Rogério
Eu nunca pensei que quarenta dias pudessem durar uma eternidade.
No papel de pai e marido protetor, eu era pleno. Ver a Liz com os bebês, observar a rotina da nossa casa se estabilizando... tudo beirava a perfeição. Mas, no silêncio da noite, havia uma fome que eu sufocava. Uma saudade física, uma carência de pele com pele que eu guardava a sete chaves. Ela tinha atravessado um inferno; meu papel era ser o porto seguro, não o homem que cobra. Eu esperaria uma vida inteira se fosse preciso.
Até que, naquela tarde, o ar mudou. Liz me chamou ao quarto e, quando entrei, encontrei um brilho no olhar dela que eu não via desde antes do parto. Um brilho que não era de mãe, mas de mulher.
— Rô… hoje eu quero um momento com você. Só nós dois.
Meu coração deu um solavanco, batendo contra as costelas. Aproximei-me devagar, como se pudesse assustá-la, e emoldurei seu rosto com as mãos. A pele dela estava quente.
— Você não faz ideia do quanto eu senti falta de ouvir isso — confessei