Desde os 11 anos, Estela nutria um amor inocente e secreto por Guilherme — melhor amigo de seu irmão, catorze anos mais velho que ela. Enquanto ele cursava medicina em Nova York, ela lhe enviava cartinhas perfumadas, cheias de palavras doces, assinadas por uma admiradora anônima que o chamava de príncipe.Ele sempre a viu como uma bonequinha frágil, a irmãzinha do amigo, aquela garotinha magrinha, de óculos e sorriso tímido, que vivia sonhando acordada. Mas o tempo passou… e aquela menina se tornou uma mulher.Anos depois, um reencontro, uma noite marcada por descuido, desejo e um erro irreversível mudaria tudo. Ao amanhecer, restaram lençóis manchados, promessas despedaçadas e um pedido de desculpas que rasgou sua alma.Humilhada.
Ler maisEstela
Eu sabia que isso era loucura. Sabia desde o momento em que ele me puxou pela mão, tropeçando pelos próprios pés, embriagado, os olhos mais turvos que eu já tinha visto, mas ainda assim lindos... Meu Deus, como podiam ser tão lindos?— “Preciso... preciso de ajuda...” ele balbuciou, segurando no batente da porta como se o mundo estivesse girando rápido demais.
— “Vem, Guilherme... Eu te ajudo...” minha voz saiu num sussurro, trêmula, quase quebrada. Meu coração disparava tanto que parecia que ia rasgar meu peito.
Ele se apoiou em mim, e meu corpo miúdo quase cedeu, mas eu estava determinada. Apoiá-lo, guiá-lo, cuidar dele... Como sempre quis.
O cheiro de álcool se misturava ao perfume amadeirado dele. Seu braço forte apoiado nos meus ombros. Cada toque queimava minha pele como se marcasse a ferro cada segundo daquela noite.
Quando chegamos no quarto, ele deixou o corpo cair sobre a cama, levando as mãos ao rosto. Soltou um suspiro longo, pesado... Dolorido.
— “Droga...” murmurou. — “Por que bebi tanto...?”
Eu engoli em seco, me ajoelhei ao lado dele, passando a mão de leve nos seus cabelos.
— “Você precisa de um banho, Gui...” — falei baixo, quase sem voz, mas ele só fechou os olhos, como se lutasse contra o peso da própria cabeça.— “Me ajuda...” pediu, sem nem perceber o que estava dizendo.
Ajudei. Sem pensar, sem racionalizar, apenas segui meu coração aquele mesmo que bateu por ele a vida inteira.
A cada botão da camisa que eu desfazia, minha mão tremia mais. A cada pedaço de pele que se revelava, meu corpo inteiro parecia entrar em combustão. E, no fundo, eu sabia... Que aquela noite mudaria tudo.
Ele me olhava, meio perdido, meio entregue. Quando meus olhos encontraram os dele, foi como se todos aqueles anos de amor silencioso, escondido em cartas anônimas e sonhos proibidos, explodissem dentro de mim.
— “Estela...” ele sussurrou meu nome, rouco, com a voz arrastada, segurando meu queixo entre os dedos, me obrigando a olhar pra ele. — “Por que você... é tão...?”
Ele estava entregue, vulnerável... Mas, mesmo bêbado, seus olhos me devoravam de um jeito que eu jamais imaginei.
Suas mãos pesadas deslizaram pelas minhas costas, segurando minha cintura com firmeza. Me puxou até seu colo, nossas bocas se encontraram, quentes, urgentes, como se o mundo inteiro precisasse parar só pra nós dois.
O primeiro arrepio percorreu meu corpo quando ele beijou meu pescoço, mordiscando de leve. Seu cheiro, sua pele quente, a textura das mãos calejadas de tanto trabalho... Tudo nele me deixava tonta, entregue.
Quando ele segurou a barra da minha blusa e puxou pra cima, senti minhas mãos trêmulas, mas não recuei. Nunca recuaria. Meu corpo tremia, não de medo, mas da expectativa, do desejo, da realização de um amor que carreguei a vida inteira.
Seus lábios traçaram caminhos pela minha pele, cada toque acendia algo em mim que eu nem sabia que existia. Quando me deitou na cama, seus olhos encontraram os meus, e por um segundo ele pareceu hesitar.
— “Se... se não quiser...” balbuciou, rouco, perdido, mas antes que ele completasse, eu levei minha mão até o rosto dele e sorri, mesmo com o coração disparando.
— “Sempre foi você...” sussurrei, deixando claro que eu queria. Que eu escolhia ele.
Ele fechou os olhos, pressionou a testa contra a minha e então, com cuidado, suas mãos buscaram o cós do meu short, deslizando lentamente, observando cada reação minha. Meu corpo inteiro tremia, minhas pernas pareciam fracas, mas eu queria... Queria mais do que tudo.
