Leonardo não queria ser tutor de ninguém — muito menos de uma garota jovem, linda e cheia de vida como Isadora. Aos 45 anos, maduro, reservado e traumatizado por um passado que insiste em voltar à tona, ele acreditava ter total controle sobre suas emoções... até que ela entrou em sua casa, em sua rotina, e lentamente, em sua pele. Isadora tem 19 anos e não acredita em limites quando o assunto é desejo. Desde o momento em que cruzou o olhar com o homem responsável por sua guarda, soube que ele seria o único capaz de despertá-la por completo. E está disposta a tudo para conquistá-lo — mesmo que ele lute contra o que sente com todas as forças. Mas o que começou com tensão e desejo proibido logo se transforma em algo mais profundo e perigoso. Quando o passado de Leonardo retorna na forma de uma ex-amante desequilibrada e psicótica, o jogo muda. Agora, o que os une é mais do que paixão: é sobrevivência. Ciúme, obsessão, tensão erótica, e uma ameaça invisível rondam esse romance ardente e sombrio, onde o amor pode ser a salvação… ou a ruína.
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A manhã começou como qualquer outra: café forte, silêncio absoluto e os jornais sobre a mesa, organizados por ordem de importância. Eu odiava imprevistos. Era assim que me mantinha no controle — e o controle era tudo o que me restava. — Senhor Ferraz… — a voz de Marcos, meu secretário, soou pela porta entreaberta. — Temos um problema. Levantei os olhos, impaciente. Detestava quando começavam uma frase assim. Problemas só existiam para quem não sabia prever as consequências. — Entre. E seja breve. Ele entrou visivelmente tenso. Suava. Isso não era comum. Larguei o jornal, ajeitei os punhos da camisa e encarei-o diretamente. Só então percebi que algo estava realmente errado. — É sobre João Alves… seu motorista. — O que tem ele? — Sofreu um acidente, senhor. Grave. Ele e a esposa não resistiram. O hospital ligou agora. Um silêncio espesso caiu sobre a sala. João. Meu motorista há mais de vinte anos. Leal, discreto. Nunca me pediu nada… exceto uma única vez. Lembrei do envelope que ele me entregou há uns meses. — Há uma carta dele, senhor… — Marcos tirou o envelope do paletó. — Ele deixou isso. Com ordens específicas. Peguei o papel com os dedos firmes, mas o estômago revirava. “Se um dia algo me acontecer, peço que cuide da minha filha, Isadora. Não tenho mais ninguém. Confio apenas no senhor para dar a ela uma chance de seguir em frente. Ela não tem mais mãe. E o senhor é o único homem que eu vi agir com honra na vida.” O papel tremia nas minhas mãos. Isadora. Uma menina que eu só vira poucas vezes, de longe. Filha única. Estudava fora. Tinha o olhar inquieto da mãe e a inteligência fria do pai. — Quantos anos ela tem? — perguntei. — Dezenove. Respirei fundo. Era maior de idade. Poderia cuidar da própria vida. Mas o maldito documento estava registrado em cartório. João foi esperto. Me amarrou legalmente. — Quando ela chega? — Hoje à noite. Me levantei. O mundo que eu construí, perfeito, solitário, silencioso, estava prestes a ser invadido por uma garota de dezenove anos… uma estranha. Mas havia algo naquele pedido que me prendeu. Talvez fosse a palavra “honra”. Talvez… fosse o fato de que nunca alguém confiou tanto em mim. Nem minha mãe. A casa parecia diferente naquela noite. Fria de um jeito incômodo. Esperei na entrada, de braços cruzados, observando o carro preto parar diante da escadaria. Marcos saiu e abriu a porta de trás. Ela desceu. E pela primeira vez em anos, senti um desconforto genuíno. Isadora não era mais uma menina. Era uma mulher. Magra, de postura firme, olhos baixos e ombros tensos. Trazia uma mochila surrada nas costas e um olhar vazio. Os cabelos estavam presos num coque frouxo. Usava uma camiseta larga e calça jeans escura. Nenhuma maquiagem. Nenhum sorriso. — Sr. Ferraz… — ela disse, com a voz baixa. — Obrigada por me receber. — Não me agradeça. Eu não tive muita escolha — respondi, sem pensar. Ela pareceu engolir seco, mas não retrucou. Direta. Fria. De