Vitória é uma enfermeira jovem e batalhadora. Ela vai para um baile na comunidade apenas querendo curtir. Lá acaba se envolvendo e se apaixonando por MJ, ela pensa que ele é apenas um músico, contudo, após um grande engano e da pior maneira, ela vai descobrir que ele é o dono do Morro e que o irmão de MJ, conhecido como Bravo, é o cara mais temido da favela. Vitória vai ser sequestrada e acusada de entregar o comando e sentenciada. Resta saber se MJ irá salvá-la ou ficar do lado de Bravo.
Ler maisMaicon Jhequison, vulgo MJ…
Destruído… miseravelmente fraco. O corpo tremia como se estivesse à beira de um colapso, mas a raiva… ah, a raiva me mantinha de pé. O buraco onde eu estava enfiado era um inferno fétido, cheiro de esgoto, metal enferrujado e sangue velho grudado nas paredes. Eu odiava cada centímetro daquele lugar. Mas o que realmente me deixava puto não era o fedor, e sim a maldita tontura que me fazia ver tudo girar, me sentindo como um covarde à beira do desmaio. Eu só conseguia pensar no Jabá. Quando eu devolvesse a visita, ele ia implorar para morrer. Ia sentir dor, muita dor. Dor suficiente para nunca mais ousar pronunciar meu nome. E, se alguém pensava que eu era fraco, que meu morro estava à venda, ia aprender do pior jeito que MJ não cai fácil. Puxei a mala de cima do armário. As armas lá dentro eram pesadas demais para o meu corpo ardendo em febre, e o impacto no chão ecoou como um trovão. Foi o suficiente para o Zé aparecer, atravessando o biombo feito urubu atrás de carniça, fingindo ser o “pai” preocupado. — Porra, Maicon! Se tu insistir nessa merda, o Quenedi vai ficar puto… e o pior, puto comigo — falou, apontando pra si como se fosse o centro do universo. — Teu irmão falou que não era pra deixar você sair. — JQ, assim como você, não manda em porra nenhuma aqui… muito menos em mim — cuspi, com a voz rouca. — Você foi costurado por uma açougueira, caralho! Olha pra você… febre, dor… vai acabar indo pro saco! Para de ser teimoso! Virei o rosto e o ignorei. Acoplei o kit rajada na 380, sentindo o peso familiar da peça na minha mão. Aquilo me dava mais firmeza do que qualquer palavra. — Filho… — ele disse, calmo demais. Aquilo me irritava profundamente. — Vou ter que avisar o seu mano. — Abre a boca e eu te apago, Zé. Foda-se a promessa que fiz pra minha mãe. Te deixo tão furado que nem vão conseguir abrir teu caixão. Ele engoliu seco, o medo estampado na cara. Saiu do caminho. Eu caminhei pelo corredor fedido, cada passo fazendo a ferida no meu abdômen pulsar e minha visão borrar. O sangue já começava a esquentar minha bermuda. Subi as escadas metálicas, empurrei o alçapão com a cabeça e me arrastei pra fora, sentindo o ar abafado da mata me encher os pulmões. À direita, camuflada por galhos, estava a moto. Arranquei a vegetação de cima dela, subi e parti. O motor rugia, mas cada solavanco da rua fazia minha barriga latejar como se fosse explodir. O cafofo da favela surgiu diante de mim. Um ninho de putaria, droga e ego inflado. Subi os degraus tortos, sentindo as pernas falharem. O proibidão batia tão alto que parecia querer rachar meu crânio. Entrei. Nenhum vigia na porta. Erro fatal. Fui direto pro quarto… e o que vi fez meu sangue ferver. Bochecha Rosa, aquele lixo humano, estava pelado, socando a Victória como se ela fosse um objeto, enquanto os outros a prendiam e empurravam um doce na boca dela. A loiruda lutava, tentava cuspir, os cabelos bagunçados caindo sobre o rosto molhado de lágrimas. — Soltem ela! — minha voz mal saía, e o som ensurdecedor engolia minhas palavras. — Parem com essa porra! Nada. Cães no cio. A música abafava os gritos dela. Meu corpo vacilava, mas minha mão encontrou o peso da arma. A visão se estreitava, mas eu sabia exatamente onde mirar. Firmei a 380. E então, sem dó… larguei o aço. O primeiro tiro estourou o saco do Bochecha Ross. Ele caiu urrando como um porco sendo degolado. O segundo, o terceiro, o quarto… o quarto foi na cabeça de um dos que segurava a Victória, a parede atrás dele recebeu um jato quente de sangue e pedaços de miolo. Outro levou no peito, voando pra trás, derrubando a mesa. O cheiro de pólvora tomou o ar. O som da música se misturou aos gritos. Victória tropeçou pra trás, ofegante, se apoiando na parede. Enfiou o dedo na garganta, forçando o vômito, cuspindo tudo o que podia da droga que fora forçada a tomar. Atirei na caixa de som. O silêncio que veio depois parecia gritar mais alto que o funk. Me deixei escorregar até o chão. O mundo começava a sumir. A voz dela… suave, mas trêmula, chegou até mim como um fio de luz: — Maicon… fica comigo… eu vou cuidar de você. A mão dela pressionava minha ferida com força, enquanto a outra tocava meu rosto. O calor dela afastava o frio que me tomava. — Você salvou minha vida… eu vou salvar a sua também. Só fica acordado… por favor. O toque dela era um paradoxo, delicado, mas firme. Eu encarei aqueles olhos claros, tentando entender se era real ou um delírio. Passei o polegar pelos lábios dela, ainda com gosto de sangue e vômito… e então tudo ficou preto.Maicon Jhequison, vulgo MJAquela noite já estava boa… mas eu queria mais. Queria o golpe final: meu samba entre os três finalistas.A batida da bateria vibrava no meu peito como um tambor de guerra, e o sorriso que a mina me deu lento, convidativo, foi como um estalar de dedos dizendo que a noite ia mudar de rumo.Não sei onde a minha irmã tinha se metido, e pouco importava. Naquele momento, parecia que o mundo tinha se apagado, e só restávamos eu e ela naquela quadra lotada.