Seus dedos percorreram minha coxa, minha barriga, meu peito, deixando um rastro de fogo. Quando me despiu completamente, ele respirou fundo, deslizou a mão pelos meus cabelos e sussurrou:
— “Você é... linda... tão linda...”O toque dele não era perfeito, não era calculado, era urgente, era real. Quando
preencheu, meu corpo enrijeceu, uma mistura de dor e prazer me fez perder o fôlego. Uma lágrima escorreu pelo canto dos meus olhos, mas eu não queria que ele parasse. Eu segurei seu rosto e o puxei pra um beijo, abafando o som do incômodo que meu corpo sentiu.
Ele percebeu, tentou ser mais delicado, mas estava tomado, perdido, entregue... E eu também. A conexão dos nossos olhares, os gemidos contidos, a respiração descompassada... Tudo ali era verdadeiro, mesmo que ele não entendesse isso.
Quando chegamos ao ápice juntos, ele segurou minha mão forte, como se precisasse se ancorar em alguma coisa. Seu corpo caiu sobre o meu, pesado, quente, e pela primeira vez na vida eu senti que estava exatamente onde sempre sonhei estar: nos braços dele.
Adormecemos assim...
Guilherme
A dor de cabeça me fez abrir os olhos lentamente. A claridade do quarto me atingiu
como lâmina, e o gosto amargo de álcool me fez apertar os olhos, confuso. Levei a mão à testa, massageando, tentando lembrar...
O cheiro doce no ambiente me atingiu antes de qualquer lembrança. Meu corpo estava estranho, pesado, como se tivesse atravessado a noite lutando contra algo que eu sequer conseguia nomear.
Virei o rosto... e então vi.
Ela estava ali.
Estela.
Deitada ao meu lado. Seus cabelos ruivos bagunçados, os cílios longos repousando na pele clara, e uma expressão serena... como se estivesse em paz.
O choque subiu como fogo.
— “Não... Não, não...” minha voz saiu em sussurros, sufocada. Sentei de supetão, levando as mãos ao cabelo, apertando os fios, quase arrancando. “Não pode ser...”
Olhei em volta. As roupas... as marcas nos lençóis. E então, meu olhar travou em um detalhe que me fez perder o ar.
Uma mancha. Pequena, mas nítida.
Sangue.
Meus pulmões se recusaram a funcionar. Um frio absurdo percorreu meu corpo, e senti minhas pernas fraquejarem.
— “Meu Deus...” — levei a mão à boca, segurando um gemido sufocado. — “Não... Não, não, não...”
Meu peito parecia ser esmagado de dentro pra fora. Ela... era... a primeira vez dela. E foi comigo. Comigo, bêbado, fora de mim... com quem prometeu a si mesmo que sempre cuidaria dela, que sempre a protegeria.
E eu... eu fui quem... quem tirou isso dela.
Comecei a andar de um lado pro outro, as mãos no cabelo, depois na nuca, depois no rosto, tentando acordar, tentando acreditar que era um pesadelo.
Me virei rapidamente, puxei o lençol com cuidado, olhando de novo... o coração disparou mais forte. Eu precisava esconder isso. Ninguém... ninguém podia ver. Peguei o lençol, dobrei rapidamente, coloquei dentro do armário, escondido, apertando entre roupas, como se aquilo pudesse apagar o que fiz.
Olhei pra ela de novo. E quando percebi que ela começava a se mexer, que os cílios tremulavam, me vi tomado por um desespero que nunca havia sentido antes.
O peito doía. O nó na garganta quase me sufocava.
— “Droga, Estela... O que você fez comigo? O que eu fiz com você...” — sussurrei, apertando as mãos, perdido entre o desejo absurdo que ainda queimava em mim... e a culpa que estava me destruindo inteiroE ela... quando abrisse os olhos... eu teria que ser cruel. Cruel o suficiente pra afastá-la. Mesmo que isso me matasse por dentro.
Estela
Aos poucos, meus olhos começaram a abrir, sentindo a luz invadir o quarto de maneira suave. Meu corpo doía de uma forma estranha… diferente, como se eu tivesse vivido algo que jamais pensei ser possível.
E então, veio a lembrança. Cada toque. Cada palavra sussurrada. Cada vez que ele me puxava pra mais perto como se eu fosse o único pedaço de paz que ele tinha no mundo.
Sorri. Senti minhas bochechas queimarem, o coração acelerando de felicidade. Meu príncipe... finalmente ele tinha me visto.
Virei o rosto na cama, procurando por ele... e então vi.
Ele estava sentado na beirada, com os cotovelos apoiados nos joelhos, o rosto escondido nas mãos. O peito subia e descia como se estivesse sufocado, como se lutasse contra algo maior do que ele.
