Capítulo 6

Estela

Quando o Guilherme faz aquelas coisas e começa a tratar a Maria Júlia daquela forma, eu me senti tão mal. Acho que, na verdade, eu ainda o amava.

Quando estávamos à mesa de jantar e ele disse aquilo, eu tentei mudar de assunto. Percebi que a Maria Júlia estava desconfortável. Queria que ele parasse, que não desse em cima dela na minha frente. Mas... quem sou eu pra ele? Apenas a irmã mais nova do seu amigo. Nunca serei mais do que isso.

A Maria Júlia se levantou, e eu ainda tentei conversar com ele, mas logo segui até a cozinha, onde pedi à Marta que preparasse um chá. Queria uma desculpa para me aproximar daquela menina. Eu vejo o olhar do meu irmão... o quanto ele está encantado por ela. E ela não fica atrás, os olhares são claros. Eles serão um casal tão lindo.

— Aqui, minha filha. Leva pra Maria Júlia. Sei que ela tá precisando. Disse Marta, me entregando a bandeja com o chá.

— Obrigada, Marta. Vou levar sim, sorri, pegando a bandeja.

Caminhei até o quarto da Maria Júlia e bati suavemente na porta. Logo ouvi um:

— Pode entrar!

Abri a porta, já com um sorriso no rosto.

— Oi... tudo bem? Posso entrar?

— Oh... claro! Fique à vontade, respondeu, ajeitando-se, meio desconfortável.

— Vim te trazer isso, estendi a bandeja. — A Marta disse que seria bom você tomar algo quentinho.

— Obrigada... — ela sorriu, meio tímida.

Sentei na ponta da cama, respirando fundo.

— Sobre o Guilherme... comecei, olhando para minhas próprias mãos — Ele não costuma agir assim. Hoje ele... exagerou. Não quero justificar, porque não tem justificativa. Na verdade... abaixei a cabeça, sentindo o rosto queimar — eu tô morrendo de vergonha.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, até que confessei, num sussurro:

— Sabe... eu gosto do Guilherme há muito tempo. Ver ele hoje, daquele jeito, doeu... doeu muito. Foi um choque de realidade, sabe?

Ela segurou minha mão com delicadeza e disse, com um olhar sincero:

— Às vezes... precisa doer pra gente enxergar.

Sorri fraco. Conversamos mais um pouco, sobre coisas bobas, sobre a vida, até que me levantei, ajeitando a roupa.

Quando já estava na porta, parei, me virei e soltei, quase

quase sem pensar:

— Sabe... o meu irmão... o Luca... ele gosta de você. — falei, olhando nos olhos dela.

Ela me encarou, surpresa, quase sem acreditar.

— Ele pode até não ter percebido ainda... ou não querer admitir, mas... ele gosta de você. E você? Também sente... não sente? arqueei a sobrancelha, esperando sua reação.

Ela ficou em silêncio, os olhos arregalados, sem saber o que responder.

Aproveitei a deixa e sorri:

— Amanhã vamos sair! Vamos às compras, um passeio só de meninas. Se prepara!

— Compras? ela perguntou, franzindo a testa.

— Ué... por que não? Você merece se sentir bonita, se cuidar um pouco. E olha... não aceito "não" como resposta! ri. — Já até pedi pra Marta fazer pão de queijo pra quando a gente voltar.

— Mas... eu não tenho nada pra comprar.

— Então a gente compra “nadas”... mas com estilo! pisquei. — Confia em mim.

Saí do quarto sorrindo, me sentindo leve. Estava indo em direção ao meu quarto, quando vi o Guilherme saindo do escritório.

— Estela... chamou, com aquele tom que fazia meu coração falhar uma batida — quer ir lá fora tomar um ar comigo?

Meu coração disparou, mas tentei parecer natural.

— Vamos sim, Gui.

Saímos. A noite estava linda... como eu amo essas terras.

— Aqui é lindo, né, Estela? ele disse, olhando o céu estrelado. — Esse lugar me traz uma paz... esse cheiro, esse céu... nada se compara à loucura que vivo nos plantões.

— Mas você ama, não ama? perguntei, olhando de lado pra ele.

— Amo, sorriu. — Nasci pra isso.

Ficamos um tempo em silêncio, apenas ouvindo os grilos e sentindo o vento bater no rosto, até que ele quebrou o silêncio:

— Sabe... nunca te vi com nenhum namorado.

Ri, meio sem graça.

— Ah... só namorei uma vez, sério. A gente estudava junto. Ele foi meu primeiro beijo.

Ele me olhou nos olhos, com aquele sorriso que me desmontava.

— Que especial... falou, com um tom mais suave.

Engoli em seco. Queria tanto que ele soubesse que, na verdade, meu coração sempre foi dele. Queria ter coragem de falar "Eu te amo, Gui... sempre te amei." Mas nunca consigo.

Então, como se pudesse ouvir meus pensamentos, ele disse:

— Sabe... quando eu viajava, eu sentia muita falta de casa. Mas... sempre levava comigo umas cartas... que uma admiradora me mandava. Isso me fazia sentir importante. Saber que alguém, mesmo de longe, se importava comigo... me amava de alguma forma. Eu... eu sempre quis saber quem era. Quando comecei a namorar... ela se despediu e nunca mais escreveu.

Meu coração parou.

— Você... você gostava de receber essas cartas? — perguntei, quase num sussurro, com um sorriso bobo escapando dos meus lábios.

— Gostava... muito. Me fazia sentir especial, respondeu, olhando o céu. — Quem sabe... um dia essa moça não aparece pra conversar comigo... pessoalmente.

— Quem sabe... — respondi, olhando pro horizonte, lutando contra a vontade de contar tudo.

Ele sorriu e esfregou os braços, sentindo o vento frio.

— Vamos entrar. Já tá ficando frio.

— Vamos... concordei.

Fui direto pro meu quarto. Fechei a porta, encostei as costas nela, respirei fundo e sorri sozinha.

"Que noite reveladora essa..."

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