— Oi, Loiruda… — deixei escapar, com um sorriso, olhando-a de cima a baixo. — Queria mesmo te ver. Não te esperava aqui.— Por que não? É proibido loira no samba? — devolveu, com aquele tom que misturava deboche e curiosidade.— Não. — ri, de forma lenta, carregada de malícia. — É só olhar… tá cheio de loira por aqui. Loira de pentelho preto, mas ainda é loira.O líquido claro que ela segurava no copo oscilou na luz quando levou aos lábios. Justo quando eu ia continuar descrevendo as “loiras de farmácia” que cir
MJ…Calça branca de brim impecável, camisa jeans de manga média, alguns botões abertos de propósito para dar aquele ar de malandro estiloso. Na cabeça, um chapéu de aba curta, adornado com uma faixa verde, representando com orgulho a cor da minha escola. A quadra de samba Faz Quem Pode sempre foi meu território, o meu templo. Era onde eu mais me encontrava comigo mesmo, onde eu podia ser de verdade quem eu era. Ali também estavam as lembranças mais preciosas, talvez os melhores momentos que já vivi, especialmente ao lado da minha rainha.O tráfico me dar poder. Dinheiro para comprar o que eu quisesse, respeito e medo na mesma medida. Mas a música… a música me completava de um jeito que o crime nunca conseguiria. Era ela que me mantinha humano. No meu mundo, não existe retorno. Uma vez dentro, a porta se fecha. Não que eu quisesse sair dele, mas eu queria equilíbrio. Queria, pelo menos por algumas horas, ser só eu, sem o peso do apelido que carregava.Para o Quenedi, meu irmão, isso er
MJA puxava pelas tranças. Assim, não machucava tanto, da última vez que a levei pelo braço, Diana fez tanta força contra mim que o braço magro dela ficou roxo por dias. Parecia até que eu tinha espancado minha própria irmã. Não que alguém tivesse alguma porcaria a ver com isso… mas eu gosto que me temam pelo motivo certo, não por fofoca errada. Pelos cabelos, ela não puxava; vinha andando comigo calada, no passo curto, com medo de desarrumar o penteado.— Me solta, Maicon Jhequison… não vou fugir. — A voz dela veio carregada de desafio, mas baixa.Sem olhar para trás, respondi seco:— Você já me enganou duas vezes hoje. Que tipo de otário eu seria se deixasse acontecer a terceira?— Cadê o educadinho que tava falando com aquela maluca loira vestida de crente, hein? — rebateu, arqueando a sobrancelha. — Já voltou a ser o MJ de sempre?— Nunca fui o MJ com você. — continuei a caminhar, segurando as tranças, enquanto ela se curvava para proteger o cabelo.— Não! — a indignação dela cres
ALGUMAS SEMANAS ANTES...Victória PassaredoA vida nunca foi fácil para quase ninguém, mas a minha ficou ainda mais complicada quando meu pai faleceu e minha mãe decidiu voltar para sua cidade natal com meus irmãos. Apesar de eu ter nascido no Rio, toda a minha família é de lá. O custo de vida em onde minha mãe nasceu seria muito menor do que no caríssimo Rio de Janeiro.Eu, no entanto, resolvi ficar. Aqui estava construindo minha vida. Minha mãe não gostou da ideia de me deixar sozinha na segunda maior metrópole do país, mas acabou concordando. Ela sabia o quanto eu estava focada em me organizar financeiramente e que não me deixaria dominar pelas futilidades da vida. É claro que se divertir faz parte e é saudável, mas não do jeito que Sirley e Brenda faziam.Meus amigos saíam quase todo santo dia. Sirley, que puxava plantão comigo no hospital, parecia ter energia infinita: passava a madrugada na pista e ainda enfrentava 24 horas seguidas de trabalho. Brenda não trabalhava; estudava
Maicon Jhequison, vulgo MJ…Destruído… miseravelmente fraco. O corpo tremia como se estivesse à beira de um colapso, mas a raiva… ah, a raiva me mantinha de pé. O buraco onde eu estava enfiado era um inferno fétido, cheiro de esgoto, metal enferrujado e sangue velho grudado nas paredes. Eu odiava cada centímetro daquele lugar. Mas o que realmente me deixava puto não era o fedor, e sim a maldita tontura que me fazia ver tudo girar, me sentindo como um covarde à beira do desmaio.Eu só conseguia pensar no Jabá. Quando eu devolvesse a visita, ele ia implorar para morrer. Ia sentir dor, muita dor. Dor suficiente para nunca mais ousar pronunciar meu nome. E, se alguém pensava que eu era fraco, que meu morro estava à venda, ia aprender do pior jeito que MJ não cai fácil.Puxei a mala de cima do armário. As armas lá dentro eram pesadas demais para o meu corpo ardendo em febre, e o impacto no chão ecoou como um trovão.Foi o suficiente para o Zé aparecer, atravessando o biombo feito urubu atr
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