A mesa está posta como num catálogo de hotel cinco estrelas: sucos frescos, pães artesanais, frutas cortadas com precisão quase cirúrgica. E lá está ele. Caius. De camisa branca com as mangas dobradas, cabelo ainda úmido do banho, como se a noite passada tivesse escorrido dele sem deixar rastro.
Ele me olha uma vez. Rápido. Frio. Depois volta ao café.
— Dormiu bem? — pergunto, só pra preencher o vazio.
Ele mastiga devagar, sem pressa de responder.
— Como alguém que dormiu ao lado da mulher que beijou outro. — E ainda teve o privilégio de dormir sozinha — completa.
— Que bom que dormiu. Eu também.
Tomo meu café, sem açúcar, como gosto. Mas nem o amargor consegue disfarçar o gosto ácido da tensão entre nós.
— Pietro foi um erro — solto, sem pensar. — Um hábito antigo.
— Você costuma manter hábitos antigos depois de se casar?
— Só quando o casamento é uma peça de teatro mal ensaiada.
Ele se inclina levemente. O olhar mais escuro que a xícara de expresso nas mãos.
— Uma farsa a