Maicon Jhequison, vulgo MJ
Aquela noite já estava boa… mas eu queria mais. Queria o golpe final: meu samba entre os três finalistas.
A batida da bateria vibrava no meu peito como um tambor de guerra, e o sorriso que a mina me deu lento, convidativo, foi como um estalar de dedos dizendo que a noite ia mudar de rumo.
Não sei onde a minha irmã tinha se metido, e pouco importava. Naquele momento, parecia que o mundo tinha se apagado, e só restávamos eu e ela naquela quadra lotada.
— Oi, Loiruda… — deixei escapar, com um sorriso, olhando-a de cima a baixo. — Queria mesmo te ver. Não te esperava aqui.
— Por que não? É proibido loira no samba? — devolveu, com aquele tom que misturava deboche e curiosidade.
— Não. — ri, de forma lenta, carregada de malícia. — É só olhar… tá cheio de loira por aqui. Loira de pentelho preto, mas ainda é loira.
O líquido claro que ela segurava no copo oscilou na luz quando levou aos lábios. Justo quando eu ia continuar descrevendo as “loiras de farmácia” que circulavam ali, ela engasgou. Tossiu, arqueou o corpo, e a bebida escapou pelo nariz.
— Caralho… — dei dois t***s nas costas dela, minha mão firme, quase possessiva. — Tá bem?
— Óbvio que não… — disse entre risos presos e respiração acelerada. — Não dá pra ouvir o que você fala e ficar séria. Vou ter que ir ao banheiro, minha maquiagem deve estar um desastre.
— Só porque eu disse que elas são loiras do pentelho preto?!
Não deixei que saísse tão rápido. Segurei seu braço, puxando-a um pouco mais pra perto, sentindo o calor do corpo dela bater contra o meu. Meu olhar mergulhou no dela, sem pressa.
— Você tá gata… mó gostosa.
Ela engoliu em seco, os olhos fugindo dos meus por um segundo.
— Já volto… — disse, escapando e indo em direção ao banheiro, mas não sem antes olhar por cima do ombro, como se quisesse confirmar que eu ainda estava olhando.
(...)
Quando voltou, a Loiruda não estava sozinha. Uma patricinha simpática vinha ao lado, e um viadinho com cara de que sabia mais do que devia. Ele não tirava os olhos de mim, e aquilo me irritava.
Não que fosse segredo eu ser o dono daquela porra toda, mas eu queria que ela desejasse o Maicon Jhequison… não o MJ.
Diana, minha irmã, me olhava com um ar de desconfiança. Talvez estivesse percebendo que eu não estava no meu papel habitual. Talvez estivesse vendo o verdadeiro eu, aquele que quase ninguém conhece.
Mas aquela não era hora de pensar nisso. O momento era agora, e eles iam anunciar os três sambas finalistas.
(...)
Victória Passaredo
Sempre pensei que me envolver com um cara da favela era loucura. Um risco. Um erro.
Mas ali, olhando pra ele, esse pensamento se dissolvia. Maicon não era só presença, ele era imposição. Tinha algo de selvagem na forma como ocupava o espaço, como se o mundo inteiro se curvasse pra abrir caminho.
Brenda, minha amiga insuportavelmente ousada, já estava soltando frases que me queimavam as orelhas.
— Hoje você não volta pra casa. Vai tirar o atraso. — sussurrou, com um sorriso que só ela sabia fazer.
— Você é doida. Acabei de conhecer o cara. Acha mesmo que vou sair dando pra ele? — tentei cortá-la, mas ela só riu.
— Porque você é trouxa. — ergueu o copo de energético, me encarando com malícia. — Eu comeria esse brownie todinho hoje.
Tentei disfarçar o calor que subia pelo meu corpo só de lembrar do jeito como Maicon tinha me olhado.
Mas Sirley me tirava o foco. Quando a bateria tocava, ele dançava como uma rainha de bateria. Mas quando parava… me lançava um olhar sério, quase preocupado, como se quisesse me alertar sobre alguma coisa em relação a Maicon.
Não queria pensar nisso agora.
E quando o samba de Maicon foi apresentado, tudo ao redor desapareceu. Ele dançava como se tivesse nascido dentro da música. Seus movimentos eram firmes, calculados, e ao mesmo tempo cheios de prazer.
Quando me puxou pela cintura, senti o braço forte me girar, meu corpo obedecendo sem resistência.
Depois, me levou para a parte externa da quadra. Ali, longe da multidão, suas mãos não pediram licença. Uma segurou minha nuca, puxando meu rosto pro dele.
O beijo veio pesado, quente, carregado de um sabor que me tirou o ar.
— Espera… — tentei falar, mas minha voz morreu contra a boca dele.
— Esperar pra quê? — sua voz grave vibrava no meu ouvido, e o calor da respiração me fez estremecer. — Tá com medo de deixar de ser mocinha de família e virar uma mamada da favela?
— Não sei bem o que é isso… mas parece ruim.
— Ruim? — sorriu com um canto da boca, aproximando os lábios do meu pescoço. — Não. Entre quatro paredes, toda mulher deveria ser uma puta mamada. E você… — a mão dele apertou minha cintura com força, subindo pela lateral do meu corpo — … não me engana com esse jeitinho de santa.
Encostou-me contra a parede de concreto, seu corpo prensando o meu.
Uma das mãos subiu para o meu seio, massageando com uma intensidade que me fez arfar. Sua boca alternava entre mordidas no meu pescoço e beijos que quase arrancavam meu juízo.
Eu ia ceder. Sentia meu corpo implorar por mais.
Fui salva — ou condenada — pelo anúncio dentro da quadra.
Ele recuou apenas o suficiente para me olhar, um sorriso orgulhoso surgindo quando ouviu seu nome entre os finalistas.
— Vai estar, tenho certeza. — falei, ainda ofegante.
Maicon me puxou de volta, e a vibração da vitória tomou conta.
Ele tentou me levar pro tal “cafofo” dele, mas eu disse não.
Não porque não quisesse. Mas porque, se fosse com ele… eu queria me perder de vez.
Trocamos números.
E eu já sabia que aquela história não ia terminar ali.