Mundo ficciónIniciar sesiónMargarida, uma mulher forte e determinada, vê sua vida virar de cabeça para baixo após descobrir a traição de seu marido. Decidida a virar o jogo, ela firmou um contrato de casamento com o maior rival de seu ex-marido, um empresário ambicioso e implacável. Juntos, os dois embarcam em uma jornada de vingança meticulosa contra o homem que os feriu. No entanto, à medida que trabalham lado a lado para destruir o seu inimigo comum, sentimentos inesperados começam a surgir. Margarida e Ronaldo descobrem que, além da busca pela justiça, estão se apaixonando um pelo outro. Enquanto o plano de vingança se desenrola, eles precisam confrontar suas próprias emoções conflitantes e decidir se o amor pode florescer em meio ao desejo de revanche.
Leer másMargarida
– Isso aconteceu por sua culpa. Você é a culpada por termos perdido nosso filho. – João, meu marido, esbraveja mais uma vez, cuspindo as palavras como pedras. Elas me acertam em cheio, mas já não sangro por fora. Por dentro, sou toda ferida. E o pior de tudo? Eu concordo com ele. Sim, ele está certo. Eu só sei trabalhar. Vivo com os olhos grudados em telas, com as mãos ocupadas demais para segurar uma xícara de chá, quem dirá uma vida crescendo dentro de mim. Eu não soube cuidar dele. Do nosso bebê. Eu o perdi. O telefone vibra mais uma vez na minha mão. O som cortante me arranca de dentro dos meus pensamentos como uma lâmina fria. Eu sei exatamente o que é: minha viagem está marcada para hoje à noite. Apresentação de produto. Mais uma negociação. Mais uma sala cheia de rostos que esperam de mim milagres em forma de números. Só eu posso convencê-los. Ninguém além de mim. Mas... desde que meu bebê morreu dentro de mim, eu me pergunto: Vale a pena? Vale mesmo a pena vender o mundo se eu já perdi o que mais importava? – Eu posso ficar. – murmuro, e minha voz mal sai dos lábios trêmulos. Sinto o rosto quente, encharcado de lágrimas que já não sei se são novas ou antigas. – Eu não vou... Vou designar outra pessoa e... – Não. – ele me corta, a voz dura, os olhos frios. – Eu quero que você vá. Não é isso que você sabe fazer? Trabalhar? Então vai. Vai lá salvar o mundo. Eu preciso ficar sozinho. Não vou conseguir com você aqui. E então ele vai embora. Não me olha. Não hesita. Apenas fecha a porta com força, como quem tenta conter o grito que não teve coragem de soltar. O som da porta ecoa como um tiro. E o silêncio depois dele é ensurdecedor. Fico ali, parada, imóvel, ouvindo o barulho do próprio coração. Não sei se ele b**e ou se apenas sobrevive. Estou vazia. Totalmente vazia. Como o útero que falhou. Como a casa que já não é mais lar. Olho para o canto do quarto. A mala está lá, paciente, pronta. Sempre pronta. Assim como eu estive todos esses anos: sempre pronta para partir, para vender, para resolver, para salvar todos — menos a mim mesma. Pego o celular. Vejo a hora. Pela janela, vejo João sair com o telefone colado ao ouvido, passos apressados, sem olhar para trás. Ele entra no carro e desaparece na estrada, como se o que deixasse aqui não tivesse mais importância. E a mim, só resta fazer o que ele mandou. Obedecer. Sair. Desaparecer. ** Estou sentada no saguão do aeroporto. Penso em tudo. No bebê que nunca vi. No pequeno coração que deixou de bater dentro de mim. Na dor de ter esperado por anos algo que nunca chegou inteiro. Nos sete anos de casamento que hoje completam mais um ciclo — e eu esqueci. Eu esqueci. Na briga, na dor, no caos, eu esqueci nosso aniversário de casamento. E agora, essa ficha me atinge como um soco no estômago. Mas talvez ainda haja tempo. Talvez ainda dê pra voltar atrás. Talvez João não precise de tempo, como diz — talvez ele precise de mim. De nós. Levanto