— “Gui...?” — chamei baixinho, com a voz rouca.
Ele se virou de repente, e o olhar que encontrei não era nem de perto o que eu imaginava. Não tinha carinho, nem ternura. Era... desespero.
— “Meu Deus, Estela... não... isso não...” — ele passou as mãos no rosto, se levantando. — “Isso... isso nunca deveria ter acontecido.”
Meu sorriso morreu no mesmo instante.
— “O quê?” minha voz saiu trêmula, mais fina do que eu queria. — “Como assim... nunca deveria...?”Ele andava de um lado pro outro, as mãos na cintura, olhando pro teto, depois pro chão, como se tentasse encontrar uma saída, uma desculpa, uma solução pra algo irreversível.
— “Você é... você é a irmã do Luca, Estela! Eu te vi crescer! Você é... você é aquela garotinha magricela que usava óculos enormes e me olhava como se eu fosse... sei lá... um super-herói!” sua voz falhava, quebrada, amarga. — “Eu... eu não podia ter feito isso! Eu jamais deveria ter... Deus, que merda eu fiz...”
O chão sumiu dos meus pés.
— “Você... você tá dizendo que... que se arrepende?” — minha voz quase não saiu.
Ele parou, fechou os olhos, respirou fundo, e respondeu cruelmente, cortando meu peito em pedaços:
— “Sim. Eu me arrependo. Me arrependo porque... isso... isso não podia ter acontecido. Não pode se repetir. Nunca mais.”Senti meu corpo inteiro congelar. A garganta fechou, e as lágrimas começaram a escorrer antes mesmo que eu pudesse segurar. A mão apertou o peito, como se pudesse segurar meu coração que despedaçava.
Ele me olhou, viu meu estado, e mesmo assim virou de costas, passando a mão na nuca, respirando fundo.
— “Se veste, Estela... por favor. Isso... isso foi um erro.”Meu corpo tremia. As mãos agarravam o lençol com força.
— “Um erro...” repeti pra mim mesma, sentindo a dor rasgar minha alma.Ele não olhou pra trás. Não tentou me consolar. Não disse mais nada. Apenas ficou ali, de costas, me ignorando... me rejeitando.
Levantei, vesti minhas roupas com as mãos trêmulas, as lágrimas caindo sem controle. Cada peça que colocava parecia mais um pedaço de mim sendo arrancado.
Quando terminei, olhei pra ele uma última vez. Mas ele não se virou. Nem uma vez.
Então, segurei o pouco de dignidade que me restava... e saí. Saí daquele quarto, daquela fazenda, e de tudo que um dia sonhei.
Naquele momento, fiz uma promessa a mim mesma:
Nunca mais. Nunca mais me rebaixarei por ninguém. Nem por ele. Nem por homem algum.GuilhermeA Estela me chamou para ir ao cinema, e eu aceitei na hora. Além de estar a fim de dar uma volta, achei uma boa ideia deixar o Luca e a Maria Júlia sozinhos por um tempo. Eles mereciam aproveitar, ter um momento só deles.Quando chegamos ao shopping, já fomos direto comprar tudo o que iríamos precisar: pipoca, refrigerante, chocolate, nachos... A bandeja ficou tão cheia que parecia que a gente ia alimentar um batalhão.Mas, quando estávamos quase entrando na sala, duas meninas passaram por mim e me chamaram. Estavam todas empolgadas, mexendo no cabelo, sorrindo daquele jeito malicioso.— Oi, gatinho. Boa noite, disseram juntas, praticamente em uníssono.— Oi, lindas. Boa noite, respondi com meu charme natural. Aquele que, modéstia à parte, mulher nenhuma costuma resistir.— Quer dar uma voltinha com a gente, gatinho?Dei uma risadinha.— Minhas lindas, hoje não posso. Estou de babá, disse apontando para a bandeja e o refrigerante da Estela. — Mas a gente pode marcar outro dia
EstelaQuando amanheceu, tomei um banho relaxante, escolhi uma roupa confortável e desci para tomar café. Assim que coloquei os pés na sala de jantar, meus olhos brilharam. A mesa estava simplesmente perfeita, arrumada nos mínimos detalhes… Cheia de flores, frutas, pães, sucos e tudo que ela mais gosta.Meu irmão estava determinado a surpreender a Maria Júlia e, com certeza, ela iria se emocionar. Aquele homem que jurava nunca mais amar estava, sem perceber, se apaixonando em cada detalhe que fazia por ela.Me aproximei e, enquanto observávamos a mesa, comentei: — Irmão… pensei em fazer uma coisa. Levar a Maria Júlia pra um dia de princesa, sabe? Por conta sua, é claro, sorri maliciosa.Ele arqueou uma sobrancelha, cruzou os braços e me olhou sério, mas comaquele sorriso escondido no canto dos lábios. — Se é pra fazer ela feliz… Tá liberado.E, naquele exato momento, ouvimos o som dos passos dela descendo as escadas. Quando seus olhos encontraram aquela mesa, ela levou as mãos à b
