Estela
Quando amanheceu, tomei um banho relaxante, escolhi uma roupa confortável e desci para tomar café. Assim que coloquei os pés na sala de jantar, meus olhos brilharam. A mesa estava simplesmente perfeita, arrumada nos mínimos detalhes… Cheia de flores, frutas, pães, sucos e tudo que ela mais gosta.
Meu irmão estava determinado a surpreender a Maria Júlia e, com certeza, ela iria se emocionar. Aquele homem que jurava nunca mais amar estava, sem perceber, se apaixonando em cada detalhe que fazia por ela.
Me aproximei e, enquanto observávamos a mesa, comentei:
— Irmão… pensei em fazer uma coisa. Levar a Maria Júlia pra um dia de princesa, sabe? Por conta sua, é claro, sorri maliciosa.Ele arqueou uma sobrancelha, cruzou os braços e me olhou sério, mas com
aquele sorriso escondido no canto dos lábios.
— Se é pra fazer ela feliz… Tá liberado.E, naquele exato momento, ouvimos o som dos passos dela descendo as escadas. Quando seus olhos encontraram aquela mesa, ela levou as mãos à boca, claramente emocionada.
— Meu Deus… que coisa mais linda… sussurrou, com os olhos marejados.
Vi o brilho nos olhos do Luca. Ele estava perdido. Perdido nela, nos sorrisos dela, no jeito que ela se encantava com os gestos simples.
Guilherme, que também estava sentado à mesa, pigarreou, se levantou e, diante de todos, olhou diretamente para ela.
— Maria Júlia… eu queria, mais uma vez, te pedir desculpas… Pela forma grosseira como te tratei aquele dia. Foi errado, foi injusto. E te garanto que não vai mais se repetir.Ela sorriu, um sorriso tímido, mas sincero.
— Eu aceito suas desculpas, Guilherme. De verdade.Aquilo me fez lembrar exatamente do cara que eu me apaixonei anos atrás… esse homem educado, carinhoso e atencioso.
Bati palmas, quebrando o clima mais tenso:
— Hoje é dia de passeio! Mas só das meninas, hein! Vamos às compras, salão, tudo que a gente tem direito! falei, empolgada.Luca riu e balançou a cabeça.
— Pode levar, loirinha. Hoje ela é sua. Aproveita… porque quem vai bancar tudo sou eu, pegou o cartão no bolso e estendeu pra ela. — Toma. Compra tudo que você quiser e que estiver precisando. Roupas, sapatos, livros… não tem limite, tá?Ela arregalou os olhos, totalmente sem jeito.
— Não, gente… não precisa disso… não quero dar trabalho…— Precisa sim! — interrompi, pegando o cartão e colocando na mão dela. — Bora! Sem desculpas!
Saímos animadas. Entramos no carro e fomos direto para o centro da cidade. Passamos em várias lojas. Escolhemos roupas, sapatos, bolsas… e, claro, lingeries. Ela ficou vermelha igual um tomate quando peguei umas peças bem ousadas.
— Estela! ela sussurrou, toda desconcertada. — Isso… eu não… não sei nem se…
— Ah, vai sim, querida. Vai usar tudinho. E quer saber? Meu irmão vai agradecer! pisquei.
Ela riu, envergonhada, escondendo o rosto com as mãos.
Depois, seguimos para o salão. Ela fez as unhas, o cabelo, sobrancelha, hidratação, massagem… Tudo! Quando se olhou no espelho, lágrimas escorriam dos olhos.
— Meu Deus… ela tocou o próprio rosto, surpresa. — Eu… eu nem lembro a última vez que me vi assim…
— Você é maravilhosa, Maria Júlia. E merece se olhar e se reconhecer como
a mulher incrível que é. falei segurando suas mãos.
Almoçamos no centro e, depois de mais algumas comprinhas, voltamos para a fazenda. No caminho, mandei mensagem para o Guilherme.
"Hoje é noite dos dois sozinhos, tá? Você topa dar uma volta comigo?"