com o coração martelando no peito. Cada batida um passo para trás na decisão. Cada batida me diz: "vá para casa." Não para obedecer. Não por culpa. Mas por amor. Pela lembrança do que fomos. Pela esperança do que ainda podemos ser. Puxo a mala com força. O zíper treme como se soubesse que algo está prestes a acontecer. Corro para fora do aeroporto. Um táxi se aproxima e eu entro sem pensar. Hoje, não vou salvar contratos. Hoje, vou tentar salvar o que resta do meu casamento. Hoje, vou tentar me salvar. Quando o táxi para em frente ao portão, salto antes mesmo de o motorista terminar de frear. Um sorriso — pequeno, tímido, quase esquecido — se forma no meu rosto. Há quanto tempo eu não sorria assim? Um sorriso com esperança, com vontade de consertar as coisas. O porteiro se apressa em abrir o portão quando me vê, e corro como se minha felicidade estivesse logo ali, no topo das escadas. Vejo o carro de João na garagem. Meu coração se acelera. Ele voltou. Ainda está aqui. Ainda há tempo. Solto a mala na sala e subo as escadas como uma adolescente apaixonada, as lágrimas ainda secando no meu rosto. Tudo vai dar certo, eu penso. Tudo ainda pode ser salvo. Mas meus passos diminuem quando ouço vozes. Duas. Uma feminina. Suave. Manhosa. Minha espinha gela. – Tem certeza que teremos a casa só pra nós, meu amor? – a voz dela sussurra, envolta em prazer. – Sim. Fiz questão de manter aquela imbecil longe daqui. Seremos só nós dois. – responde João, sem hesitação. Paro. O chão parece ceder sob meus pés. O quê...? Aproximo-me devagar, o corpo tremendo. A porta está entreaberta, e por uma fresta, vejo. João. Na nossa cama. E sobre ele... Gabriella. A secretária. Usando uma camisa dele. As pernas nuas envoltas nos lençóis onde sonhei com meu filho tantas noites. – Estou tão feliz que aquela idiota vai nos dar alguns dias de paz. – ela diz, rindo. – Você não se cansa dessa choradeira por causa do bebê? – Uma hora ela cala a boca. – ele murmura. Suas mãos percorrem o corpo dela com desejo. Desejo que nunca mais teve por mim. Sinto o mundo escurecer. Meu estômago revira. Minhas pernas enfraquecem. Mas não acaba aí. – Ainda bem que o remédio deu certo... Imagina se ela leva a gestação até o fim? – ela faz bico. – Eu ficaria com tanto ciúme... Remédio...? Meus olhos se arregalam. O coração para por um segundo. – Daria certo de qualquer forma. Ou eu encontraria outro jeito de fazer ela abortar. – João ri. – Agora, cala a boca e vem cá. Não vamos perder tempo falando daquela inútil. Ele a puxa para um beijo. E nesse momento, minha mão instintivamente vai ao ventre. O mesmo ventre onde meu filho crescia. O mesmo ventre que João destruiu. A dor que explode em mim é algo que palavras jamais explicarão. É luto. É raiva. É a certeza de que eu fui traída de todas as formas possíveis. A porta range. Eles me veem. João pula da cama, surpreso. Gabriella apenas sorri. Satisfeita. Cruel. Intacta. – Meu filho... foi você. – minha voz ecoa como um trovão. – VOCÊ MATOU MEU FILHO! – Cala a boca, Margarida! O que está fazendo aqui? – ele grita, como se eu fosse a intrusa, a louca. – Eu... eu vim pra tentar... conversar... eu... queria salvar... a gente... – as palavras me abandonam, embaralhadas pela dor. Pela decepção. – Tão bobinha. Era melhor ter ido trabalhar. – Gabriella ri, debochada. Meus pés avançam, o ódio pulsando sob a pele. Vou até ela. Vou acabar com aquele sorriso. Mas João se coloca entre nós, com os olhos endurecidos como pedra. – Você é o culpado! – berro, dedo em riste. – Você destruiu minha vida. Tirou meu filho de mim! – E daí? – ele responde, gélido. – Eu nunca quis essa criança. Nunca quis um filho com você. Agora SAIA. E só volte quando eu deixar. Ele me vira as