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Capítulo 2 — O erro delicioso

O bar do hotel cinco estrelas não era parte dos meus planos hoje.

Mas depois da reunião em que três homens tentaram me ensinar como administrar a empresa que carrego no sangue… eu precisava de um drink. Ou cinco.

O vestido colado ainda carrega o cheiro do perfume caro, o salto já começa a incomodar, e o garçom me traz o whisky duplo como quem sabe que eu não estou ali pra socializar.

— Pensei que você tivesse superado essa fase, Castiel. — a voz atrás de mim arrasta lembranças que meu corpo conhece melhor que minha mente.

Pietro Moreau.

Paro o copo no ar.

Me viro.

Ele está ali. De terno, barba por fazer e aquele maldito olhar de quem sabe que ainda tem efeito.

— Pensei que você estivesse em Paris. Ou morto. — respondo.

— Morte é relativa. E Paris enjoa.

— Ele dá um passo. — Você, não.

Eu deveria levantar. Ir embora.

Mas não levanto.

E não vou embora.

— Você quer o quê, Pietro?

— A pergunta é: você quer o quê, Selene?

E é isso. Um estalo. Uma chama antiga. Uma necessidade suja, raivosa, urgente.

Subimos pro quarto sem dizer mais uma palavra.

A porta mal se fecha e ele já me prende contra a parede, as mãos ásperas subindo pelas minhas coxas, empurrando o vestido até a cintura.

— Ainda lembra como eu gosto? — ele sussurra contra minha pele.

— Eu nunca esqueci. — e odeio admitir isso.

O beijo é agressivo, molhado, invasivo. Meus dedos puxam o cabelo dele com força, nossas bocas se batem como se estivéssemos brigando.

Roupas se perdem.

Ele me deita na cama como se eu fosse dele.

E por um instante... eu deixo ser.

Seus dedos me encontram já pronta, e ele sorri contra meu colo.

— Você ainda treme por mim, princesa?

— Cala a boca e me fode.

E ele obedece.

Com força.

Com raiva.

Como se o passado ainda tivesse alguma chance.

O som dos nossos corpos se chocando preenche o quarto. Ele me segura pelos quadris, me vira de bruços, me puxa de volta com os dentes no meu ombro — a marca que já foi dele uma vez. Eu gozo gritando o nome dele, e odeio isso. Mas não tanto quanto odeio o fato de ele saber exatamente como me levar até lá.

Quando termina, ele desaba ao meu lado, ofegante.

— Ainda sou o único que te faz gozar assim.

— Ainda é o único erro que eu repito. — respondo, virando de lado, nua, suada e vazia.

E no silêncio que vem depois, percebo... Não foi prazer. Foi fraqueza. E Pietro? Ele vai usar isso. Como sempre usou.

*** 

A luz invade o quarto como uma maldição dourada. Os lençóis ainda estão amassados, o cheiro de sexo barato e escolhas ruins grudado na pele. Pietro está jogado de lado, nu, ressonando com o braço sobre os olhos.

Levanto sem fazer barulho. Não porque me importo. Mas porque não quero ouvir mais uma palavra daquele homem. Entro no banho. A água quente b**e nas costas como se pudesse me limpar. Mas tem coisa que nem o diabo lava.

Quando saio, não olho pra cama. Pego o vestido da noite anterior, amarro os cabelos molhados num coque improvisado, calço os saltos e saio do quarto como quem foge de um incêndio.

O celular vibra.

Mensagem:

Pai: “Almoço. Hoje. Meio-dia. Assunto importante."

Vicente Castiel não convida.

Ele decreta.


O restaurante é elegante, discreto e tem cheiro de madeira polida e poder antigo. Meu pai está lá, pontual como sempre, com um terno cinza escuro e expressão fechada. Como se fosse outro dia normal de negócios.

— Você tá com cara de quem dormiu com o inimigo. — ele comenta, sem sequer levantar os olhos da taça de vinho.

Sento. Cruzo as pernas.

Não reajo.

— Acho que você vai gostar do tema de hoje. — ele diz, agora sim me encarando. — Casamento.

Arqueio uma sobrancelha.

— Vai casar de novo, papai? Alguém finalmente aguentou sua falta de charme?

— Você vai se casar, Selene.

Pausa.

Silêncio.

A taça quase escorrega da minha mão.

— Como é?

— Uma promessa antiga. Sua mãe e a mãe de Caius. Um acordo. Selado antes de você nascer. E agora é hora de cumprir.

— Caius... o quê?

— Varella. Diretor de Arte, filho de Helena. Mulher que pintava o céu com palavras e ensinava que beleza é detalhe. Sua mãe a amava como se ama uma obra inacabada – sabendo que o melhor ainda estava por vir.

— Que belo critério pra me obrigar a casar: afinidade materna.

Ele não ri. Nem se mexe.

— Você vive como se o mundo te devesse algo. Tá na hora de pagar. A mídia te mastiga toda semana. Os investidores estão em alerta. E eu... estou cansado de consertar os estragos.

— Você quer me usar como escudo?

— Eu quero te salvar de você mesma.

Ele coloca um envelope sobre a mesa. Contrato. Fotos. Dados. E ali, entre páginas e tinta, está a sentença.

— Vocês se casam em três semanas.

Levanto.

Deixo a taça.

Deixo tudo.

— Pode ser que eu case, pai. Mas eu te prometo uma coisa: Ele pode até me ter no papel. Mas ninguém,  nem você, nem ele, nem o mundo, vai me prender.

Saio do restaurante com o sangue fervendo e o coração num ritmo que eu não conhecia. Não é medo. Não é raiva. É algo que beira a vertigem. Porque pela primeira vez... o jogo não é mais meu.

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