certo modo… parecida comigo. — Espero que esteja ciente de que essa situação é temporária. Você está aqui até organizar sua vida. — Entendo. — Suas coisas já estão no quarto de hóspedes do segundo andar. Jantamos às oito. Seja pontual. Ela assentiu. Não demonstrava emoção alguma. Subiu as escadas em silêncio, como um fantasma. E foi ali, parado diante da porta, que senti pela primeira vez que algo havia mudado em mim. Não era piedade. Nem empatia. Era algo que eu ainda não conseguia nomear. Mas era incômodo. E perigoso. O jantar foi silencioso. Ela comia pouco. Olhava o prato como se ele fosse um campo minado. Eu observava. Sem saber por quê. — Pretende voltar para a faculdade? — Ainda não sei. — Tem alguma fonte de renda? — Não. Meu pai… era tudo. — Você pode trabalhar, se quiser. Ela ergueu os olhos pela primeira vez. Eram castanhos escuros. Intensos. Duros como os meus. — O senhor vai me empregar? Sorri de lado. — Eu não misturo negócios com… obrigações pessoais. Ela não respondeu. Terminou o prato e pediu licença. Ficou em silêncio o resto da noite. E eu… passei mais tempo do que gostaria pensando nela. Pensando naquela postura. Na maneira como segurava a dor. Como não pedia nada. Como não se vitimizava. Ela não era como as outras garotas. E isso me deixou desconfortável. Na madrugada, desci para pegar um copo de vinho. O sono não vinha. Passei pela sala e ouvi um som abafado. Choro. Me aproximei da escada e subi em silêncio. A porta do quarto dela estava entreaberta. Ela estava encolhida na cama. Rosto escondido no travesseiro. Soluçava de forma contida, como quem tem vergonha da própria dor. Fiquei ali. Observando. E algo em mim… trincou. Não era meu papel cuidar de ninguém. Não era meu papel me importar. Eu não queria aquilo. Não queria sentir nada. Mas me importei. Fechei a porta devagar, desci, e fui para o meu escritório. Abri a garrafa mais cara da adega. E bebi. Como se o álcool pudesse apagar o que eu estava começando a sentir. Mas era tarde demais. Porque naquela noite, mesmo contra minha vontade… eu sonhei com ela.Leonardo Na empresa, fui um tirano. Descarreguei minha fúria em contratos com erro mínimo, reuniões sem foco, funcionários atrasados um minuto. Meu olhar era cortante. Minha voz, mais firme do que nunca. Ninguém ousou me questionar. Sabiam que eu estava com o diabo no corpo. O problema é que o diabo tem nome. Isadora. A cada intervalo, a cada suspiro entre os relatórios, ela voltava. Como um veneno lento que corre pelas veias sem aviso. Durante uma apresentação, um pensamento atravessou minha mente com violência: "Se eu tivesse uma filha, jamais permitiria que ela se envolvesse com um homem como eu." A frase ecoou. Repetidamente. Como uma sentença. Porque eu sou esse homem. O homem que João confiou. O homem que assinou um papel dizendo que protegeria a filha dele. O homem que agora… deseja a menina que prometeu cuidar. João deve estar se revirando no túmulo. Se soubesse como olho pra ela... Se soubesse que às vezes acordo suando, com o nome dela queimando minha língu
LeonardoSe eu soubesse que as coisas chegariam a esse ponto, jamais teria aceitado ser tutor da Isadora.Jamais.O carro cruzava as ruas da cidade, e tudo que eu queria era fugir dos meus próprios pensamentos. Mas era inútil. A imagem dela me perseguia como uma maldição. Isadora. O nome ecoava dentro de mim, como uma batida constante que eu não conseguia calar.Nenhuma mulher — e eu tentei outras, Deus sabe que tentei — conseguiu tirar aquele rosto da minha mente. Nem Melina, nem nenhuma das outras. Todas pareciam cópias desbotadas de algo que só ela tinha. A presença. A provocação. O perigo.Jovem demais.Linda demais.Perigosa demais.E eu… fraco demais.Estacionei em frente à casa com mais raiva do que deveria. Fechei a porta do carro com força e subi as escadas num impulso cego. A cada passo, algo dentro de mim gritava para ir embora, voltar atrás, dormir no hotel, sumir.Mas era tarde demais.Assim que entrei, o cheiro dela me atingiu como um soco. Aquela mistura doce e suave qu