Ele respondeu na hora:
"Óbvio que topo. Bora."Combinei também com a Marta, que logo se prontificou:
— Pode deixar, Estela. Vou dizer que não tô muito bem e vou adiantar tudo no jantar. Eles vão ter a noite só pra eles.Assim que chegamos no casarão, Luca estava na porta, esperando. Quando viu a Maria Júlia… ele simplesmente ficou paralisado. Seus olhos percorreram ela de cima a baixo, e sua boca se
abriu sem ele nem perceber.
— Você… ele balançou a cabeça, visivelmente encantado. — Você tá… maravilhosa.
Ela ficou vermelha, abaixando a cabeça.
— Obrigada…— Tá mesmo, irmãozinho. Usa um babador aí, porque tá feio, viu. provoquei, rindo.
Deixamos os dois ali, praticamente hipnotizados um pelo outro, e subimos. Eles nem perceberam nossa saída. Guilherme me esperava no carro e avisou ao Luca que íamos sair, pra ele não se preocupar.
Fomos para a cidade. Chegando lá, escolhemos um filme de ação, eu, sinceramente, só queria estar com ele, o filme era o de menos. Antes de entrar, compramos tudo o que tinha na lanchonete: sanduíches, pipoca, milk shake, salgadinhos… E, enquanto ríamos das nossas escolhas, duas moças se aproximaram.
Ambas, bem arrumadas, se jogaram praticamente no peito dele, passando a mão descaradamente no peitoral dele.
— Boa noite, gatinho… disseram, praticamente em coro.
Ele sorriu, com aquele olhar brilhando.
— Boa noite…Meu coração apertou. Me senti invisível. Baixei a cabeça e entrei na sala, procurando meu assento. Ele ficou lá… conversando com elas.
"Ele nunca vai me olhar assim… pensei, segurando o choro. "Pra ele, sou só… a irmãzinha do melhor amigo."
Logo depois, ele se aproximou, meio ofegante.
— Ué, por que não me esperou? — perguntou, franzindo a testa.— Você tava ocupado… não quis atrapalhar, respondi, tentando não demonstrar o quanto aquilo me machucou.
Ele franziu ainda mais a testa, cruzando os braços.
— Ocupado? Elas só vieram puxar conversa, nada demais. Achei que você fosse me esperar…— Não precisa se preocupar, Guilherme. Eu posso voltar pra casa sozinha… ou alugo um quarto aqui na cidade. Se quiser, pode ficar com elas.
Ele arregalou os olhos, se aproximando.
— Ei, para com isso. Claro que não! Eu tô com você.— Não parece… murmurei, olhando pro lado.
Sentei na poltrona, cruzei os braços e me enchi de pipoca, mais pra disfarçar do que pra comer de verdade. Nem consegui prestar atenção no filme. Só queria sumir dali…
Enquanto o filme passava, eu tentava focar, mas minha mente estava longe, e acho que nem era só minha. Percebi que ele me olhava de canto, talvez notando meu silêncio, minha falta de entusiasmo. E, por um breve instante, ele se aproximou, levantou a mão e, com toda delicadeza, afastou uma mecha do meu cabelo que insistia em cair no meu rosto.
Meu coração acelerou no mesmo segundo, e eu nem sabia se era pela forma suave como seus dedos roçaram minha pele ou pelo olhar que ele lançou logo em seguida, meio perdido, meio surpreso, como se tivesse feito aquilo sem pensar.
Ele desviou o olhar imediatamente, ajeitando-se desconfortável na poltrona, passando a mão na nuca, tenso.
— Desculpa... — murmurou quase inaudível. — É... foi automático... completou, respirando fundo, tentando se recompor.
Fingi que não tinha doído ouvir aquele tom contido, como se ele se
lembrasse de repente que eu era só... eu. Dei um sorrisinho sem graça, abaixei o olhar e me encolhi mais no meu canto da poltrona, lutando contra aquela pontada chata que insistia em apertar meu peito.
Ele não disse mais nada, nem eu. E por mais que estivéssemos lado a lado, naquela hora, parecia que um muro invisível tinha se levantado entre nós dois.