EstelaQuando o Guilherme faz aquelas coisas e começa a tratar a Maria Júlia daquela forma, eu me senti tão mal. Acho que, na verdade, eu ainda o amava.Quando estávamos à mesa de jantar e ele disse aquilo, eu tentei mudar de assunto. Percebi que a Maria Júlia estava desconfortável. Queria que ele parasse, que não desse em cima dela na minha frente. Mas... quem sou eu pra ele? Apenas a irmã mais nova do seu amigo. Nunca serei mais do que isso.A Maria Júlia se levantou, e eu ainda tentei conversar com ele, mas logo segui até a cozinha, onde pedi à Marta que preparasse um chá. Queria uma desculpa para me aproximar daquela menina. Eu vejo o olhar do meu irmão... o quanto ele está encantado por ela. E ela não fica atrás, os olhares são claros. Eles serão um casal tão lindo.— Aqui, minha filha. Leva pra Maria Júlia. Sei que ela tá precisando. Disse Marta, me entregando a bandeja com o chá.— Obrigada, Marta. Vou levar sim, sorri, pegando a bandeja.Caminhei até o quarto da Maria Júlia e
GuilhermeChegar na fazenda e sentir esse cheiro de terra molhada é bom demais. Isso me traz uma sensação de paz e aconchego. Faz muitos anos que não vejo meu amigo, e estou muito feliz por poder ajudá-lo de alguma forma.Quando paramos o carro, Estela desceu primeiro e eu fui logo atrás.Ele estava sentado na varanda, com a perna estirada, visivelmente entediado. E logo atrás dele... estava ela, Maria Júlia. Uma loira incrivelmente linda. Se eu não tivesse percebido o olhar que ele lançou pra ela, juro que eu iria investir.Assim que vi o Luca, não perdi tempo.— Ora, ora... O grande Luca, domador de cavalos e agora... paciente. sorri de lado. — Como é que você consegue se meter nessas, hein?Ele apertou minha mão e retrucou, daquele jeito seco dele:— E tem gente que só assiste.Soltei uma gargalhada alta.Entramos e fomos em direção à cozinha. E lá estava ela de novo... a loira linda que, pelo visto, o meu amigo estava ajudando.Me apressei, estendi a mão pra ela e, claro, joguei m
GuilhermeQuatro anos... É estranho pensar em como o tempo voa. Parece que foi ontem que deixei essa casa, os abraços apertados dos meus pais e aquele cheiro de café fresco que sempre me dava a sensação de lar. Mas, aqui estou eu, de volta… com 29 anos e trazendo comigo alguém muito especial.— Eles vão gostar de você, Grace. sorri, apertando levemente a mão dela enquanto manobrava o carro para estacionar em frente à casa dos meus pais.— Você acha mesmo? Ela ajeitou o cabelo, cruzando o olhar comigo. Sempre tão segura, mas naquele momento, parecia até um pouco nervosa.— Tenho certeza. garanti, sentindo aquele frio estranho no estômago.Desci do carro e, antes mesmo de bater na porta, ela se abriu. Minha mãe, como sempre, correu me abraçar, com aquele jeitinho exagerado que só mãe tem.— Meu menino! apertou meu rosto entre as mãos. — Você tá tão lindo, tão homem...E, então, seus olhos se voltaram pra mulher ao meu lado. — E essa moça linda?— Mãe, essa é a Grace. falei, sorrindo. —
GuilhermeQuando acordei naquela manhã, estava certo de que seria só mais um dia comum de visitas, risadas e reuniões de família. Desci as escadas, ainda meio sonolento, e percebi que havia algo preso no portão. Uma folha de papel dobrada, simples, mas que carregava um detalhe que não passou despercebido: um perfume suave, doce, que ficou no ar assim que toquei.Curioso, desdobrei o papel ali mesmo, de pé, sentindo um aperto estranho no peito antes mesmo de ler qualquer palavra."Querido Príncipe, você não sabe, mas hoje você foi meu herói. Obrigada por existir. Eu te admiro mais do que qualquer um nesse mundo..."Li. Reli. Três... quatro vezes.No começo, sorri achando que fosse alguma brincadeira dos meus irmãos mais novos, sempre prontos para me sacanear. Mas, conforme fui absorvendo cada palavra, percebi que aquilo não era uma piada. Era sincero. Puro.Senti o peito apertar de um jeito bom, estranho, diferente. Alguém, em algum canto dessa cidadezinha, me via com olhos que nem eu
Último capítulo