Leonardo Ela não se ofendeu. Nunca se ofendia. Já sabia como eu funcionava.Voltei para o carro com um gosto amargo na boca e a sensação de que nada, absolutamente nada, havia mudado.Meu corpo podia estar saciado, mas minha mente continuava em tormento. O cheiro de Melina ainda impregnava minha pele, mas o nome que ecoava dentro de mim era outro.Isadora.O som da risada dela ainda pulsava nos meus ouvidos. A imagem da água escorrendo entre seus seios, o biquíni colado à pele, os cabelos presos de qualquer jeito... tudo nela me dominava.E foi naquela noite, dentro daquele carro abafado, que finalmente encarei a verdade que vinha tentando negar há semanas.Eu quero minha tutelada.Não de um jeito fraternal. Não como um protetor ou responsável.Eu a quero de verdade. Com todas as minhas forças.Quero prendê-la contra a parede, ouvir sua respiração ofegante, mergulhar naquele corpo que me provoca dia após dia.E o pior?Se ela fosse virgem, talvez eu tivesse forças para fugir. Talvez
Isadora Tem dias que eu sinto como se estivesse vivendo com um fantasma.Leonardo passou de um homem frio e distante para um verdadeiro muro de concreto. Ele não olha, não fala, não respira perto de mim. E cada passo que dou parece empurrá-lo ainda mais para longe.E isso me enlouquece.Porque eu sei.Eu sei que ele sente.Mesmo que não diga. Mesmo que esconda.Eu vi o jeito como ele travou o maxilar quando me viu com o biquíni branco. Vi o modo como desviou o olhar rápido demais, como quem foge da própria fraqueza. Eu conheço aquele tipo de homem. Orgulhoso. Disciplinado. Acostumado a ter controle sobre tudo.Só que o corpo não mente.E o dele grita.Desde então, ele me evita como se eu fosse o pecado em carne viva.Não me dirige a palavra. Não se senta à mesa quando estou. Não cruza o mesmo ambiente que eu, se puder evitar. E isso deveria me ferir… mas só me instiga mais.Quero derrubar esse homem.E se, para isso, eu tiver que provocar, provocar e provocar… então que seja.Foi Lív
Isadora Estava cansada daquela sensação de ser pequena demais para ele. Como uma adolescente encantada pelo professor. Uma órfã se apaixonando pelo homem encarregado de cuidar de sua vida.Talvez meu pai tenha confiado demais.Talvez ele tenha achado que eu ainda era uma garotinha.Mas eu não era.E agora, ele deixou minha guarda nas mãos de um homem que nem imagina o que está fazendo comigo.Um homem que eu desejo no pior — ou melhor — dos sentidos.Mais tarde, preparei um chá e fui para a sala de música. Sentei ao piano e deixei os dedos correrem pelas teclas. Era minha fuga. A única maneira de silenciar o desejo que me tomava cada vez que Leonardo passava perto de mim, com as mangas da camisa dobradas, revelando os antebraços fortes.Me perdi nas notas até ouvir a porta ranger.Não parei de tocar.Mas soube.Era ele.O perfume amadeirado, discreto, o precedeu. Meu coração acelerou.— Você toca bem — ele comentou, com a voz baixa.— Aprendi sozinha. Ou quase. Minha mãe tocava. Foi
IsadoraDesde o instante em que meus olhos encontraram os dele naquela sala fria e luxuosa, algo em mim quebrou.Deveria estar de luto. E estava. Mas não era só pela perda. Era também pela presença avassaladora de um homem que não fazia sentido ali, naquele contexto de dor — e mesmo assim, dominava tudo com o simples ato de respirar.Leonardo Ferraz.Meu tutor.O homem que, por obrigação judicial, deveria cuidar de mim.Mas que, por ironia cruel, despertava tudo que eu mais tentava enterrar.Ele era um monumento de arrogância e controle. Alto, com ombros largos e uma elegância que parecia natural. Caminhava como quem sabe que o mundo se curva diante dele. E seus olhos… aqueles olhos negros, frios como o inverno e profundos como abismos. Bastava me olhar por dois segundos e eu sentia o ar falhar nos pulmões.A voz dele então…Grave.Autoritária.O tipo de voz que não aceita réplica.E eu… me odiava por sentir um arrepio só de ouvi-lo pronunciar meu nome.Tentei resistir. Juro que tente
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