Capítulo 9

Guilherme

Alguns dias depois 

Preparamos um churrasco só entre a gente, muita cachaça, carne e muita conversa 

eu bebi tanto que já tava enrolando a língua Estela estava ao meu lado, mesmo tendo bebido jm pouco ela estava mais lúcida que eu, Luca nem se fala estava horrível a Maria Júlia estava cuidando dele.

- Vem Gui eu te levo para o quarto 

- Você não vai aguentar bonequinha eu sou pesado me deixa aqui no sofá eu me viro.

- Não gui eu te levo vem.

Subimos as escadas tropeçando, ela abriu a porta eu sou muito pesado não sei como ela estava aguentando. estava meio tonto

Acordei com uma dor de cabeça que parecia uma escola de samba batucando dentro do meu crânio. Minha boca estava seca, e o quarto rodava levemente cada vez que eu abria os olhos. Senti o cheiro doce

de algum perfume que não era meu... nem familiar.

Tentei me mover, mas percebi que algo, ou melhor, alguém, estava deitado ao meu lado. Virei devagar, sentindo cada músculo protestar, e ali estava ela. Estela.

Sem roupas.

Engoli seco.

Na mesma hora, o estômago embrulhou, o coração disparou e a cabeça pareceu doer ainda mais. Eu estava sem camisa, também... e quando puxei o lençol, entendi que estava completamente nu.

— Não... não, não, não... sussurrei, levando as mãos à cabeça.

A memória era um borrão. Fragmentos embaralhados de risadas, escadas, o quarto... o perfume dela... a forma como me olhava.

Puta merda.

Não foi um sonho.

Foi real.

Senti um peso absurdo no peito. A culpa veio como um tapa na cara. Eu, bêbado daquele jeito, e ela… mesmo estando mais lúcida… como isso aconteceu? Por que eu deixei?

Eu fiz besteira. Com a Estela. A irmã do meu melhor amigo. A mulher que eu passei anos provocando sem intenção... e que agora estava ali, nua, dormindo ao m

eu lado, com a respiração tranquila, como se o mundo não tivesse virado de cabeça pra baixo.

Cobri meu rosto com as mãos.

Eu estraguei tudo.

Me levantei devagar, tentando não fazer barulho. Meu corpo doía, a cabeça latejava, mas nada se comparava ao nó que começou a se formar no meu estômago quando vi o lençol.

Uma mancha vermelha.

Meus olhos se arregalaram.

Não...

Não podia ser.

Engoli seco, as mãos trêmulas, e meu coração parecia querer rasgar meu peito. Peguei o lençol com pressa, como se escondê-lo pudesse apagar o que aquilo significava. Abri o guarda-roupa e empurrei o tecido lá dentro, escondendo como se estivesse enterrando uma prova de um crime. Porque, de certa forma, era isso.

Voltei os olhos pra ela. Estela. Linda, serena, dormindo como se nada tivesse acontecido. Mas tinha. Aconteceu. E eu fui o responsável.

Aquilo não podia ter acontecido.

Não com ela.

Não desse jeito.

Passei as mãos no rosto, desesperado. Quis voltar no tempo, desfazer tudo. Eu era o adulto, o médico, o amigo da família. Eu tinha a obrigação de saber o que estava fazendo. Mas eu falhei.

E justo com ela.

Estela começou a se mexer, as pálpebras tremendo antes de se abrir. Quando os olhos dela encontraram os meus, senti meu mundo desmoronar.

Ela sorriu, pequeno, meio sonolenta.

— Bom dia... murmurou, com a voz rouca.

Desviei o olhar, respirei fundo. E fiz o que me doeu mais do que qualquer ressaca já sentida.

— Isso… isso não devia ter acontecido, Estela. A gente passou dos limites. Eu… eu errei. Isso foi um erro.

O sorriso dela morreu no mesmo instante. O brilho no olhar apagou.

Ela puxou o lençol até o corpo, como se quisesse se esconder de mim.

— Um erro? a voz dela saiu baixa, machucada. — Você acha que… foi só isso?

— Eu estava bêbado. Confuso. Não devia ter deixado as coisas chegarem até aqui. Você merece mais do que isso... você merece alguém que...

— Que não se arrependa no dia seguinte? ela cortou, a voz firme, mas embargada.

Não consegui responder.

Porque era verdade.

E eu... eu era um covarde.

Ela não disse mais nada. Apenas se levantou da cama com um silêncio que doía mais do que qualquer grito.

Pegou as roupas do chão, uma a uma, com movimentos secos, precisos. Vestia-se com pressa, mas sem desespero. Era como se estivesse colocando uma armadura.

E eu? Eu só conseguia olhar. Sentado na beirada da cama, nu, envergonhado, destruído.

Estela terminou de se vestir sem me encarar.

Antes de sair, virou-se para mim. O olhar dela era gelado.

— Fica tranquilo, doutor. Isso nunca mais vai acontecer. A voz era firme, mas eu senti a dor por trás das palavras. — Pode voltar a fingir que eu sou só uma menina.

O clique da porta se fechando atrás dela ecoou no quarto como uma sentença.

Fiquei ali, imóvel. O lençol ainda jogado dentro do guarda-roupa como um segredo sujo. O cheiro dela ainda no ar. A lembrança do toque dela ainda grudada em mim como um crime.

Enterrei o rosto nas mãos.

— O que eu fiz... meu Deus, o que eu fiz...

Ela é a irmã do meu melhor amigo.

Ela é doce, alegre, cheia de vida.

E eu fui um covarde. Um adulto inconsequente.

Jurei ali, naquela manhã, que nunca mais encostaria nela. Nunca mais deixaria meu desejo falar mais alto que a razão.

Ela merecia alguém inteiro. E eu…

Eu só sabia destruir.

Fiquei sentado ali, imóvel, sentindo o silêncio preencher o quarto. O eco da porta se fechando ainda ressoava dentro da minha cabeça, como uma sentença que eu não conseguiria apagar.

Ela saiu. Deixou para trás não só o cheiro dela, mas também a certeza de que destruí algo que jamais deveria ter existido.

Eu não podia mexer um músculo. Nem queria. O peso da culpa me esmagava.

Ela é jovem demais para isso. Para mim, ela é como uma criança. E eu, um homem que devia proteger.

Eu falhei miseravelmente.

Será que ela sabe o quanto eu me odeio agora? O quanto eu queria voltar no tempo e desfazer tudo?

Será que ela imagina que, no fundo, eu nunca quis que isso acontecesse?

Eu jurei para mim mesmo, com cada fibra do meu ser, que nunca mais encostaria nela. Que nunca mais deixaria esse desejo bobo e irresponsável tomar conta.

Ela merece alguém inteiro. Alguém que não vá se arrepender na manhã seguinte.

E eu… eu só sei quebrar coisas.

Levantei, cambaleando, e fui até o guarda-roupa. Olhei para o lençol escondido ali dentro, sujo, manchado, como se fosse a prova do meu erro.

Minha mente rodava.

Como eu vou olhar o Luca nos olhos depois disso?

Como vou encarar o meu melhor amigo?

E, principalmente, como vou encarar a mim mesmo?

Passei as mãos pelo rosto, tentando enxugar as lágrimas que insistiam em escapar.

Eu não mereço isso. Ela não merece isso.

Mas o que eu fiz… ninguém vai esquecer.

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