costas. Volta para a cama. Deita ao lado dela. Como se eu fosse um inseto no chão. Como se eu não tivesse acabado de enterrá-lo com minhas próprias palavras. – Voltar? Eu vou me divorciar de você, João! – grito, quase rasgando a garganta. – Vocês vão se arrepender! Gabriella gargalha. João me olha como se eu fosse um animal ferido. – E vai viver onde, Margarida? Tudo isso aqui é MEU. Você não tem nada. Nunca teve. Fico parada, olhando os dois. Meu coração se quebra ali. Não só pela traição. Não só pela humilhação. Mas pela certeza de que meu filho morreu pelas mãos desse homem. Ele me negou a chance de amar. Ele me negou o direito de ser mãe. A dor de cabeça vem como uma tempestade. Zunidos. Vertigem. A visão embaralha. As risadas deles se misturam ao som da chuva lá fora. Não sei o que é real. Só sei que não aguento mais. Desço as escadas sem lembrar dos passos. O corpo grita. A fraqueza me alcança como um soco. A recuperação do aborto ainda recente cobra seu preço. Saio da casa. Caminho sem destino. Só quero ir pra longe. Onde não exista mais dor. Nem vozes. Nem lembranças. A pista está deserta. Os portões ficaram pra trás. Viro à esquerda. A chuva me molha. Só percebo quando os lábios começam a tremer. Mais alguns passos. Um farol. Luz intensa. Meus pés não obedecem. Meu corpo diz basta. E então desabo. Caio com tudo no asfalto frio. De alma vazia. De coração partido. E de um sonho... morto.— Se qualquer coisa acontecer… — Eu já sei, você entra lá e acaba com a palhaçada. — terminei a frase sorrindo. — Eu sei, amor, está tudo bem. Ronaldo observava tudo ao redor, deixando explícito o quanto odiava absolutamente cada detalhe daquela situação. Ele estava preocupado comigo e ainda mais irritado com João por, segundo meu marido, ter ficado feliz com a minha visita. Agora atravessávamos os corredores, cada passo nos levando mais perto da sala de conversas. Eu me sentia surpreendentemente calma, mesmo sendo um momento estressante para todos nós. — Margarida, vamos. Ele está aguardando. — o advogado informou. Ele apontou para a porta. Eu e Ronaldo entramos; antes de seguir, meu marido beijou minha testa e me abraçou forte. Depois, recuou apenas o suficiente para me observar caminhar até que eu parasse diante do vidro. João estava do outro lado, vestindo o uniforme da penitenciária. Parecia ter envelhecido dez anos nesse período. Puxei a cadeira e me sentei. Ainda não tinh
Margarida passou o dia inteiro no jardim com Emma e Jake. Ela sorria, corria com eles, deixava que a energia das crianças a conduzisse por alguns momentos de leveza… mas eu a conheço bem demais para ser enganado. Por trás daquele sorriso caloroso, havia uma sombra silenciosa, uma preocupação que insistia em ocupar cada fresta da sua mente. Emma já estava toda suja de grama, os cabelos desalinhados de tanto rolar pelo chão, completamente entregue à infância. Quando deu cinco da tarde, ela entrou com as crianças, e eu fui ajudar no banho, tentando ignorar o aperto no peito que aumentava sempre que minha esposa fingia que estava tudo bem. Mais um mês se passou, e eu sei que os mesmos pensamentos continuam consumindo Margarida. Ela quer respostas. Como discordar? Não posso. Se eu estivesse no lugar dela, faria o mesmo. A verdade é que eu jamais saberei o que significa perder os pais no mesmo dia, nunca senti nem metade da dor que ela carrega desde tão jovem. Mas ela sabe. E justamente po
