo mais alto do que deveria.

Droga.

Caius Varella é diferente.

E isso me irrita mais do que qualquer escândalo.

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