Margarida — Pronta? — Ronaldo me perguntou. — Sim, estou pronta, espero que seja mais tranquilo dessa vez. Apesar da minha resposta, um arrepio percorreu minha coluna. Nada tinha saído como planejado nos últimos meses; o tempo parecia sempre correr contra mim. Marcus trabalhou incansavelmente enquanto eu adiava por medo, por exaustão, por não estar preparada, a visita à prisão para conversar com João pessoalmente. Mesmo assim, ali estávamos nós, entrando no carro rumo ao fórum, para mais um julgamento que, de alguma forma, ainda fazia parte da minha história. Desta vez, porém, havia algo diferente dentro de mim: uma estranha calma. Não sentia mais aquele terror que me deixara trêmula no julgamento anterior. Só queria que tudo acabasse logo. O advogado havia prometido que seria rápido, menos desgastante, quase um último passo para encerrar essa fase. — Agora é real, amor, acabou. — Ronaldo afirmou, firme, como se quisesse que minhas emoções acreditassem antes da minha mente. — Esp
Foram os quinze dias mais incríveis da minha vida, aqueles que parecem durar uma eternidade e, ao mesmo tempo, passam num piscar de olhos. Dias em que o riso vinha fácil, o coração batia leve e a vida parecia finalmente no lugar. Agora que estávamos quase chegando em casa, sentia minhas forças renovadas, como se a viagem tivesse aberto um novo fôlego dentro de mim… mesmo com a surpresa inesperada que quase virou tudo de cabeça para baixo. Logo pela manhã, antes de embarcarmos no voo de volta, Jake começou a chorar desesperado, um choro diferente, sentido, daqueles que cortam o coração de mãe. Quando encostei minha mão na testa dele, senti seu corpinho quente, quente demais. Ele estava com febre. A partir dali, tudo virou corrida. Entrei em pânico, o medo tomou conta e minha mente só repetia que eu devia ter percebido antes. No hospital, enquanto o médico o avaliava, minha culpa era tão grande que eu quase não conseguia respirar. Era otite. Uma simples otite. Saímos medicados e Jake j
Margarida Uma semana se passou desde que chegamos aqui e, honestamente, eu praticamente me sinto em casa. A cada dia que amanhece, cresce em mim a sensação de que poderíamos morar aqui sem dificuldade alguma. O lugar é perfeito, silencioso, rodeado pela natureza e completamente distante de qualquer vizinho, o mais próximo vive a quilômetros. — O que está achando, Emma? — Ronaldo perguntou. Naquela manhã, estávamos visitando o centro da cidade. Todos os dias, pela manhã, caminhávamos sem pressa, explorando a cultura local, conhecendo os pontos turísticos, provando o clima do lugar. Pela tarde, nos dedicávamos a descobrir cada pedacinho da propriedade: a praia deserta, a casa, o jardim enorme e a vastidão do terreno que parecia rodear a gente. — Muito bom, papai, mas já estou cansada de andar. — falou, dando um sorriso tímido. — Oh, amor, por que não disse antes? Venha cá. — Ronaldo a colocou nos ombros com tanta facilidade que ela soltou uma gargalhada, e a partir daí, tudo virou
Margarida O lugar era completamente incrível. O barulho do mar trazia uma calmaria fácil de se acostumar. Ronaldo estava passando todas as instruções para todos que trabalhariam na propriedade durante aqueles dias, incluindo a equipe de segurança. Depois, Emma e as babás foram para o seu quarto iniciar as atividades. No começo, fiquei insegura em deixar nosso bebê com outra pessoa, mas Ronaldo me convenceu dizendo que seriam apenas algumas horas e logo voltaríamos para casa. Respirei fundo e confiei que eles ficariam bem. Eu estava terminando de pentear meu cabelo quando ele entrou no quarto. — Pronta? — Para você, sempre. Antes de sairmos, ele me beijou apaixonadamente, mas dessa vez havia algo mais ali, um toque especial que arrepiou minha pele. A vista à noite era adorável. A lua iluminando a água dava ao cenário um ar de sonho… um daqueles dos quais você nunca quer acordar. Havia um lençol enorme no chão, comida, vinho, alguns cobertores e travesseiros, além de velas ilumi





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